Bebê e grana: como economizar na prática | Vida de pai #9

Aprendizados de um pai que vive com o orçamento bem apertado.

A paternidade (e a maternidade também) deixa a gente mais vulnerável. De repente somos responsáveis por cuidar de uma vida além da nossa e, por mais otimista e confiante que a gente seja, lá no fundo, sempre temos uma pulguinha atrás da orelha com a proteção das nossas crias. Esse medinho natural qualquer pai e mãe tem; em maior ou menor escala, mas tem.

As empresas sabem muito bem como explorar essa insegurança dos pais (principalmente os de primeira viagem) e o quão suscetível estamos para gastar mais dinheiro com coisas que prometem deixar o nosso bebê mais seguro, mais confortável ou mais fofo. A maior parte dos produtos e serviços para bebês, pais e gestantes tem preços inflacionados.

Afinal, “Você é um bom pai e seu neném merece o melhor, não é verdade?”

É muito fácil cair na armadilha desse discurso, torrar rios de dinheiro onde não há necessidade e com coisas que entregam benefícios questionáveis.

Fiz uma lista dos principais gastos que temos do pré natal ao primeiro ano de vida e como economizar em cada um deles.

Não entrarei em gastos relacionados a área da saúde — exames, obstetria, parto, maternidade, vacinas, pediatria — pois é uma discussão muito mais complexa, que envolve uma série de fatores emocionais e subjetivos. Inclusive, acredito que a área de saúde explora a insegurança dos pais muito mais que qualquer outro mercado. Mas isso é assunto para um outro artigo.

Enxoval

É ridiculamente fácil perder o controle, se empolgar e gastar mais do que se pode fazendo enxoval de bebê.

Milhares de roupinhas fofas de todos os tipos e cores que você pode imaginar, pra amolecer o coração de pais com qualquer gosto.

Aaaain amooor eu queeeero!

Frases como: “Mas é o nosso primeiro filho”, “Vou comprar pra quando vier visita em casa” e “Esse aqui custa 59, mas olha que fofo.” soarão como excelentes desculpas pra você torrar uma grana que, na prática mesmo, não vai ajudar em nada.

Pergunta pra qualquer pai ou mãe: Na pauleira do dia-dia, principalmente nos primeiros meses, você não vai colocar roupas fofinhas, você vai usar macacãozinho básico e body branco que é fácil de colocar, tirar e lavar. As enfeitadas demais você vai acabar usando duas ou três vezes. Isso se lembrar de usar.

É uma compra completamente emocional, as marcas sabem disso e jogam o preço lá em cima porque sabem que a gente vai comprar. A Disney, por exemplo, cobra 50% de royalties sobre o preço de todos os produtos licenciados.

Mas isso não significa que seu bebê só precisa vestir roupas monocromáticas e sem graça nenhuma.

  • Deixe as roupinhas meigas para seus amigos e parentes comprarem de presente. É sério, as pessoas adoram dar roupa fofinha de presente.

  • Deixe para comprar as roupinhas fofas para depois. Até o 1º ano as crianças perdem as roupas muito rápido.

  • Considere usar e comprar roupinhas usadas. Existem zilhões de brechós e grupos no Facebook vendendo roupinhas de bebês usadas (inclusive as fofas) por uma bagatela do preço.

“Ah mas roupa usada por outra criança, tem bactérias, micróbios e “energia” de outra pessoa”

As confecções nas quais elas são fabricadas, os caminhões em que são transportadas, as lojas que as expuseram e todas as pessoas que pegaram nas roupinhas em toda a cadeia produtiva, certamente não lavaram a mão com sabonete antisséptico, nem se benzeram só pra manusear a roupinha do seu nenê. Então desencana, lava com sabão de coco que tá tudo certo. Seu bolso vai agradecer depois, confia.

Fraldas

Um bebê de até 2 meses, gasta entre 6 a 8 fraldas por dia, esse número vai diminuindo conforme o bebê cresce. Até completar 2 anos (que é a idade que começa o desfralde) o bebê pode usar até 3.5 mil fraldas.

Daria pra escrever tranquilamente um artigo inteiro só sobre fraldas, mas vou deixar aqui meus principais aprendizados:

  • O pacote com mais unidades nem sempre tem o menor custo por fralda. Uma baita malandragem das marcas e dos pontos de venda. Fique atento, faça sempre a conta pra conferir.

