Como ser mais criativo em cinco passos simples

Quantas utilidades você pode pensar para um clips de papel em três minutos?

Quantas utilidades você pode pensar para um clips de papel em três minutos?

Se você está na média, provavelmente conseguirá desenvolver em 10 ou até 20 usos diferentes. Eu pensei em 11. O teste do clips, de certa maneira famoso, foi criado em 1967 por J.P. Guilford como uma medição de pensamento divergente. Faz parte de avaliações conhecidas como “testes de uso alternativos”, que medem a criatividade.

O exemplo acima mostra um exercício comum de desenho incompleto. Esse teste pede ao participante que complete a figura em cada janela. É outro teste de pensamento divergente, quanto mais criativo você for, mais interessantes serão os resultados (veja abaixo).

Com frequência a criatividade é vista como algo que ou você nasce com ou nunca terá. Mas isso não é totalmente verdade. De acordo com um estudo feito por Harvard, criatividade é, em 85%, uma habilidade aprendida. Isso significa que podemos melhorá-la. A questão é: como?

O que exatamente é a criatividade?

É difícil definir criatividade. Na maioria das vezes, você só sabe quando a vê. Maria Popova, o gênio criativo por trás do BrainPickings.org, fala que a criatividade é a habilidade de conectar o desconectado — é a junção do conhecimento existente com novos insights sobre o mundo a nossa volta. Essa definição parece englobar todos os componentes principais da criatividade, mas podemos ir um passo adiante.

Em O DNA do inovador: Dominando as cinco técnicas de inovadores desordeiros, os autores Jeff Dyer, Hal Gregersen e Clayton Christensen destrincham a criatividade em cinco elementos.

  • Associação

É a prática de conectar os pontos entre duas ideias aparentemente desvinculadas. É a arte de tirar inspiração e insights de uma área e aplicá-los em algo completamente diferente. Sr. Richard Branson, fundador do Virgin Group, acredita tão ardentemente nessa ideia de associação que ele a tornou parte do DNA de sua empresa. Branson emprega a sigla ABCD for “Always Be Connecting Dots”, em português “Sempre Esteja Conectando Pontos”.

  • Questionamento

Curiosidade é um elemento bastante arraigado em todas as profissões criativas. Indivíduos altamente criativos e inovadores sempre estão perguntando por que e o que, e quase nunca aceitam o mundo pelo que ele é. Leonardo Da Vinci acreditava profundamente nos poderes da curiosidade e seus efeito na criatividade. Ele escreveu entre os seus rascunhos e diagramas mais famosos: “Vaguei pelo campo buscando respostas para as coisas que eu não entendia”.

  • Observação

Em seu livro Gênio: Como pensar como Sherlock Holmes, Maria Konnikova enfatiza a importância de observar seus arredores num nível mais profundo. Para ilustrar o poder da observação, ela relembra a história de quando Holmes pergunta ao seu parceiro Watson quantas degraus tem a escada que conecta um cômodo da casa a outro (um caminhos que ambos percorreram milhares de vezes). Quando Watson anuncia que ele não sabe, Holmes responde:

Você não observou. Mesmo que você os tenha visto. Esse é o meu ponto. Agora, eu sei que são dezessete degraus, porque eu tanto vi quanto observei.

  • Networking

Isso não se trata de apenas expandir seus contatos no LinkedIn ou o porta-cartões corporativos em sua mesa. Networking envolve expandir sua bolha para incluir indivíduos e ideias de todos os âmbitos da vida. Indivíduos criativos não se atém somente a sua especialidade. Eles estão constantemente tentando coisas novas.

  • Experimentação

Para construir ideias únicas, você precisa se aventurar para fora de sua zona de conforto e experimentar novas ideias e formas de trabalhar. O Google criou o conceito de “tempo 80/20”, permitindo que os engenheiros se dedicassem a algo de sua preferência por 20% do tempo de trabalho. O conceito se espalhou para outros empresas, como LinkedIn e Apple. Elas entendem que a criatividade não acontece do nada. Ela exige trabalho. Não é o suficiente só querer ser criativo, você tem que ir atrás disso.

