Como viajar pelo Brasil sem gastar muito

Toda a organização mínima para viabilizar uma viagem dentro do nosso país gastando o que você pode gartar

Até nossos governantes concordam que é caro viajar pelo Brasil. Eu, que também tenho bolso e bobo não sou, jamais discordaria dessa afirmação. Mas, apesar dos custos mais altos do que qualquer turista gostaria, passei os últimos anos viajando por alguns dos destinos mais desejados do nosso país.

E voltei das viagens com duas certezas. A primeira é que o Brasil é um país incrível, como eu escrevi no primeiro texto deste  percurso. A segunda? Apesar de o custo de uma viagem aqui não ser dos mais amigáveis, é possível conhecer terras verde e amarelas no modo econômico. Em outras palavras, não, viajar pelo Brasil não é necessariamente mais caro que ir para o exterior. Pode acontecer, mas não é sempre assim e nem precisa ser.

Antes de continuarmos, um parenteses. É claro que o tal “modo econômico” (ou o “sem gastar muito”, do título) é relativo. Depende do seu orçamento de viagem, do tempo que você pretende ficar na estrada, do destino escolhido e das escolhas que você vai fazer. Topa ficar em dormitórios de hostels? Está disposto a acampar? Você cozinharia no hostel ou no camping durante as férias? Então sua viagem, claro, ficará bem mais barata.

Noite na Chapada dos Veadeiros, em Goiás

Prefere a privacidade de um quarto só para você? Faz questão de conhecer bons restaurantes? Então seu custo obviamente vai ser maior. Eu fui, durante muitos anos, parte do primeiro grupo de viajantes. Acampei, fiquei em hostels e hotéis, digamos, desaconselháveis, economizei horrores na comida e fiz gambiarras para salvar uns trocados, ao enfrentar horários ingratos de trens, ônibus e aviões.

De uns tempos para cá, no entanto, mudei um pouco o estilo de viagem, embora permaneça com o modo econômico ligado. Vai ver é porque passei da marca dos 30. Ou então porque deixei de ter aquele primeiro emprego pós estágio cujo salário não ajuda. Mas fato é que passei a preferir um quarto privativo de hostel do que um dormitório; uma pousadinha do que as barracas do camping. E os restaurantes passaram a ser atrações da viagem: comer bem e provar todos os sabores locais é muito mais importante para mim hoje do que era há três ou quatro anos. Mas, ainda assim, não me recuso a voltar ao estilo mochileiro caso seja necessário ou caso isso combine mais com determinado destino e aventura.

Meu tempo de viagem também mudou. Em 2012, coloquei uma mochila nas costas e passei 11 meses viajando - e mais tarde fiz viagens longas em pelo menos duas ocasiões. Hoje, quando viajo, fico em média uma semana fora de casa, às vezes mais. Com isso, é claro que vou preferir um pouco mais de conforto. É dentro deste estilo de viagem que sigo atualmente - e que acredito ser a realidade da maioria das pessoas, afinal poder viajar por meses é um privilégio - que escrevo este texto.

Você se encaixa no primeiro estilo de viagem que citei? Então suas férias podem custar bem menos. Gosta de viajar com mais luxo e conforto, ficar em hotéis estrelados e comer só nos melhores restaurantes? Então seu orçamento será muito acima do meu.

Planejamento é a palavra mais importante

Eu moro em Belo Horizonte e preciso estar em Porto Alegre no fim do mês. Por uma série de razões, não comprei as passagens com antecedência. Resultado? O preço médio para o trecho BH - POA, olhando para as datas que preciso, é R$ 500, sem as taxas.

Caro, não? Ainda mais numa semana em que as passagens para a mesma Porto Alegre, para as férias de fim de ano e durante o Natal Luz, em Gramado, estão em promoção: custam R$129, ida e volta. A questão é simples. É que eu deixei para comprar na última hora, então a tendência é pagar mais.

Eu sei que isso é óbvio, mas também sei que muita gente prefere esquecer o planejamento quando se trata de viajar pelo Brasil. Se vamos para fora, planejamos por meses, compramos as passagens bem antes da viagem, reservamos hotéis e até mesmo escolhemos o destino com base em promoções especificas.

