Como viajar mais, passo-a-passo | Dicas pra quando você já estiver na estrada

Por mais planos e estudos que façamos, por mais informações que tenhamos, na hora do vamos ver bate o friozinho na barriga. Como se virar?

Ainda com sono, você sai do avião, pega as malas na esteira de bagagem e lida com o primeiro desafio da sua viagem: como faço para sair do aeroporto e chegar no hotel? Se você fez o planejamento direitinho, provavelmente saberá a teoria – se o melhor é ir de transporte público, contratar um transfer ou de táxi.

Mas mesmo que você saiba o caminho, será preciso lidar com a situação na prática. Pedir informações, ler placas, entender mapas, enfim, dominar e contornar o problema. Viajar de forma independente é um desafio. E, quando a viagem é para o exterior, esse desafio ganha outro componente: o idioma.

Cheguei, e agora?

Como farei para me comunicar lá fora?  

Muita gente tem medo de viajar por conta do idioma. Ou melhor, pela falta dele. Se você fala inglês, então seus problemas diminuem consideravelmente. Mas não acabam. Embora seja fácil encontrar quem fale esse idioma em boa parte do mundo, há países onde isso é mais complicado. Há lugares, principalmente os menos turísticos, onde pouca gente fala a língua da rainha.

Por outro lado, o problema fica grande mesmo é quando a pessoa não fala inglês. Dá medo. Tem quem desista da viagem. Num caso assim, o que fazer?

Mímica. Use toda sua capacidade de gesticular para contornar o problema. O importante é não ter vergonha e/ou medo de parecer esquisito. Isso vale tanto para quem não fala inglês quando para quem até fala, mas está conversando com alguém que não domina o idioma.

Além de colocar em prática tudo aquilo que você aprendeu jogando Imagem & Ação, há outras que são interessantes:

Para almoçar, procure restaurantes que tenham fotos das comidas. Não é incomum.

Ao chegar no hotel, peça um cartão de visita do estabelecimento. Isso é importante em qualquer situação, mas ainda mais caso você esteja num país onde as pessoas falam um idioma que você não domina. Ou, mais complicado ainda, num país que usa outro alfabeto. Com o cartão de visita você terá o endereço e o nome do hotel – caso você se perca, mostre o cartão para alguém e peça ajuda.

Se você ficar muito nervoso antes da primeira viagem, pode valer a pena começar o roteiro por países com idiomas parecidos com o nosso. Por exemplo, você entra na Europa pela Espanha e já treina sua mímica com um pouquinho de Portunhol. E só depois segue para países como França ou Inglaterra.

Não torça o nariz para viagens de excursão. É melhor viajar em grupo do que não viajar.

Tenha em mente que você não precisa ter a melhor gramática e nem dominar completamente o idioma para viajar. Na realidade, o que você precisa é saber o básico, tipo expressões como “quanto custa?” ou “onde fica?”. Antes da viagem, reserve um tempo para estudar isso.

E, acima de tudo, não tenha vergonha de falar errado. Você não tem a menor obrigação de dominar o idioma, mas conseguirá se comunicar com um pouco de esforço. E muita mimica. Conheço gente que passou meses viajando. E com inglês basicão.

Outra coisa que pode valer a pena fazer é estudar o mapa da cidade antes da viagem. Veja o local do seu hotel, saiba o que tem próximo dele e pense em como você fará para se locomover. O Google Maps e o Google Street View permitem essa ambientação prévia. Ao chegar no aeroporto, procure pelo setor de informações turísticas e pegue um mapa da cidade.

Visualize sua rota imaginária e siga caminho, meu amigo

É possível reservar hotéis que tenham funcionários que falam português. Essa informação costuma estar disponível no site do estabelecimento ou no site onde você fizer a reserva. Sobre esse assunto, leia o relato "Como viajar para o exterior sem falar inglês", onde há dicas de quem faz isso com frequência. E supera todos os problemas.

O que farei em cada cidade?

Essa é outra coisa que você pode determinar bem antes de sair de casa. Para isso, leia. Não faltam sites e blogs com dicas do que fazer durante a sua viagem – e isso para praticamente qualquer lugar do mundo. O TripAdvisor também ajuda na tarefa, ao fazer um ranking com as atrações de cada lugar, organizado pelas avaliações de vários viajantes.

