Ajudei um amigo e me ferrei. Como nos proteger dos sentimentos nobres?

Todos já passamos por isso. Um amigo deu o passo maior do que a perna e agora pede socorro.

Todos já passamos por isso. Um parente próximo está afundado em dívidas e precisa de ajuda para fugir dos altos juros do cartão de crédito. Um amigo deu o passo maior do que a perna e agora pede socorro.

Aquela oportunidade única de trocar nosso carro quase novo por um muito melhor e mais caro mas que baixou tanto de preço com o desconto do IPI... A grande verdade é que existem inúmeros motivos nobres para nos separar do nosso suado dinheirinho.

Responsabilidade pessoal

Algumas pessoas simplesmente não aprendem. Entra ano, sai ano e elas repetem sempre os mesmos erros. Há poucos meses li o desabafo enviado por um leitor de um jornal local:

Sou formado em computação, ganho R$ 7000 por mês, e possuo muitas dívidas. A culpa é da minha esposa que gasta muito todos os meses, assim como eu. Tenho R$ 18.000 de dívidas no cartão de crédito que minha mãe ajudará a pagar para evitar os juros enormes que eles querem cobrar. Não sei mais o que fazer para melhorar a situação...

Veja o absurdo da situação.

O cara ganha um excelente salário, muito acima da média salarial do país, mais do que ganham seus pais, que se esforçaram para pagar um curso superior para que ele pudesse arranjar um bom emprego, como realmente arranjou e ainda assim tem a cara de pau de pedir dinheiro para a mãe, que teve que tirar esse valor de suas economias para a velhice, apenas para que ele evitasse de pagar os juros altos da dívida que ele mesmo adquiriu!!! Onde fica a vergonha na cara?

Não bastasse o surrealismo da situação, o sujeito ainda culpa a mulher por ser como ele, descontrolada. Então o que temos são duas pessoas que apesar de juntos ganharem mais do que ganha 90% da população brasileira, estão completamente quebrados, endividados, falidos.

E a cereja sobre o bolo é ver a cegueira da mãe que simplesmente raspa suas economias e passa a mão na cabeça do filho, vítima, coitadinho, da gana da administradora de cartão de crédito, como se ele não fosse o único responsável por suas próprias dívidas. São pais e mães assim, que não impõem limites a seus filhinhos mimados, que ajudam a criar pessoas fracas como esse rapaz, privilegiado e que ainda assim, não tem onde cair morto.

Oh não! Perdi tudo!
Oh não! Perdi tudo!

Cada um no seu quadrado!

Temos que assumir a consequência de nossos atos. Gastou mais do que pode, problema é teu camarada. Te vira! Vai faltar dinheiro para pagar as contas? É hora de começar a cortar. Os gastos, não os pulsos :-)

Um simples orçamento doméstico pode ajudar a resolver essa situação.

Explico.

Simplesmente liste todas as suas contas mensais fixas em uma folha de papel. Some tudo e torça para dar um valor menor do que seu salário líquido. Pensou que acabou? Tem mais. Sabe aqueles gastos de início de ano? IPTU, IPVA, material escolar se você tiver filhos, seguro do carro. Some tudo, divida por 12 e coloque junto na lista de suas contas fixas mensais. Seu carro é financiado? Joga a prestação lá na listinha. Costuma tomar cerveja com os amigos todas as sextas-feiras? Listinha pra eles também (a cerveja, não os amigos).

Passou do que você ganha líquido todo mês? Volta para a lista e começa a cortar os supérfluos. Simples assim. Somente desta maneira podemos saber se estamos vivendo dentro do nosso padrão de vida ou acima dele. E eu ainda nem comentei dos 10% que você usa para pagar primeiro a si mesmo.

E você me pergunta: e eu com isso? Sou uma pessoa equilibrada.

O grande problema de ser uma pessoa equilibrada no meio de milhares de inconsequentes é que os equilibrados se destacam. Todos sabem quem somos. E nos momentos de aperto, correm a nós.

Então chegam os pedidos de empréstimo que nunca serão pagos. A ajuda para dar um presente ao filho. Uma mãozinha para apagar um incêndio. Afinal temos tanto, porque não ajudar?

Não podemos ceder por dois grandes e simples motivos. Por nós e por eles. Por eles é simples de explicar, eles precisam passar pela privação, pela dor e pela vergonha da dívida. Precisam ter seus nomes no SPC e Serasa e todos seus créditos cortados. Precisam pagar pelos seus erros sentindo na pele as suas consequencias para, quem sabe assim, entender quais foram seus erros e finalmente buscar a solução definitiva para não repetí-los.

E não podemos ceder por nós mesmos. Para juntar esse dinheiro que temos aplicado, nossa reserva, nosso colchão, seja o nome que dermos a ele, não foi por mágica que conseguimos. Tivemos que abrir mão de muitas coisas que poderíamos ter feito com o dinheiro se não tivessemos o objetivo de poupar para nosso futuro. Quem nos pede esse dinheiro é simplesmente muito cara de pau.

Devemos lembrá-los de que enquanto torravam tudo o que tinham e até o que não tinham naquela viagem a Europa bancada pelo cartão de crédito, nós nos contentávamos em ir até Buenos Aires e guardar o restante do dinheiro para ir a Europa quando conseguirmos ter juntado o suficiente para pagar a viagem à vista. E que esse dinheiro que não gastamos realmente ainda existe, mas o nome dele é NOSSO, não DÍVIDAS DOS OUTROS.

A droga das emoções...