Seu plano de treinamento

Agora sabemos o que cria a criatividade, mas como exatamente nos tornamos mais criativos? Nós definimos cinco práticas que incentivam sua mente a pensar fora da caixinha e a reunir mais ideias do que você achou que era possível.

  • Treine seus músculos criativos

“Ideias são como coelhos. Você pega um casal, aprende como lidar com eles, e um tempinho depois você tem uma dúzia.”

John Steinbeck

Assim como fazer musculação na academia, exercitar seus músculos criativos exige tempo e energia. É necessário um esforço diário para forçar sua mente a pensar originalmente. James Altucher tem uma prática diária para ajudá-lo a gerar 3.650 ideias únicas todo ano. Todo dia ele senta e escreve dez ideias sobre quaisquer coisas, de premissas de livros a planos de negócios.

O ato de gerar ideias novas diariamente treina seu cérebro para explorar com frequência o original e o novo. Isso não só cultiva a criatividade como também mantém sua mente afiada. Quando fazemos algo novo, isso ativa, no cérebro, um sinal de que estamos aprendendo, o que nos faz liberar dopamina em nosso sistema. Dopamina é o neurotransmissor que faz com que nos sintamos bem e é um elemento-chave no processo de aprendizagem. O ciclo de recompensa é excepcionalmente poderoso. Essa motivação excitante e encantada pode te ajudar a acessar reservas criativas que você nem sabia que tinha.

  • Distraia-se com frequência

A grande maioria das ideias surgem na minha mente quando estou fazendo o jantar. Há algo mágico sobre comida, boa música e uma taça de vinho. Você provavelmente tem um gerador de ideias similar. Pode ser enquanto você está correndo ou quando está tomando banho — isso não é uma coincidência.

Quando estamos distraídos, não estamos pensando na solução de um problema em particular ou refletindo sobre o próximo grande artigo. De acordo com Shelley H. Carson, autor de Nosso cérebro criativo: Sete passos para maximizar a imaginação, produtividade e inovação em sua vida, a distração fornece o ambiente perfeito para a criatividade:

Uma distração pode fornecer a pausa que você precisa para se livrar da fixação numa solução ineficaz

Focar-se de maneira muito intensa num problema usa praticamente todos os seus recursos cognitivos. Quando você recua um pouco e faz algo mundano ou repetitivo, você alivia sua carga cognitiva, o que pode te ajudar a achar a solução que você está precisando em primeiro lugar. Você precisa dar ao seu cérebro espaço para ser criativo.

  • Mude seu ambiente

Você provavelmente nunca explorou a cozinha de um restaurante chique ou procurou saber sobre o encanamento que liga um consultório ao oceano. Mas, quando você viu os filmes da Pixar Ratatouille e Procurando Nemo, as respectivas cenas ainda aparentavam autenticidade. As dicas de cozinha de Colette para Linguini e a viagem de Nemo até o consultório do dentista pareciam reais. O sentimento não foi criado por puro acidente.

Para conseguir criar experiências realistas, os diretores da Pixar se aventuravam fora do local de trabalho para se imergir no ambiente que eles estavam, tentando construir. Para Ratatouille, isso significou duas semanas na França explorando a culinária. Para Procurando Nemo, o grupo fez uma viagem até uma estação de tratamento de esgoto em São Francisco para melhorar seu entendimento sobre sistemas de drenagem.

Você talvez não consiga ir a França, mas sair do seu ambiente diário pode ser o que você precisa para provocar seu pensamento criativo. Uma pesquisa sobre morar no exterior demonstrou que se imergir numa cultura diferente pode te tornar mais criativo. Por quê? Pode ser devido a maneira que o cérebro precisa se adaptar para viver em um país completamente diferente. Seu cérebro é forçado a fazer novas conexões e ver coisas com uma perspectiva diferente, o que pode aumentar a criatividade.

