Coração sofredor

Há algumas semanas conversei com um amigo triste por ter perdido mais um amor.

Aquele velho problema pelo qual nós todos já passamos, das freqüências desalinhadas, dos corações que não batem no mesmo compasso e dos corpos na cama em lados opostos.

Eu sou irritantemente otimista. Normalmente enxergo o lado positivo de um momento indesejado, muitas vezes desrespeitando o sofrimento alheio, que muitos dizem ser um processo necessário. Eu discordo. Na verdade, o sofrimento pode ser vivido, mas eu não acho saudável praticá-lo em primeiro plano. Não com tanta coisa nova (boa ou ruim) para viver. Pasargadismo é para quem não tem tesão de amor.

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All Star Coração Partido. Perfeito pro seu amigo recém-corneado. Demonstra sensibilidade e companheirismo.

O que quero dizer aqui é que eu fiz questão de lembrar o meu amigo que um fim de relacionamento (e aqui não importam os motivos) sempre traz a deliciosa possibilidade de viver novas histórias de amor e paixão e todos os outros sentimentos que vêm de brinde. E ter boas histórias para contar e lembrar é um dos melhores sustentos para a alma.

Sempre que um amor se vai, amadurecemos um tanto, e nosso coração não fica mais duro ou frio, mas sim conscientes dos reveses inerentes a todas as relações, o que pode nos fazer corajosos para amar ainda mais, sem medos ou culpas. Com o coração marcado, sabemos quais são as armadilhas, o que não quer dizer que deixaremos de cair nelas (até porque armadilha é apenas uma conseqüência de prazeres). Mas tudo passa, e quando passa, novas oportunidades e novos sorrisos nascem. Ninguém morre de amor.

O fim, na verdade, é um novo começo para flertar sem culpa, trocar sorrisos e indiretas descompromissadas. E isso pode acontecer com a sua vizinha ou com sua pior inimiga, e tudo ao mesmo tempo. O negócio é permitir-se viver.

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Aproveite uma tarde descompromissada no bar, enquanto pensa sobre a vida.

Provavelmente um dos argumentos que surgirão nos comentários aqui é que o amor perdido muitas vezes é insubstituível. Na verdade, todas as pessoas e as histórias que criamos com elas, boas ou más, intensas ou não, são insubstituíveis. Os prazeres são insubstituíveis, mas também é burrice (e uma bela dose de preguiça) acreditar que somos pouco compatíveis e pouco adaptáveis.

Tudo tem a sua dose de prazer, tudo tem uma história, e tudo acaba. Depende, então, da maneira que desejamos escrever a história e a força que empregada para isso. E com tanta boa história de amor por viver, tantas cenas memoráveis de filme para plagiar ao lado de alguém, tantas canções de amor para dedicar, tantos corpos maravilhosos para foder junto... Tristeza demais cansa.


publicado em 12 de Novembro de 2008, 08:40
Ian black

Ian Black

37 anos, dono da própria vida, do próprio negócio e de 3 cachorros. Mais dele no Facebook e pelo Twitter @ianblack


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