Como economizar o combustível do seu veículo

Acredita-se em mandingas de toda sorte: banguela, desligar A/C, abrir os vidros, levar somente passageiros no banco traseiro direito e sempre colocar a sogra no porta-malas.

Imagino que vocês já tenham suspeitado que algumas dessas sofisticadas técnicas esotéricas de gestão de combustível possuem eficácia um tanto quanto duvidável.

Todos já ouvimos algumas dessas técnicas "não ortodoxas" para economizar combustível. A nova geração de motoristas tende a entender que quando a luz da reserva acende é melhor seguir para o posto mais perto ao invés de tentar um saravá mecânico. Entretanto, converse com seu avô e pergunte quais truques de economia de gasolina eram utilizados em seu tempo.

Sério, faça isso e depois venha aqui nos contar o que ele disse. Esteja sentado, vai ser uma descontração um tanto imprevista.

A razão para uma maior circulação de crenças e mitos à respeito desse tema entre motoristas “sêniors” não é tão estapafúrdia na verdade. Os carros eram outros e os motores não eram os mesmos de hoje.

O grande diferencial em relação ao gerenciamento de combustível ontem e hoje foi o upgrade de carburação para injeção eletrônica.

 

A injeção eletrônica

 

Sim, essa foto é apenas para você continuar lendo o post

Injeção, o demônio encarnado. Não gosto. A vejo como um ente malígno que tomou as rédeas do nosso controle fino sobre o comportamento do motor de nossos automóveis. Dizem que funciona. Dizem que é perfeita. Dizem que não erra como nós errávamos por não sabermos usar corretamente um carburador. Dizem que é superior em tudo. É verdade que meu carro com motor 1600 carburado faz 7 km/l e meu outro com motor 1600 injetado faz 12 km/l. Mas me reservo a torcer o nariz mesmo assim.

A injeção eletrônica presente no seu carro hoje se trata de um computador que avalia a quantidade de ar na admissão a partir de seu filtro de ar e então calcula quanto de combustível que será necessária para manter a mistura correta dentro dos cilindros. A proporção de ar e combustível é determinada pela taxa de compressão de seu motor calculada a partir do volume de seus cilindros e consequentemente da profundidade de seu cabeçote (a tampa dos cilindros).

E além dos sensores constantemente monitorados, seu automóvel gerencia a quantidade de ar/combustível a admitir em determinada rotação através do mapa da curva de rotação previamente programado pelo engenheiro mecânico que poderia estar com preguiça, deprimido ou embreagado no dia em que gravou o código lá. Seu motor em condições de manutenção correta sempre irá admitir a quantidade perfeita de ar e combustível visando a melhor relação economia/performance pensada para a categoria de seu veículo.

Em resumo, não há muitos truques para se economizar combustível quando dirigimos um automóvel injetado.

Ele vai fazer o que o mapa mandar a partir das informações extraídas dos sensores. A injeção não erra. Faz o que foi programada para fazer. E se você não gosta, até injeção programável há no mercado para você desenhar seu mapa na garagem de casa.

 

O carburador

Link YouTube | Tem ou não tem carburador nessa porra?

Eu sou fã do carburador. Sou um Engenheiro da Computação que não gosta tanto assim de computadores. Vi como eles são feitos e confesso que também fazemos gambiarras eletrônicas em qualquer projeto. Um sistema computadorizado com seus milhares de transistores e componentes eletrônicos traz à tona uma série de agentes de interferência tal como intempéries do tempo, má vontade divina ou presença de murphy. Embora me digam que a injeção eletrônica está lá sempre funcionando com 100% de precisão, quem me garante que os sensores pelos quais ela se baseia estão 100% calibrados para as condições normais de temperatura, pressão e política da minha cidade/bairro/rua em específico? Sou cético. Por isso tenho minhas dúvidas.

Por isso, possuo também um automóvel carburado. Explico o complexo funcionamento do carburador

 


  • basicamente um copo sobre o coletor de admissão é responsável por despejar o combustível lá para dentro

  • dentro desse copo há uma tampa - a borboleta - acionada pelo cabo do pedal do acelerador

  • você pisa um pouco e uma extremidade da borboleta desce um pouco enquanto a outra sobe

  • passa um pouco de combustível

  • você enfia o pé, a borboleta abre completamente deixando seu motor se embebedar com toda gasolina que consegue beber


  •  

Ponto final. É idiota de tão simples. E funciona.

Se algo errado acontecer na admissão de combustível só há umas 3 peças em que eu tenha que revisar o funcionamento. Só eu acho a simplicidade a última das sofisticações?

 

Curva Torque x Potência

Sabendo a diferença principal entre automóveis antigos e modernos é fácil perceber que hoje você exerce um papel menor no gerenciamento da quantidade de combustível a ser admitida pelo seu motor. Antigamente pisando menos você abriria menos a borboleta do carburador consequentemente gastando menos combustível. Hoje em dia, pisar menos ou mais nem sempre é o fator determinante na economia.

