Crie mais do que consome

Esta ótima tradução do Mikael Cho fala de Pirâmide do aprendizado, consumo de maneira atenta e ficar emocional para criar

Algumas noites atrás, fiz algo pela primeira vez na vida.

Escutei um álbum completo ("Magna Carta...Holy Grail", do Jay-Z), da primeira à última música, sem interrupções. Coloquei meus fones, fechei os olhos e somente escutei.

Tenho me dedicado um bocado a ler de maneira mais atenciosa para absorver mais, mas nunca havia tentado isso com música.

Depois de escutar esse álbum, desse modo, pareci me conectar de maneira mais profunda com o trabalho. Pesquisei sobre Jay-Z e escutei o álbum inteiro novamente no dia seguinte.

Essa experiência de conexão profunda foi recompensadora o bastante – mas acabou por levar a algo mais. Me inspirou a escrever esse artigo.

Mesmo que eu não tenha feito nada "criativo" enquanto escutava ao álbum, ele ainda inspirou criação.

É importante sempre criar. Mas integrar doses de consumo cuidadoso é frequentemente parte importante do processo criativo.

O que acontece em sua mente quando consome de maneira atenta

Quando estava na universidade, trabalhei em um centro de pesquisa psicológica sob a direção de uma das 100 pessoas mais influentes segundo a revista Time, Dr. Richie Davidson.

 

Dr. Richie Davidson trabalhando com o monge budista Matthieu Ricard | Foto: Jeff Miller
Dr. Richie Davidson trabalhando com o monge budista Matthieu Ricard | Foto: Jeff Miller

Um dos estudos revisados por nosso laboratório era sobre meditação e como estar no momento diminui o ruído em sua mente, levando a maior pontuação em testes de memória ativa e inteligência.

Quando você se permite imergir completamente em uma experiência, você dá a seu cérebro a chance de fazer conexões mais profundas, aumentando sua habilidade em retomar essas conexões no futuro.

A importância de ficar emocional

Todos nós temos memórias vívidas de certos momentos em nossas vidas. Talvez de uma música em um show ao vivo ou aquela certa coisa que vivemos em uma viagem e nunca mais vamos esquecer.

Essas experiências são memoráveis porque provavelmente te fizeram feliz, triste ou o deixaram com raiva.

Quando você junta emoção a uma experiência, um hormônio que lubrifica as engrenagens de certas reações químicas no cérebro é liberado, bem onde os nervos se reconectam para formar novos circuitos de memória.

 

"Emoções são como sinais de neon dizendo a sua mente: lembre-se disso!"
"Emoções são como sinais de neon dizendo a sua mente: lembre-se disso!"

É por isso que momentos de seu passado que o fizeram realmente sentir algo vêem à tona quando precisa pensar de modo criativo.

Uma experiência que se conecta com suas emoções é mais fácil de ser lembrada.

Se você se colocar disponível para focar de maneira profunda no que está consumindo, estará dando a si mesmo uma melhor oportunidade de se conectar emocionalmente, retendo mais do que consome e usando isso em seu favor quando necessitar ser criativo mais tarde.

A pirâmide de aprendizado: uma técnica para reter 90% do que consome

Já passei por toneladas de tweets, artigos e vídeos pensando estar retendo tudo – sendo que, na realidade, a maior parte do que eu supunha estar aprendendo estava passando direto.

Quando você consome de modo passivo, "escaneando" e logo indo para o próximo tópico, está em desvantagem para aprender.

A pirâmide de aprendizado nos explica que o caminho eficaz para aprender é ensinando outra pessoa ou tentando colocar o que aprendeu em prática imediatamente.

A pirâmide diz que as pessoas vão reter:

  • 90% do que aprendem quando ensinam outro ou aplicam o conceito imediatamente;
  • 75% do que aprendem quando praticam o que foi ensinado a elas;
  • 50% do que aprendem se engajarem em uma discussão de grupo;
  • 30% do que aprendem quando verem uma demonstração;
  • 20% do que aprendem por meio de áudio-visual;
  • 10% do que aprendem por meio da leitura;
  • 5% do que aprendem por meio de uma palestra;
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Taí, desenhamos pra facilitar

É por isso que, não raro, grandes escritores calham de ser grandes leitores. Eles precisam submergir em assuntos específicos para conseguir criar diálogos de significado.