Esse é o drama. Não gostamos de ver parentes e amigos passando por dificuldades quando tudo está azul para nós mesmos. Mesmo sabendo que a culpa deste sofrimento é toda deles. Então mais uma vez, pela última vez, abrimos mão de nossos sonhos, de nossas reservas, de nossos planos para o futuro e emprestamos o valor necessário para quem precisa.

Sabendo que não estamos ajudando ao resolver o problema por eles, que não os ajudamos a crescer como pessoas responsáveis ao passar a mão sobre suas cabeças e apagar seus erros com nosso dinheiro. Mas fazemos mesmo assim. Fazemos com amigos, com parentes próximos, com filhos. É instintivo, fazemos de tudo para não ver as pessoas que gostamos sofrendo. Até mesmo transferir para nós este sofrimento.

Precisamos nos proteger, meu caro

"Motivos nobres, investimentos bloqueados." Esse deveria ser o real título deste artigo.

Muitas vezes deixamos de crescer o tanto que poderíamos porque nossas emoções nos traem e fazem com que joguemos contra nós mesmos. Sendo assim, conhecendo essa fraqueza de coração, precisamos nos proteger. Note que não estou dizendo para sermos frios, cruéis e insensíveis. Só estou dizendo que não podemos ser penalizados pela falta de bom senso dos outros. Claro que se um amigo estiver passando por dificuldades reais, como uma doença, perda do emprego ou algum motivo pelo qual não tem culpa, nós devemos ajudá-lo das formas que pudermos. Até porque sabemos que se esta for a situação, provavelmente receberemos nosso dinheiro de volta quando a situação voltar ao normal.

Pessoas responsáveis também passam por dificuldades de vez em quando. Mas estas costumam ser rapidamente resolvidas e não costumam ocorrer novamente.

Eventualmente temos de colocar as despesas em dia
Eventualmente temos de colocar as despesas em dia

O que podemos fazer?

Já sabemos o que fazer. Precisamos nos proteger de nós mesmos, de nosso bom coração. Precisamos de um investimento mensal automático. Algo que nos faça pagar a nós mesmos primeiro, todos os meses.

Mais que isso, precisamos de um investimento que não seja simples de sair, um investimento onde nosso dinheiro fique bloqueado. Note que aqui não estou falando das reservas de emergência, que precisam ser líquidas e disponíveis a qualquer momento, estou falando daqueles valores que guardamos para nosso futuro, que juntamos para construir nosso patrimônio, nossa segurança financeira, nossa aposentadoria tranquila.

As características que buscamos então se resumem a apenas duas:


  • pagamento mensal obrigatório;

  • dinheiro bloqueado por tempo indeterminado;

Coloquei as características em itálico pois na verdade nós mesmos é que definimos a obrigatóriedade e o bloqueio por tempo indeterminado. Sabemos que temos a escolha de parar de pagar quando quisermos e de reaver nosso dinheiro. Pode até não ser no mesmo dia em que decidimos isso, mas sempre há alternativas de saída.

Pra fazer na prática:

Vou deixar aqui três sugestões simples de implementar as idéias expostas.


  • Comprar moedas de ouro;

  • Fazer um plano de previdência complementar;

  • Investir em imóveis.

Vamos analisar cada uma dessas alternativas:

Comprar moedas de ouro é uma alternativa divertida de juntar dinheiro. Há moedas feitas especialmente para este fim, como os Krugerrand da África do Sul, as Maple Leaf do Canadá ou as Phillarmoniker austríacas. Essas moedas são cunhadas em grandes volumes e por este motivo não possuem valor de coleção. São vendidas com um pequeno prêmio sobre o valor do ouro contido nelas. É uma excelente alternativa para quem tem o virus de colecionador.

Depois de um tempo juntando dinheiro desta forma, você pode vender as diversas moedas adquiridas ao longo de algum tempo e então adquirir um imóvel para alugar, por exemplo. Eu sou um desses que possuem o tal virus de colecionador, tenho minhas moedinhas de ouro bem guardadas no cofre do banco.

Aprenda a investir
Aprenda a investir

Fazer um plano de previdência complementar também é uma boa escolha, mas neste caso apenas se você puder se beneficiar das vantagens fiscais disso. Com os planos VGBL esse costuma ser o caso da grande maioria das pessoas. Informe-se com seu banco, mas lembre sempre de estudar o assunto previamente para não correr o risco de adquirir gato por lebre.

Investir em imóveis é o investimento mais tradicional das pessoas que realmente possuem dinheiro em grande quantidade. Um imóvel é algo físico, real, que podemos tocar com nossas mãos. O problema dos imóveis é que não dá para adquiri-los com as economias de um ou dois meses. Precisamos guardar o dinheiro durante algum tempo até juntarmos o valor necessário. E mais que isso, guardar sem nos dar a oportunidade de gastar esse dinheiro antes de ter o suficiente para a compra. Por isso sugeri a aquisição das moedas de ouro antes de falar dos imóveis.

A maioria das pessoas não conhecem moedas de ouro e resolvem essa parte da equação através de um financiamento imobiliário. Eu, como todos aqui já sabem, prefiro fazer isso de outra maneira.

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Agradeço a todas as pessoas que têm escrito contando suas histórias pessoais e os desafios que precisam vencer todos os dias rumo a uma vida financeira mais estável, tranquila e folgada. Convido a escrever sua história nos comentários, caso tenha uma para compartilhar com os demais leitores.

Grande abraço e muito sucesso.


publicado em 11 de Março de 2009, 21:01
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Fabricio Stefani Peruzzo

Fabricio Stefani Peruzzo é empresário e investidor. Financeiramente independente desde os 35 anos, ajuda as pessoas na trilha da independência financeira e construção de patrimônio. Saiba mais em http://www.peruzzo.org e http://www.investimentoemimovel.com.br


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