Ao viajar pelo Brasil, por outro lado, há a tendência de deixar tudo para a última hora. Não adianta deixar janeiro chegar para dizer que as passagens para Fortaleza ou Salvador durante o carnaval estão mais caras que os tickets para a Espanha - é provável que estejam mesmo.

E se você quer viajar no Ano-Novo, pode ser uma boa começar a procurar as passagens agora, caso contrário a tendência é pagar mais. A mesma coisa vale para hospedagem, principalmente em destinos que você pretende conhecer na alta temporada. Planejamento e antecedência são as melhores saídas para economizar.

Na hora de comprar a passagem

Vista do Cristo redentor, no Rio de Janeiro

Foi assim que, nos últimos anos, comprei passagens para São Luís, Florianópolis, Foz do Iguaçu, Brasília, Palmas, Belém, Porto Alegre, Maceió e Fortaleza, todas partindo de Belo Horizonte. Todas compradas com pelo menos três meses de antecedência. E todas por menos de R$ 250, já com as taxas.

Em geral, eu determino meu destino por conta das promoções. Tenho uma lista mental de lugares que quero conhecer e escolho o próximo destino pelo menor preço. Para não perder as promoções, assino as newsletters de todas as empresas nacionais, entro em metabuscadores de passagens - sites que comparam preços em várias companhias, para uma mesma data - e sigo sites e blogs especializados em promoções de passagens aéreas.

Além disso, faço parte dos programas de fidelidade de algumas empresas e de tudo para acumular milhas, não só de viagens, mas também com gastos de cartão de crédito. Foi assim que consegui resgatar passagens para Noronha por apenas 8 mil milhas + R$ 40 reais de taxas.

No Brasil, os programas de milhagens são o Smiles, da Gol, o Multiplus, da TAM, o Tudo Azul, da Azul, e o Amigo, da Avianca. Leia as regras, avaliações na internet e pense na sua própria situação antes de optar por privilegiar um programa.

O melhor programa de fidelidade pode variar, inclusive dependendo da cidade onde você mora, seus destinos favoritos e a oferta de voos de cada empresa dentro desse contexto. Além disso, há pontos que são essenciais num bom programa de fidelidade e não dependem do contexto pessoal.

Por fim, vale lembrar que nem só de viagens de avião vive o turista em férias. Não importa onde você more, existe um monte de destinos incríveis a algumas horas de você. Belo Horizonte, por exemplo, está a 8 horas de ônibus de São Paulo; 6h30 do Rio de Janeiro e 8 de Vitória. Já fui diversas vezes para esses destinos de ônibus - e todas as minhas últimas passagens por esses estados vizinhos envolveram deslocamentos por terra.

A vantagem do ônibus é que as passagens não variam (ou variam pouco), o que salva aqueles que não se planejaram antes. A mesma coisa vale para outras regiões do país: quem mora em São Paulo não está tão longe assim de Curitiba ou de Florianópolis e várias das capitais do nordeste estão próximas entre si. Também dá para ir de carro, seja dirigindo ou no esquema das viagens compartilhadas, como o BlaBlaCar, serviço tradicional na Europa que recentemente chegou ao Brasil.

E nem falei de cidades menores. A menos de 2h da minha casa estão destinos como Ouro Preto e Inhotim. O que há de legal perto da sua própria vizinhança?

Na hora de reservar a hospedagem

Itacaré, Bahia

A lógica é a mesma da passagem área: planeje-se. Reservar o quarto com antecedência em geral garante economia, principalmente em viagens na alta temporada. Para isso, pesquise preços em diversos sites de reserva online, como o Booking, o Hoteis.com, o Kayak e o Hostel Bookers, entre outros.

Assim como as empresas aéreas fazem promoções, os hotéis e hostels também abaixam os preços. Basta saber como procurar. Sites de reservas de hotéis permitem que você filtre a busca apenas para estabelecimentos com diárias em promoção para aquele dia. E sempre é possível tentar preços bons ao reservar diretamente no site do hotel.

Mas a dica mais importante é outra: esteja aberto para diversas opções de hospedagem. A pessoa que está disposta a ficar num hostel, em Londres, pode ser a mesma que faz questão de ficar num resort all inclusive no nordeste. A escolha é válida, mas só não vale reclamar do preço depois.