De acordo com as características de performance pensadas para a categoria do seu carro, o mapa codificado na sua injeção eletrônica será adequado às faixas de rotação em que você necessitará de mais rendimento. A maioria das fichas técnicas dos automóveis traz um gráfico com uma curva de torque x potência. Para entender como seu motor funciona você precisará aprender a ler esse gráfico.

No ponto onde você identifica o pico de torque seu motor passará a subir de giro com mais ímpeto até o ponto onde encontra pico de potência. É a faixa de rotação em que você sente uma voadora nas costas. Fora desses picos seu motor não é projetado para performance. E como todos sabemos que cavalo que corre come, analogamente se seu cavalo não precisar correr não irá comer.

É perigoso dizer que a velocidade em que seu automóvel mais irá economizar combustível na estrada é 90 km/h. A velocidade em que você terá maior economia será aquela na qual a marcha de economia engatada estará em uma rotação afastada do seu pico na curva de torque.

Caso a explicação ainda não esteja clara, deixem suas dúvidas nos comentários, ok?

 

Cuidado com os vampiros de potência!

 

Resumindo: tem que saber a hora de abusar

Todo carro possui alguns vampiros de potência, componentes que requerem energia proveniente de seu motor para seu correto funcionamento.

Um exemplo é o ar-condicionado. Vários fabricantes acionam o compressor do ar-condicionado através de uma polia ligada à engrenagem do motor que ultimamente chega na árvore de manivelas. Em resumo, seu compressor precisa usar seu motor para trabalhar. É uma carga a mais, um peso a mais. Rouba potência, em geral em torno de 4% a 7%. Quanto menor seu automóvel, menor o compressor. Infelizmente também, menor o motor com raras exceções.

Carros pequenos então tendem a gelar menos e mais devagar. A culpa é dos motores de dentista que caso fossem acoplados à um compressor parrudo, mal fariam as rodas girarem. O que quero dizer é que seu compressor rouba potência e consequentemente gasta combustível. Se for maior, gasta mais. Por essa razão quando passar calor devido à ineficiência do seu ar-condicionado no próximo verão infernal pense positivo e lembre-se que “ao menos não estou gastando tanto combustível quando aquela madame com cara de conforto nessa SUV e seu compressor superdotado aqui do lado”.

Aumentar o volume do rádio pode de fato gastar mais combustível. Sério. O seu sistema elétrico é alimentado por uma rodinha que gira causando atrito entre espiras de uma bobina e então produzindo energia. O sistema chamado de alternador fica acoplado ao seu motor através de um eixo. Em muitos automóveis o eixo também está acoplado através de uma polia. Quanto mais usa energia, mais o alternador gira, mais rouba potência. Embora nem todos automóveis modernos trabalhem assim, vários populares o fazem.

Consulte o manual pois se você possui sistemas de som pesados com todo o tipo de parafernália eletrônica o frentista pode simpatizar com seu carro tanto quanto simpatiza com aquele V8 da fotografia de freguês do mês.

 

Bolodórios

Link YouTube | Sempre vai ter alguém pra falar no final: "eu não avisei?"

Ainda lembro quando perguntei ao meu pai se abrir os vidros aumentava o consumo de combustível. Ele respondeu “não me venha com bolodórios”. Mas faz sentido. Se você correr contra o vento, uma força contrária lhe servirá de obstáculo. Cansa mais. Se você correr com um paraquedas aberto então, sacanagem total. Se os vidros estiverem abertos o arrasto sobre o ar produz arrasto sobre o carro tal como com o paraquedas aberto. O carro consome mais para compensar essa força adicional sobre o mesmo.

Uma análise feita pelo famoso programa Mythbusters americano comprovou que acima de 80Km/h o consumo adicional causado pelos 4% roubados pelo compressor do A/C é menor do que o causado pelo efeito para-quedas. Na dúvida, feche os vidros e ligue o ar-condicionado. Espero ver menos motoristas na estrada com o braço para fora naquele calor infernal depois de lerem isso.

Outro bolodório é a velha banguela, ou desengatar o carro para economizar combustível. As injeções eletrônicas implementam dois mecanismo chamados de cut-off e WOT. Eles agem de acordo com o 1 ou 0 do seu pedal de acelerador, isto é, pé no fundo ou pé fora. Quando você enfia o pé o sistema entende que é para o cavalo correr e então escancara totalmente as borboletas de admissão, o WOT, tudo aberto. Quando você tira o pé o cut-off corta totalmente a injeção de combustível senão o estritamente necessário para o motor não apagar. Economia máxima. Por que diabos você continua desengatando a marcha então?

Não esqueça que no dia em sofrer um abalroamento por trás com a marcha desengatada seu automóvel ira parar lá na... frente.

 

Câmbio automático é coisa de rico?

