Como saber se a sua melhor decisão é realmente a melhor?

As melhores escolhas são sempre as suas (ou pelo menos para você naquele momento específico). É o que diz a microeconomia.

Entrei na faculdade com os meus míseros 18 anos, sem ter a menor noção do que eu queria da minha vida. Achava que queria fazer Administração numa faculdade difícil, mas no fundo eu queria mesmo sair da casa dos meus pais e vir morar em São Paulo. Fazer cursinho era um ótimo pretexto na época.

Depois de um ano, percebi que não conseguiria passar por aquelas aulas de novo, caso o pior acontecesse, e resolvi prestar economia também, com o intuito de pedir transferência interna. Era uma forma de eu diminuir a chance do pior cenário acontecer, já que economia era bem pouco concorrido. Mais tarde eu aprenderia que economia também fala muito disso: incertezas e retorno esperado.

E o que eu estava fazendo, no fundo, era tomar uma decisão econômica.

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Ah, a indecisão das mulheres...

E adivinhem? Passei no vestibular, só pra economia. Escutei muito da minha mãe que isso era profissão de homem, com perfil competitivo e que gostam de números e que eu não serviria nunca pra isso. Se fosse assim, eu não serviria mesmo. Mas eu fui. O meu custo emocional de continuar no cursinho sem nenhuma certeza era muito alto. Eu preferi continuar na minha estratégia: a da transferência. Até que eu tive a primeira aula de economia.

Eu nunca tinha aberto um jornal na seção financeira na minha vida. Achava chato, não entendia nada. O que mesmo eu estava fazendo ali? Até que a criatura que estava em pé na minha frente, conhecido como “professor”, vira e fala o seguinte: tudo na vida é economia. Dá pra se aplicar economia em qualquer coisa que você queira.

Resolvi prestar atenção na aula a partir desse momento, duvidando e torcendo o nariz. Na minha cabeça já pensei: “Nerd maldito, nunca deve ter comido alguém na vida dele ou tomado um porre na vida”. É, eu era meio rebelde e cética com os meus digníssimos 18 anos. Acabei mudando de ideia sobre transferir meu curso pra administração depois das aulas daquele “nerd maldito” quando percebi que ele tinha razão.

"There is no free lunch"

Naquelas aulas aprendi que todas as escolhas da nossa vida irão envolver custos de oportunidade. Custo de oportunidade é o valor que atribuímos a nossa próxima melhor alternativa àquela que fizemos. Simplificando, é tudo aquilo que você abre mão de fazer para fazer outra coisa.

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Você teve aula de microeconomia na pré-escola?

Por exemplo, quando você fica no escritório até tarde está abrindo mão de ficar com a sua família ou perdendo o futebol com os caras que você não vê faz tempo. Ou quando você dá uma desculpa boa pra não ir naquela reunião chata do outro lado da cidade, você está deixando de fazer moral com o seu chefe. Ótimo, eu estava começando a entender do que economia se tratava.

Uma frase famosa do Milton Friedman, que foi Nobel de Economia em 1976, é “There is no such thing as a free lunch”. E o que isto quer dizer? Que não importa o quanto você está pensando levar vantagem em determinada situação, existe algum tipo de custo envolvido. Não há almoço de graça!

Você pode pensar num almoço que lhe oferecem de graça. Aquele cara que trabalhou do seu lado há dois anos atrás o convida para um almoço com tudo pago. Você perguntaria: qual é o custo disso? O cara vai pagar meu almoço e ele nem é meu chefe, que só me convida pra almoçar quando quer que eu trabalhe inclusive na hora do almoço. O seu custo é o custo de oportunidade em deixar de almoçar e sair mais cedo, terminar de ler aquele seu livro, ou mesmo almoçar em outro lugar com outra pessoa.

Para cada uma das coisas que você escolhe, você está deixando de escolher milhares de outras. Não poderia ser diferente considerando que os recursos são escassos, ou seja, que você tem restrições na sua vida: sua renda não é infinita; seu dia só tem 24 horas; você não consegue ver ao mesmo tempo um filme pornô, a final do campeonato e aquela comédia romântica com a sua namorada; você não consegue transar com a loira, a morena e a ruiva de uma só vez (OK, talvez você consiga, mas com 10 de cada uma você seria um homem morto).

Para ganhar dinheiro, basta pedir. O que você faria?

No início desse ano, procurando fatos interessantes para ter história para contar aos meus alunos (pois é, hoje sou eu quem deve ser chamada de “nerd maldita”), me deparei com esse texto do blog do Freakonomics, e acessei uma pesquisa interessante feita na Inglaterra, em 2008.

