Anders Behring Breivik. Nascido em 1979, na Noruega.
Oslo, capital do país, 22 de Julho de 2011. Primeiro Ato: 15h20min, uma forte explosão na zona de edifícios governamentais ocorre na área onde fica o gabinete do primeiro ministro da Noruega, Jens Stoltenberg. Cerca de 8 mortos. Segundo Ato: poucas horas depois, na Ilha de Uttoya, Breivik, armado, abriu fogo contra estudantes que faziam um acampamento organizado pela juventude do Partido Trabalhista Norueguês, partido este atualmente no poder. Cerca de 69 mortos.
“Atirador da Noruega, Adolf Hitler e a banalização do mal“. PapodeHomem, abril de 2012.
Já se foram dois anos e a notícia ainda deixa qualquer um em frangalhos. Um ato estúpido com resultado desolador. Após todo esse tempo, parece ter chegado a hora das homenagens.
Para tal lembrança, o artista sueco Jonas Dahlberg irá criar uma obra de arte que consiste em abrir um corte de 3,5 metros na ilha Utøya, onde tudo aconteceu, separando o pedaço da ilha onde o massacre aconteceu do resto de seu “corpo”. A ideia é tentar mostrar a carga de sofrimento dos que estavam no triste episódio e a sensação de separação dos entes queridos envolvidos na tragédia.
Intitulada “Ferida de Memória”, os visitantes poderão caminhar por um trajeto que culminará em um túnel que os levará para a seção que foi cortada. De lá, as pessoas serão capazes de ver os nomes daqueles que perderam suas vidas através de uma janela. Dahlberg disse que a obra será feita para reconhecer uma perda que não pode ser substituída.




Nosso processo com a morte
Mais do que pensar na morte, é o nosso processo com o luto. A perda ou o compadecimento com alguém que perdeu uma pessoa querida. Claro que estamos falando de um evento arrebatador, de um momento da história peculiar e melancólico. Mas me soa pesado em demasia esse simbolismo de corte abrupto e separação e finitude e drama humano de nunca mais se encontrar ou ter novamente experiências com pessoas que se foram.
Eu sempre lidei bem com a morte e com o luto. Não sei explicar como ou de onde, mas nunca me vi como alguém que teria problemas em desapegar desse mundo na hora irremediável ou de fazer perdurar a perda de alguém que amo. Pudera, só fui perder alguém mais chegado por agora, quando se foram meus avôs materno e paterno nos últimos quatro ou cinco anos.
Ver essa manobra toda de fazer alguém percorrer um caminho para ser freada por uma janela e ver, no intransponível outro lado, nome de pessoas que padeceram em um evento dessa magnitude, algo não condizente com o que poderia ser, com ideias que poderiam ser aproveitadas para melhorar a noção que temos da perda e do luto.
Se cercarmos cada pedacinho de terra onde alguém algum dia morreu de maneira trágica, não teremos onde pisar. Se separarmos todas as pessoas que perderam alguém de modo trágico de seu encontro com o luto, teremos apenas pessoas perturbadas perambulando por aí.
A morte e o luto no PapodeHomem
Gostaria de oferecer duas leituras que temos no PdH sobre a morte, uma do Gustavo Gitti e um relato lindo de ler escrito pela Stela Santin, respectivamente:
Só conhecemos uma pessoa quando ela morre
Nunca abraçamos alguém por inteiro — e nem deveríamos tentar. Sua esposa não é sua esposa. Seu namorado nunca foi nem nunca será seu namorado: ele é um homem que está vivendo com você. Conectar-se com essa pessoa livre, não apenas com suas identidades, é o melhor jeito de aprofundar a relação.
Conhecer o outro muitas vezes significa congelar o outro. Se você acha que ela não gosta ou nunca faria tal coisa, espere pelo próximo namorado… Para realmente conhecer alguém, é preciso desconhecê-lo, relacionar-se com o espaço onde surgem suas faces e histórias. Liberar o outro de quem ele é.
Para uma vida plena, lembre-se da morte
Eis que alguma coisa mudou. Meu cotidiano ficou mais leve. Algum colega de trabalho surtava e, miraculosamente, eu não ficava mais tão irritada. Alguém me fechava no trânsito e eu dava a passagem – nem buzinava. Isso tudo porque eu passei a observar por alguns minutos o fato de que os meus dias e os dias de todos estão contados. A contemplação regular desta verdade inexorável enfraquece a seriedade que damos às coisas e nos municia de um olhar mais compassivo e aberto para com o mundo e as pessoas.
(Não preciso dizer que, em alguns momentos, eu esqueço de tudo isso e me vejo desejando coisas bem pouco auspiciosas para as pessoas. Felizmente, esses momentos têm diminuído.)
Fechando, queria saber — de coração — o que pensam sobre luto e morte e homenagens como essa. Conversaremos nos comentários.
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