 

Sirizinho na manopla: nunca sai de moda

Os pé-de-boi brasileiros são automóveis com câmbio manual enquanto na maior parte do planeta a maioria dos veículos já trazem câmbio automático em todo segmento de modelos. Dizíamos que gostávamos de manual para sentir la macchina e etc. Bolodórios denovo. Não somos entusiastas como os italianos e garanto que você que dirige seu popular e cita que ama conduzir sua máquina e sentir os meandros da performance do seu carro é um mentiroso. Opalão 6 cilindros, tração traseira está aí com preço bom e você não compra. O motorista brasileiro em geral só quer chegar logo no trabalho, se ver livre do trânsito e gastar pouco. Nós não somos italianos! Dirigimos manuais porque automáticos são caros e supostamente consomem muito combustível. Bogagem. Digo, bobagem agora.

É fato que até poucos anos (ou meses) atrás os automóveis automáticos consumiam mais combustível que os manuais. Os câmbios antigos mantiam-se levemente acelerados o tempo todo enquanto alguns sistemas mais modernos dão um show em eletrônica. Gosto sempre de citar o exemplo de um pequeno esportivo à venda no Brasil.

Possui um motor 1.4 Turbo e câmbio automático. A turbina somente enche, despejando a potência extra, em uma determinada rotação. O câmbio é programado para detectar a pressão sobre o pedal do acelerador e somente atuar de acordo com o quanto queremos andar. Preciso. As marchas são trocadas antes da rotação em que o turbo está admitindo ar extra. Logo, comporta-se como um 1.4 de carro popular. Sem sal mas deveras econômico. Quando você aperta a tecla S do câmbio, todas as marchas passam a ser trocadas somente na faixa de rotação em que o turbo atua. Vira um demônio. E o bônus: quando você para no semáforo, o motor desliga. Isso mesmo. Resultado: desempenho de gente grade e consumo de 15,4 km/l na cidade.

Pare de dizer que gosta tanto assim de esportividade no engarrafamento e vá lá cotar o preço do automático. Sua panturrilha agradecerá.

 

O fato: está mais fácil juntar dinheiro com um prato a menos de comida por dia do que com mandingas para poupar combustível

Os motores e sistemas de injeção eletrônica atuais estão tão otimizados quanto nossa tecnologia atual permite. Você não obterá resultados melhores com motores a combustão dos que o que estamos quase atingindo hoje. Atingimos um barreira, um muro que só cruzaremos ao tomarmos uma decisão. Nós, entusiastas, sentiremos a falta dos enormes motores com 8 cilindros em V, carburadores quadrijet e 6 litros da mais cristalina gasolina nos cilindros. Todavia, não há mais gasolina para uma frota assim - acabou, ou está perto de acabar. Um V8 carburado será em breve aquela relíquia para mostrarmos para os amigos tal como é o primeiro revólver colt fabricado no ínicio do século 20.

Por mais que doa, chegou a vez dos combustíveis alternativos. Não é mais uma tendência, é realidade.

O novo Porsche 918 Spyder é um supercarro que atinge os 100 km/h sem fazer uso de gasolina. É possível:

 

O Porsche 918 Spyder está em testes finais, e já está praticamente definido como sairá da linha de montagem, a partir de setembro de 2013. O superesportivo híbrido foi mostrado como conceito em 2010 e os protótipos rodam pela Europa “disfarçados” de modelos 917 de corrida (vencedor das 24 Horas de Le Mans em 1970).
O fabricante divulgou que o carro terá um motor a combustão e dois elétricos independentes (um no eixo dianteiro e um na linha de transmissão, ambos atuando sobre as rodas traseiras).
E promete entregar mais de 770 cavalos de potência, com consumo de cerca de 33 quilômetros por litro. A carroceria é em monobloco de materiais plásticos reforçados por fibra de carbono e o sistema de exaustão tem "escapamento elevado", que libera os gases poluentes para cima. (Veja)

Nostálgicos ou não, chegou o momento de nós, turrões, darmos o braço a torcer. Iniciativas brasileiras como a difusão do etanol e principalmente do Gás Natural Veicular são louváveis. Não queremos esperar por outro blackout conseqüente a negligência e falta de planejamento do poder público.

Lembre-se: cavalo que anda, come. Tire um pouco o pé ou vá de combustível sustentável.

 

Mecenas SULGÁS - Gás Natural Veicular mais barato

Quanto se gastaria para fazer determinado trajeto?

 

O calculador de frotas e trajetos da SULGÁS te responde e comprova a economia real e existente no Gás Natural Veicular na ponta do lápis. O GNV, além de mais barato no posto de gasolina, possui outras vantagens:

 


  • aumenta a autonomia do carro,

  • emite bem menos poluentes que gasolina ou álcool,

  • gera menor desgaste no motor

  • e mesmo que você abasteça em postos picaretas, ele não pode ser adulterado.


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Se você tem carro ou frota, confira aqui os benefícios e a real economia no seu bolso que pode representar um carro com GNV.

 


publicado em 24 de Julho de 2012, 08:02
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Rodrigo Almeida

Engenheiro, apaixonado pela vida e por qualquer coisa com um motor potente, nostálgico entusiasta de muitas daquelas boas coisas que já não mais se fazem como antigamente.


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