Como foi sair do armário | Caixa-preta #12

Danilo Gonçalves contou pra gente sobre o processo de se assumir gay para a família e para os amigos

Link do Youtube

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Ah, o armário! Existe uma sensação de proteção enquanto se está lá dentro. Uma magia que nos afasta do mundo. É como se, uma hora ou outra, tudo fosse se transformar, e a gente finalmente fosse parar de ser quem o nosso coração diz que somos. 

Mas lá também tem escuridão e trancas. Há pouco espaço, porque o armário é sempre apertado. Pequeno, daqueles que fazem você se contorcer todo. Uma prisão. 

Há falta de ar e um tampão na boca.

Dividindo esse ambiente, há os que fingem não estar no armário, os que de vez em quando olham através da fechadura, os que nem sabem que estão presos e os que estão a um passo de se libertarem. Porém, é um desafio comum a todos que compartilham a estadia conviver com as próprias inseguranças.

O medo de decepcionar a si mesmo e à quem você ama é constante.

Como eu escrevi em um outro artigo aqui no PdH, o simples ato de pensar, falar baixinho e reconhecer internamente que aquele molde homem+mulher não cabe em quem você é, já é um pesadelo dos grandes. Porque você sabe que vão querer te fazer caber lá. E não há nada de errado em ser hétero: mas não deveria haver nada de errado em não ser. 

Assim, sair do armário envolve, antes de mais nada, lidar com o fato desse armário estar fechado. Ou seja, de que você vai precisar entender e conversar com si próprio ali, sozinho, trancado, para só depois enfrentar o turbilhão de reações que virão quando a porta do armário finalmente for aberta. 

E foi mais ou menos esse o tom do papo com Danilo Gonçalves, 12º entrevistado do Caixa-preta, que contou pra gente sobre como sua homossexualidade foi recebida, seja pelos amigos e família, seja por ele mesmo.

Relato sincero, feito de peito aberto.  

O registro em vídeo trouxe cara e coração a uma conversa que já havia começado algum tempo antes por aqui. Publicado em agosto de 2016, o primeiro artigo escrito por dois autores no PapodeHomem teve a participação de Danilo, nosso entrevistado, e Rafael Nardini, seu amigo. A construção conjunta aconteceu para dar vazão aos dois lados que envolvem a saída do armário: o de quem conta e o de quem recebe a notícia. O resultado foi o artigo "Como foi me assumir gay para os meus amigos" e "Como reagi quando meu amigo contou que era gay", dá uma olhada em um pedacinho dele:

Como foi me assumir gay para os meus amigos, por Danilo Gonçalves

"Ninguém! Eu disse NINGUÉM merece viver na escuridão. Muito menos na escuridão de si mesmo. Quando criança, eu não conseguia entender direito isso que, hoje, já me é tão claro. Um amigo, gay também, sempre nos conta que não se lembra, na vida inteira, de já ter sentido alguma atração por meninas. Eu me “traí”, digamos assim, até os 18 anos. Namorei três garotas (de uma sou até padrinho de casamento) dos 15 até a maioridade. Não que eu não tenha gostado delas, gostei muito, como ainda acredito poder me apaixonar por uma mulher algum dia. Afinal, não sabemos absolutamente nada sobre o futuro.

Recordo-me claramente de sempre, desde as minhas primeiras lembranças, ter achado homens bonitos, gostado de “coisas de menina” (tidas ou impostas como, digo). Na pré-escola, eu sempre optava por ser o papai na brincadeira de casinha das minhas colegas. E de sofrer quando a professora me pedia para ir brincar um pouco com os meninos(?). Na adolescência, quando a cobrança pelo primeiro beijo é grande, vi-me coagido a ficar com uma menina então. Passa o tempo, e a gente não aguenta. Para uns a luz vem mais cedo, mas não é para todos."

Por aqui, deixo meu sincero agradecimento ao Danilo, por expor suas feridas e ajudar a curar as de outras pessoas. Deixo também meu gliter e meu abraço apertado a todos e todas que já passaram ou vão passar por essa experiência. 

Seguimos sendo quem verdadeiramente somos, e a boa notícia é que há muita coisa bonita para ser vista do lado de fora do armário.

Ainda bem! :)

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Algumas sugestões de vídeos:

Também tenho algumas sugestões de leitura para quem quiser, vem ver:


publicado em 25 de Maio de 2017, 10:00
Foto jpg

Carol Rocha

Leonina não praticante. Produziu a série Nossa História Invisível , é uma das idealizadoras do Papo de Mulher, coleciona memes no Facebook e horas perdidas no Instagram. Faz parte da equipe de conteúdo do Papo de Homem, odeia azeitona e adora lugares com sinuca (mesmo sem saber jogar).


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