Mas não se limite a rankings assim. A Torre Eiffel pode até ser a maior atração de Paris e o Cristo pode ser o cartão-postal do Rio, mas isso não significa que você tenha obrigação de incluir esses lugares no seu roteiro. Por outro lado, pode ser que um passeio muito legal não receba o destaque que merece. Ou que uma atração que a maioria das pessoas não gosta tanto assim, mas que é a sua cara, não apareça num top 10 de determinado lugar. O importante é conhecer suas opções e escolher aquilo que você realmente quer fazer.  

Mas, se for à Torre Eiffel, não esqueça o pau de selfie

O problema de não estudar isso antes é a possibilidade de perder um passeio por falta de planejamento. Por exemplo, caso seja preciso reservar seu ingresso meses antes, no caso de atrações mais concorridas.

Além disso, outra dica que pode facilitar sua vida é comprar alguns ingressos antes da viagem, principalmente para aquelas atrações que têm a fama de criarem filas enormes. Com o ingresso online você evitará a fila, ganhando tempo.

Por fim, lembre-se que não é preciso ver tudo. Você não precisa entrar em todas as igrejas góticas, não precisa bater cartão em todos os museus, não tem que ficar neurótico para conhecer todos os ângulos de uma cidade. Faça as coisas que você quer, no seu ritmo e assumindo que será impossível ver tudo. Se sobrar tempo, ótimo, basta incluir outras coisas na programação.

Controle o ritmo de viagem

Por falar nele, é sempre bom destacar: cuidado para não puxar no ritmo da viagem. Eu sei que essa é sua viagem dos sonhos. Eu também faço questão de não perder um minuto sequer, também quero aproveitar ao máximo. Mas puxar no ritmo pode prejudicar sua viagem.

No meu primeiro mochilão pela Europa, passei cinco dias inteiros andando sem parar por Roma. Acordava cedo, dormia tarde, bebia todos os dias e ainda percorria a cidade inteira a pé no dia seguinte. Não demorou para chegarem a dor nos pés e o sono.

Eu já falei sobre as vantagens de viajar devagar na hora de montar o roteiro – é prudente evitar colocar muitas cidades num pequeno espaço de tempo. A mesma coisa vale para decidir o que você fará com seu tempo em cada cidade. Monte um roteiro equilibrado, que te permita dormir bem, relaxar e se divertir. E não fique chateado caso você não consiga fazer tudo que gostaria. Isso é apenas um motivo para voltar.

Cuidado com o choque cultural

Mesmo o país mais parecido com o nosso pode causar choque cultural. E, acredite, ele tem potencial de estragar viagens. Pode ser a forma como as pessoas se comportam, o horário de funcionamento do comércio ou o jeito de se vestir. Se você estranhar algo, a ponto de se sentir incomodado, repare se a mesma situação causa incômodo nas pessoas ao seu redor. Se não causar, pode ter certeza: a pessoa fora do padrão é você, que acaba de conhecer o choque cultural.

Uma vez, viajando pela Tailândia, tivemos problemas por conta do tom de voz do nosso grupo de amigos. Gente feliz, afinal estávamos viajando por um dos países mais desejados do mundo, fala alto, ri, grita e se diverte. Mas falar nesse tom não é comum para o povo tailandês, o que pode gerar problemas.

Já na Índia, o choque cultural é quase obrigatório e onipresente. Tudo – do estilo de vida ao espaço pessoal – é diferente. E encarar essas diferenças causa impacto. Mas esse impacto também pode te pegar enquanto você estiver viajando pela França, pelo Estados Unidos, pela Inglaterra ou qualquer lugar. Até dentro do Brasil.  

O estranho pode ser você

Caso se encontre com ele, respire fundo e tente controlar a perplexidade.  Uma vez que você passar pela fase da aceitação, a regra básica para lidar com o choque cultural é simples: não julgue o comportamento de outras pessoas pelas regras que você está acostumado a aplicar em sua própria vida.

O mundo pode até parecer uma grande aldeia global, conectado pela internet do Brasil ao Japão. Mas o mundo continua grande. Enorme. E cheio de diferenças.

E são as diferenças que enriquecem a viagem, ampliando a nossa forma de ver o mundo e nos dando oportunidade para crescer. Isso pode acontecer meses depois da viagem, quando você voltar para casa e pensar no que viveu – e o que mudou – após a sua aventura. Se isso acontecer, agradeça ao choque cultural.

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publicado em 16 de Setembro de 2015, 00:00
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Rafael Sette Câmara

Virou mochileiro ao mesmo tempo em que se tornou jornalista. Desde então, se acostumou a largar tudo para trás - inclusive empregos - e cair na estrada. Ele escreve sobre viagens no 360meridianos, mas pode ser encontrado também no Facebook e no Instagram.


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