Houve um tempo em que se hospedar em hostels, no Brasil, era mais caro que ficar em hotéis e pousadinhas - passei por isso durante o primeiro mochilão que fiz na vida, pelo nordeste, em 2010. Hoje, no entanto, isso está um pouco melhor. Já é possível achar diárias econômicas em hostels Brasil afora, o que compensa bastante, principalmente para quem viaja sozinho.  

Se ficar em quarto coletivo não é para você, pesquise os preços de pousadas, apartamentos e casas. Airbnb é uma ótima alternativa, mas lembre-se que hoje existem outros sites que fazem a mesma função - pesquise em todos. E não descarte a possibilidade do CouchSurfing. Você não paga nada e ainda conhece pessoas interessantes.

Comida e atrações turísticas

Mercado Ver o Peso, em Belém do Pará

Comer bem não significa comer em restaurantes famosos ou caros. Algumas das melhores refeições que fiz foram em casas de moradores locais que resolveram abrir suas cozinhas para turistas. Esse modelo, comum nas chapadas e no interior do Brasil, por exemplo, rende experiências incríveis.

A comida de rua é outra opção. E pesquisar é sempre a melhor saída para comer bem gastando pouco. Deixe para decidir onde vai ser a janta na hora que a fome bater e você acabará comendo no primeiro lugar que encontrar pela frente. Alternar boas refeições com dias de lanches no hotel - ou cozinhando você mesmo - também ajuda a economizar.

E o gasto com atrações turísticas e passeios não pode ficar de fora do orçamento. Não dá para ir aos Lençóis e não gastar para conhecer as dunas; não dá para passear pela Chapada dos Veadeiros e evitar os gastos para conhecer várias das cachoeiras da região. Se você já foi até lá, gaste.  

Por outro lado, também não é preciso fazer tudo: leia, pesquise e pense quais atrativos você realmente quer conhecer. Sabe aquela história que diz quem vai a Roma e não vê o Papa não esteve em Roma? Mentira das grandes. Você pode ir ao Rio mil vezes e não ir ao Cristo; pode visitar Gramado dez vezes e ignorar dezenas de museus temáticos e atrações. O único programa obrigatório é o que você quer fazer, não aquele que é popular nas redes sociais.

E o gasto médio, qual é?

Bonito, no Mato Grosso do Sul

Já coloquei na ponta do lápis o meu gasto em vários destinos do Brasil. E embora existam lugares em nosso país que merecem ser definidos como caríssimos, tipo Noronha e Bonito, por exemplo, muitos outros não são assim.

Na maioria das vezes, uma viagem com duração entre 7 e 10 dias, para uma pessoa, custa em média R$ 1500, incluindo tudo. E para ficar em hotéis e pousadas, não em dormitórios de hostels; para variar refeições em bons restaurantes com comidas mais simples; para fazer quase todos os passeios que você escolher.  Foi isso que gastei nos Lençóis Maranhenses, em Gramado, em Jericoacoara e na Amazônia, por exemplo.

Sim, eu sei que essa quantia não é pouco dinheiro -  principalmente no recente contexto econômico e levando em consideração o salário médio por aqui. Mas foi o que falei no começo do texto: tudo depende do seu estilo de viagem. Quer gastar menos? Fique em hostels, faça deslocamentos por terra, use e abuse das viagens e hospedagens compartilhadas e prove comida de rua.

Eu já passei 40 dias viajando pelo Brasil num modelo mais mochileiro de ser e gastei o mesmo valor que hoje gasto numa viagem de 10 dias (no máximo). São escolhas e estilos diferentes.

Quer ideias de roteiros de viagens pelo Brasil? Esse será o tema do próximo texto desse percurso aqui no Papo de Homem.


publicado em 17 de Agosto de 2016, 00:10
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Rafael Sette Câmara

Virou mochileiro ao mesmo tempo em que se tornou jornalista. Desde então, se acostumou a largar tudo para trás - inclusive empregos - e cair na estrada. Ele escreve sobre viagens no 360meridianos, mas pode ser encontrado também no Facebook e no Instagram.


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