Indíviduos que aprendem por conta própria, também chamados autodidatas, são mestres em reter informação – em grande parte por conta da habilidade de refletir e colocar em prática tanto do que consomem quanto possível.

Leonardo Da Vinci era um autodidata e costumava usar um sistema de ações práticas e recompensas para reter informação.

Essas ações resultavam em erros ao longo do caminho e eram esses erros que solidificariam seus aprendizados.

Como Sean D'Souza, autor do Psychotactics.com, diz:

Escutar ou ler algo é apenas escutar ou ler.
Não é aprendizado real.
Aprendizado real vem de cometer erros.
E erros acontecem quando tentamos.

Como transformar consumo em criação

Ler um livro ou assistir a um filme é uma parte importante de meu processo criativo, mas sempre tento me certificar de estar amplamente imerso nessas experiências.

Aqui estão algumas coisas que têm funcionado para mim ao usar consumo como um combustível para a criatividade.

1. Tome um posicionamento

Ao invés de apenas tentar chegar ao fim do seu feed de artigos que guardou para mais tarde, leia cada artigo como se fosse contar sobre ele para um amigo depois.

Isso é fundamental para reter mais do que consome e absorver informação – ao contrário do que aconteceria se apenas passasse pelo conteúdo, logo clicando em compartilhar ou curtir.

O psicólogo Robert Cialdini usa uma técnica em que pega um pedaço de papel e escreve um sumário de uma página imediatamente após terminar cada capítulo lido.

Pesquisas mostram que essa técnica pode ajudá-lo a reter 50% além do que conseguiria normalmente, mesmo se lesse o mesmo capítulo múltiplas vezes, tentando memorizá-lo.

2. Consuma como se fosse ensinar

Pense que vai precisar ensinar a alguém sobre aquele assunto. Melhor ainda, faça isso.

Quer seja seu filho, sua namorada ou seus pais, compartilhe o que aprendeu e tente colocar em prática.

Ninguém colocou isso melhor do que a Miss Frizzle do "Magic School Bus":

"Arrisque-se. Erra. Faça bagunça!
"Arrisque-se. Erre. Faça bagunça!"

Esse aprendizado por meio da ação e dos erros é uma das principais razões pelas quais estudos sugerem que as pessoas que viajam ou estudam fora tendem a ser mais criativas.

Pesquisadores observaram que as pessoas que estudaram no exterior eram aptas a fazer conexões mentais mais rapidamente, sugerindo que imersão completa em novas experiências pode turbinar sua capacidade criativa.

Nada vai ajudá-lo a absorver mais do que consome do que colocar a mão na massa. É por meio dos erros feitos que o real aprendizado acontece.

3. Procure o inesperado: crie oportunidades para colisão de ideias

Estudos mostram que experiências fora do comum introduzem novas conexões neurais e aumentam as chances de conceitos únicos serem descobertos, à medida em que essas conexões colidem com os pensamentos existentes.

Saia com diferentes tipos de pessoas ou tente coisas que nunca fez antes. Quando conhece novas pessoas ou tenta algo inesperado, um coquetel de ideias explode em sua mente.

Inspiração pode vir de algo tão simples quanto um sinal no muro ou uma interação com um garçom(uma experiência que nunca vai fazer o mesmo sentido se não estiver presente).

Quer seja um jantar com amigos próximos ou uma sessão de cinema noturna, ao se focar em estar presente, seus sentidos podem absorver cada elemento de uma experiência.

Não é necessariamente o que, mas sim o modo como você consome, que faz toda a diferença. Ao invés de lutar para vencer a batalha para consumir o máximo de informação possível, aceite o fato de que já perdeu a guerra.

Isso vai tornar tudo mais prazeroso e, coincidentemente, ajudá-lo a fazer melhores trabalhos.

* * *

Para mais artigos como esse(em inglês), coloque seu email aqui. Ou vá até o blog ooomf.

Nota do editor: esse texto foi originalmente publicado no Medium e traduzido por nós mediante autorização do autor.


publicado em 17 de Julho de 2013, 20:00
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Mikael Cho

Co-fundador do ooomf.com e designer.


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