'Estou fotografando tudo o que acho bonito' – como você reage ao ouvir elogios genuínos?

Shea Glover registra as expressões de jovens ao serem elogiados e publica um dos vídeos mais empáticos que a internet compartilhou na última semana

Há um caminho relativamente comum pelo qual seguimos até a vida adulta – desde o início da nossa socialização, ainda na primeira infância, quando fazemos sentido de que há algo além de nós, até as trilhas pela escola e a constatação de que esse além pode, muitas vezes, ser um tanto hostil.

Tenho forte impressão de que a idade nos torna cada vez mais céticos e desacreditados da própria palavra humana. A desconfiança é, na vida adulta, uma virtude.

É por isso que o vídeo que tá circulando pela internet há alguns dias é, no mínimo, interessante: durante a construção de um projeto fotográfico, Shea Glover filma a reação de seus fotografados quando escutam que são bonitos.

O processo aconteceu num colégio de ensino médio, um dos ambientes potencialmente mais crueis por qual um jovem médio necessariamente passa.

Enquanto assistia, me propus o desafio de interpretar expressões e listar todas as emoções que visse traduzida nos rostos. Vejo nesse exercício uma variação do já proposto aqui de colocar-se em outra pessoa.

Acredito que expandir a capacidade de entender o mundo de outro alguém e suas reações pode ser parte de um processo de transformação. Nos tornamos mais preparados para administrar nossas relações com o outro, entender conflitos que inevitavelmente surgem e direcionar nosso próprio comportamento pra vias mais responsivas, que produzam resultados melhores e trocas mais harmoniosas.

O que mais vi no vídeo foram as expressões de surpresa, que podem significar que estamos sempre de guarda alta, esperando o pior, e o acolhimento e carinho nos pega de supetão – triste. Os risos de vergonha também são bem frequentes e um sinal de que coisas boas assim nos acontecem tão pouco que nem sabemos como agir. Muitas vezes, nem acreditamos que essas atitudes possam ser genuínas, como nos casos dos risos de descrédito.

Reações e sentimentos ruins também afloraram, das mais leves estratégias de autodefesa, como o esforço pra parecer indiferente diante de quaisquer comentários, até a mais completa agressividade, que denuncia uma necessidade de autopreservação tão grande que só pode ter sido construída em cima de experiências passadas traumáticas.

Colocaram um sorriso no meu rosto as expressões de esperança – os olhos brilhantes, a boca curvada pra cima, em aprovação da atitude –. E são lindas as gargalhadas sinceras de quem pôde experimentar alegria pura e sentir-se abraçado pela câmera e por Shea.

Foram oito as sensações que consegui ler. Proponho continuarmos a prática em modalidade conjunta: espero nos comentários as percepções de vocês pra aumentarmos o repertório e exercitarmos o olhar pelo mundo.

Pra quem prefere a eternidade das imagens congeladas, aí vai uma pequena galeria.

Para ler mais sobre empatia

Exercer a não-opinião | Exercício de empatia, 6

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Quando uma flor é a causa da guerra

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publicado em 07 de Dezembro de 2015, 18:01
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Marcela Campos

Tão encantada com as possibilidades da vida que tem um pézinho aqui e outro acolá – é professora de crianças e adolescentes, mas formada em Jornalismo pela USP. Nunca tem preguiça de bater um papo bom.


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