Turismo sustentável: como viajar de forma mais autêntica

Imagine-se caminhando pela Floresta Amazônica, com o canto de inúmeros pássaros de trilha sonora. Depois, você embarca em uma canoa de volta para a pousada, uma casinha construída pelos moradores da comunidade para receber os turistas.

Lá, a mesa do jantar serve um fresquíssimo prato de peixe amazônico preparado pelos anfitriões, que o recebem como visita e não como cliente – até te levam à quermesse da pracinha e explicam a história da padroeira da cidade.

Planejar uma viagem assim, para viver o que há de mais autêntico num lugar, é bem possível e pode ser mais divertido do que ficar em um super resort. E se essa viagem causar pouco impacto ao meio ambiente e ainda ajudar a comunidade local a prosperar? Isso é turismo sustentável.

Viajar respeitando a natureza, melhorando a vida das pessoas e estimulando a economia local, tudo ao mesmo tempo. Melhor: sem a urgência de planejar as férias sob a pressão do “vá antes que acabe”. Ao invés de destruir, a sua presença no lugar contribui para preservar o patrimônio cultural e natural da região.

Tumbira, comunidade dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Rio Negro
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Quando você voltar, dez anos depois, talvez não fique decepcionado achando que tudo era tão mais preservado e autêntico na primeira vez em que esteve lá.

A experiência acima existe. Acontece em Tumbira, comunidade dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Rio Negro, a 1h30 de barco de Manaus.

O guia da pousada é o amazonense Cleudilon “Passarinho”, um apaixonado por aves que entra na selva com os turistas e imita à perfeição o canto de pelo menos 37 tipos de pássaros. Ele assobia, os animais respondem.

Além do talentoso guia de trilha, o lugar tem um imenso potencial para se tornar polo de birdwatching. A hospedagem fica por conta da Pousada Garrido, administrada pelo líder comunitário Roberto Mendonça.

Aqui você pode ver um vídeo de três minutos com Roberto, a pousada de Tumbira e Cleudilon em ação – imitando os pássaros, claro.

Link Youtube

Antes do lugar virar reserva, a única alternativa de renda era cortar madeira ilegalmente. Hoje, Roberto percebeu que o turismo de pequena escala e preocupações sustentáveis – como energia solar, descarte correto de lixo e uso de fornecedores locais - pode trazer mais renda, para ele e para toda a comunidade, do que cortar a madeira. A floresta de pé passa a ser mais vantajosa do que a floresta derrubada.

A ONG Garupa lançou em setembro o primeiro portal de crowdfunding para turismo sustentável no Brasil. O site conecta viajantes curiosos a destinos espetaculares com experiências sustentáveis reais.

Quem entra lá pode conhecer detalhes de experiências como essa no Brasil todo, propostas por empreendedores locais que querem melhorar sua operação turística e estão na Garupa em campanha para arrecadar a grana necessária.

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Roberto e Cleudilon, por exemplo, precisam de R$ 19.336,84 para fazer melhorias na pousada e nos passeios, além de criar um guia impresso de aves para consulta dos visitantes e moradores.

Em quase três meses de existência, a Garupa arrecadou mais de R$ 60 mil para seis projetos, doados por quase 300 pessoas.

Três deles foram bem sucedidos: o da Raízes Desenvolvimento Sustentável, com um roteiro de uma semana de oficinas de cerâmica com artesãs talentosas do Vale do Jequitinhonha; o da Associação Mico-Leão-Dourado, que vai reformar o Centro de Visitantes para quem planeja conhecer o mico de perto, em Silva Jardim, no Rio de Janeiro; e o da cozinheira Dona Marília, junto com o Instituto Lassus, que vai reformar seu restaurante caiçara em Iguape, SP, ponto de apoio pra quem visita a Reserva Ecológica da Juréia.

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E só são aceitos na plataforma projetos que se enquadrem nos critérios básicos de sustentabilidade, como baixo impacto ambiental, uso de mão-de-obra e de fornecedores locais, uso consciente dos recursos naturais, promoção e preservação do que é autêntico de cada lugar.

Se curtiu a ideia, dá um pulo no site e escolhe o destino da próxima viagem.

Lembre-se de que a iniciativa só funciona se cada vez mais gente quiser investir diretamente em um modelo de turismo mais bacana pra quem viaja e pra quem recebe o viajante.

Dá para começar a ser um turista sustentável agora.


publicado em 27 de Novembro de 2013, 10:02
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Jennifer Ann Thomas

Londrinense radicada em São Paulo, caiu na estrada como repórter do Guia Quatro Rodas e somou à mescla entre o "érre" de interior e a ascendência britânica os sotaques de norte, nordeste, sul e sudeste do país.


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