A maioria de nós não pode simplesmente arrumar as coisas e ir morar fora sempre que precisarmos ser criativos. E está tudo bem, porque você consegue incentivos similares ao reservar um tempo fora do trabalho. Quando você tira férias, sua mente é capaz de desalojar ideias que estavam presas dentro dela. Novamente, seu cérebro precisa de espaço para explorar, ele precisa de novos ambientes a fim de expandir sua visão e entendimento do mundo. Às vezes, basta um novo CEP para que as correntes criativas fluam.

  • Ajuste a sua agenda

Eu sou uma pessoa matutina, e gosto de achar que penso melhor com uma xícara de café antes do sol nascer. De acordo com um estudo recente, nós talvez estivéssemos melhor se tentássemos inovar no período oposto do nosso ritmo circadiano (o relógio interno que decide se você é uma pessoa matutina ou noturna). Os pesquisadores explicam:

Somos menos focados nos períodos fora de pico, e podemos considerar um espectro maior de informações. Esse escopo mais largo nos dá acesso a mais alternativas e interpretações diversas, portanto estimulando inovações e insights.

Quando você está trabalhando fora do seu período de pico (mesmo quando está sonolento ou bêbado), seu cérebro é um pouco mais desorganizado. Ao invés de um padrão de pensamento linear que você adota quando está funcionando normalmente, os pensamentos se dispersam pelo cérebro e você cria conexões entre ideias subconscientemente. Uma pesquisa sobre artistas de rap freestyle mostrou que esse mesmo estado de mente alterado ajuda-os a se tornarem gênios musicais no estúdio de gravação.

Você não precisa mudar toda sua agenda para se forçar a ser uma pessoa noturna ou a levantar junto com o primeiro raio de sol. Mas sair de sua rotina ocasionalmente talvez seja o interruptor que você precisa para agitar sua mente com um punhado de boas ideias.

  • Torne-se um iniciante

“Na mente de um iniciante há muitas possibilidades, mas na dos especialistas há poucas.”

Mestre Zen Shunryo Suzuki

Se você pratica a sua arte por um certo período de tempo, você provavelmente não se consideraria um iniciante. Falta entendimento aos iniciantes, eles não sabem exatamente o que estão fazendo ou o que são capazes de verdade. Esse tipo de mentalidade, no entanto, talvez seja exatamente o que você precisa.

O budismo zen chama isso de Shoshin ou mente de iniciante. Há uma variedade de componentes, mas a essência é que você pode ser benéfico fazer algo completamente estranho a você e estar aberto a novas atividades. Isso te força a voltar a ser um iniciante, seguindo instruções, não sabendo as respostas, e ocasionalmente se sentindo frustrado.

Os benefícios aqui são duplos. Primeiro, iniciantes tendem a ser mais abertos a novas ideias e explorar caminhos alternativos para resolver problemas. Em segundo lugar, a disposição para tentar coisas novas é um benefício essencial para a criatividade. Uma pesquisa mostrou que indivíduos rico em aventuras tendem a ser pensadores divergentes melhores. Se você não tem certeza por onde começar, tente esse exercício simples do Matt Cutts. Só escolha algo novo e tente por 30 dias.

É importante para o corpo e para a mente que você continue a se desafiar constantemente. Isso não só ajuda a manter sua mente afiada à medida que você envelhece como desencadeia um potencial que você nunca soube que tinha.

O que parece ser uma característica capciosa inerente apenas à inovadores famosos é, na verdade, um músculo que você só precisa exercitar para torná-lo mais forte. Independentemente do quão não criativo você acha que é, ainda há esperança. Qualquer um é capaz de imaginar o novo iPhone ou retratar a próxima Monalisa. Só requer esforço.

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Traduções é uma série sob curadoria de Breno França publicada semanalmente às quartas-feiras.

A dessa semana foi publicada originalmente em inglês no já recomendado blog da Crew e traduzido para o português por Julia Barreto.


publicado em 19 de Abril de 2017, 00:05
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Jeremy DuVall

Guitarrista, empreendedor, aficionado por códigos livres, desenvolvedor de softwares, amante de café, geek e fitness. Pode ser encontrado no Twitter.


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