A pesquisa foi feita por um site britânico que compara preços de produtos, o www.moneysupermarket.com. O objetivo primário era olhar para a inércia das pessoas em tomar decisões financeiras, querendo provar que os britânicos não estavam dispostos a dar pequenos passos para mudar sua situação. Mas encontraram resultados bem mais interessantes.

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"Se você me pedir uma nota de 5 libras, você ganhará uma"

O experimento foi o seguinte: colocaram um cara com uma placa oferecendo 5 libras para quem parasse e perguntasse sobre o dinheiro. Somente 28 pessoas de mais de 1800 pegaram o dinheiro.

Perguntaram para as pessoas por que elas não pararam para pegar o dinheiro e a maioria das respostas foi de que elas imaginavam que havia algum truque ou pegadinha por trás daquilo (porque não acreditavam no "dinheiro de graça") e outras responderam que o esforço de parar para perguntar e tentar entender o que estava acontecendo não valia as 5 libras.

As duas respostas mostram que as pessoas tomaram decisões econômicas ou porque acreditam que não existe nada de graça (e, neste caso, o conceito econômico está internalizado) ou porque o custo delas era maior que o benefício que aquela quantia traria. Leia o release completo do experimento.

Custos de oportunidade e incertezas

Como saber se a sua melhor decisão é realmente a melhor decisão e não aquilo que você deixou de fazer? Como eu sei se o tal do custo de oportunidade é alto demais para eu abrir mão de certas coisas em troca de outras?

Quando você pede demissão de um cargo bom, numa empresa estável para ganhar menos da metade do seu salário e fazer aquilo que você sempre teve vontade, você tomou uma decisão econômica. Muita gente te chamaria de louco e diria que felicidade e liberdade nunca pagaram conta de ninguém. Mas ela faz todo o sentido do mundo.

Economistas assumem que as pessoas tomam decisão comparando o benefício marginal com o custo marginal. Isso só quer dizer que você pensa nos retornos – monetários e não monetários – e naquilo que você vai ganhar, como vai ficar mais satisfeito; e compara com os custos que você terá em tomar aquela decisão, ou seja, o seu custo de oportunidade. Se os benefícios – monetários e não monetários – daquela decisão forem maiores que os custos envolvidos naquela decisão, você dá sua cara a tapa e parte pra outra.

Claro que se fosse assim tão simples poderíamos tomar qualquer tipo de decisão só olhando para benefícios e custos. E é então que entram as incertezas.

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Tarefa simples: encontre o ponto preto... Tem certeza?

Você não sabe se o país vai entrar em crise amanhã (talvez o Google saiba!), se daqui 3 meses você mudaria de área ganhando o dobro e nem se tudo aquilo que você sonhou é realmente da forma que você esperava. As incertezas existem em tudo e em todo lugar.

Na medida em que muda o tipo e a quantidade de informação que você tem, você pensa nos seus benefícios e nos seus custos de forma diferente. Você se ajusta às suas expectativas, ao que você acha que vai ou não acontecer.

É o que acontece quando você quer mudar de emprego. Não existe um emprego perfeito, mas claramente existem empregos melhores e piores para você. Quando você para de procurar? Quando o que você encontrou parece melhor do que aquele que você certamente quer largar e melhor que todos os outros que você acha que tem no resto do mercado. Mas você nunca terá certeza, é claro. E é por isso que você para de procurar: o custo de continuar procurando se torna alto demais diante daquele que você acabou de encontrar.

Então, todas as suas escolhas são as melhores no momento em que você as faz.

Porém a vida é cheia de incertezas e muda tudo muito rápido pra você tentar saindo por aí fazendo previsões. Não que economistas não gostem, eles adoram! Só que eles sempre dirão que existe certa probabilidade das coisas acontecerem de forma diferente. E aí está a graça da coisa.

Pois é, isso de ver mercados se movimentando em qualquer lugar às vezes atrapalha. A maioria das pessoas acha que é coisa de gente esquizofrênica ou efeito de alguma droga forte.

Mas eu ainda acho alguma graça em sair por aí fazendo relações dos conceitos econômicos com aquilo que aparece pelo meu caminho.


publicado em 21 de Setembro de 2009, 14:49
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Mariana Hauer

Mariana Hauer é economista pelo Insper Ibmec São Paulo, mestre em Economia Aplicada pela UFRGS e jura que não gosta tanto assim de Economia. Prefere as conversas de bar e de corredor às seções financeiras para os exemplos de suas aulas.


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