Em um dado momento, pesei as coisas, chequei meus gastos com transporte, vi que gastava uma nota à toa com Uber e táxi e resolvi agir.

É isso, comprei uma bike.

Com a bicicleta em mãos, recebi a visita de um amigo que me apoiou, montando a dita-cuja comigo, me ensinou a andar de forma segura no meio da cidade, ajudou a calcular a rota pra evitar subidas, ensinou a usar aplicativos e indicou acessórios.

Descobri a oficina do bairro, em uma rua bem perto de casa, em um beco sem saída, com uma fachada já marcada pelo tempo. Próximo à porta, um cachorro simpático, desenhado com canetão e um aviso: “volto logo”.

Quem chega, precisa se dispor a bater, como se fazia antigamente, para que o dono, um senhor de camisa azul e calça jeans folgada, já lento e curvado pela idade, guardando o maço de cigarros no bolso venha perguntar o que você quer.

Além dele, que é mais lacônico, há também o dono do velhinho cachorro “Campeão”, sorridente, externando de forma simples a sabedoria que adquiriu com a vida de pedreiro, fazendo perguntas sobre a bike e recomendando cuidado ao andar na rua.

“Avisa os seus amigos, não quero fechar isso aqui” — disse o senhor que consertou a bicicleta do meu amigo, apontando pra porta. Está avisado.

É só ir lá, na rua Monsenhor Marcelo Branco, número 13.

Andando pelas ruas, ainda com aquele cagaço de novato, acabei me deparando com a colaboração dos motoristas, que dão passagem e respeitam muito mais do que, apavorado, eu imaginava.

Tomei café com leite e pão na chapa em um boteco que sempre via, mas que nunca encontrava o alinhamento perfeito dos astros pra eu criar vergonha na cara pra parar por lá.

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Casas floridas, pinturas coloridas, mensagens importantes espalhadas pelos muros, centros culturais, restaurantes que desconhecia completamente, mas que já me propus a visitar. O bairro está cheio de coisa legal.

De carro e mesmo à pé, ou de metrô, eu estava sozinho. Já nas ciclovias, as crianças brincam e acenam. Senhoras simpáticas cumprimentam. Quando dou passsagem, as pessoas agradecem. E eu retribuo sempre que o mesmo ocorre comigo.

Amigos incentivam, perguntam, oferecem-se pra andar junto.

Faz pouco tempo, mas eu até já me sinto mais saudável também.

Quando pensava no assunto, algo em mim sempre me desencorajava. Afinal, o mundo é muito perigoso, os motoristas são loucos assassinos, faltam vias e as que foram construídas na cidade de São Paulo são mal planejadas, repletas de falhas. Você pode ser atropelado, podem te assaltar, o bairro tem muita subida, você vai chegar suado no trabalho.

Mas não.

Comprei uma bike e descobri que o mundo é legal pra cacete.

Sério, vocês deviam tentar.

* * *

Nota: Esse texto foi originalmente publicado no Medium. Volta e meia pretendo colocar alguma coisa mais informal por lá. Se quiser acompanhar, é só me seguir.

Luciano Ribeiro

Cantor, guitarrista, compositor e editor do PapodeHomem nas horas vagas. Você pode assistir no <a>Youtube</a>