  • Considere usar também fraldas de pano. Ao contrário do que muita gente pensa, elas não tem nada a ver com as fraldas de pano da época das nossas mães, evoluíram um bocado. São ótimas para ir na piscina, praia e pra dar uma segurada nos custos.

  • Fralda barata é uma economia burra. Elas quase sempre vazam e sujam a roupa do bebê. Entre pagar por uma fralda ruim e ainda lavar a roupa cagada todo dia, prefiro comprar uma boa fralda de pano e manter a roupa limpa.

  • Faça uma festa para seus amigos e parentes para arrecadar fraldas e, eventualmente, alguns regalos de bebê. É bem provável que fazer uma festa saia mais barato do que comprar as várias fraldas que você arrecadaria no evento. Além de ser divertido para todos os envolvidos.

Berço

  • Considere não comprar um berço. Simples assim.

Assista esse vídeo do Paizinho, Vírgula e veja se ele faz sentido para você e sua companheira.

Aqui em casa optamos pela cama compartilhada e a nossa experiência foi muito boa. Eu, minha esposa e a Clara tivemos noites de sono muito melhores por conta disso.

Em suma, você acaba levantando muito menos durante a noite e ficando menos noiado de deixar o bebê sozinho em outro quarto. A cama compartilhada é uma das práticas da criação com apego, que não tem nada a ver com mimar ou superproteger. É uma teoria que vem sendo estudada há mais de 60 anos e provou resultados super positivos, sugiro pesquisar.

Existem algumas linhas de pensamento que dizem que os pais precisam ensinar o bebê a dormir sozinho no berço em outro cômodo. Na teoria parece ser maravilhoso, na prática não é tão simples e fácil assim.

Se ainda sim quiser um berço, considere comprar usado. É bem provável que você encontre um de pessoas como nós, que resolveram fazer cama compartilhada e acabaram usando o berço mais como armário do que cama.

Brinquedos

Minha filha tem 1 ano e 5 meses e eu nunca comprei um brinquedo pra ela. E nem pretendo comprar a curto prazo.

 “Nossa mas que pai desnaturado e pão duro que você é”.

Explico e aproveito para mostrar dicas:

  • Ela ganhou e continua ganhando uma penca de brinquedos dos nossos amigos, tios, avós e parentes.

  • A maioria esmagadora das vezes ela escolhe brincar com os mesmos 20% de brinquedos que tem. E o critério de escolha do favorito é completamente aleatório: Ela gosta muito mais da boneca meio torta, que eu tenho certeza que não custou mais do que R$ 15, do que da boneca perfeitinha de R$ 300. Quem sou eu pra dizer pra minha filha qual brinquedo deve ser o favorito dela.

  • Vai soar clichê mas é a pura verdade: o melhor brinquedo que posso oferecer a minha filha nessa fase é o meu tempo com ela. Quando estamos juntos, as melhores brincadeiras não necessariamente precisam de brinquedo. Dá para se divertir com um bocado de coisas aleatórias, uma folha de papel, um travesseiro, uma colher ou simplesmente um passeio a dois pelo parque.

  • Pode ser interessante comprar brinquedos usados e procurar comunidades de troca de brinquedos. Mais vale um de segunda mão sendo aproveitado pelas crianças do que um novinho em folha encostado no armário. Uma boa também é comprar brinquedos feitos por pequenos produtores  

Comida

Sou absolutamente contra qualquer tipo de comida industrializada para criança de menos de dois anos, incluindo as papinhas.

Pode parecer radical da minha parte, mas aqui vão alguns fatos:

  • Uma papinha industrializada, custa entre R$ 3,50 a R$ 7,00 a unidade, dependendo do sabor e tamanho. É possível fazer papinha em casa por menos de R$ 0,75 a porção. Multiplique essa diferença por 3 refeições ao dia, 365 dias por ano e você economizará o valor de um notebook.

  • Papinhas industrializadas contém ingredientes que não são recomendados na alimentação do bebê, como farinha de arroz, amido de milho e açúcar! O próprio SAC dessas empresas admite que os ingredientes que eles usam na papinha não devem ser colocados nas papinhas caseiras. É só ler os rótulos.

  • O problema da obesidade infantil é diretamente associado ao aumento do consumo de alimentos industrializados. As grandes pandemias modernas: diabetes, problemas cardiovasculares e alguns tipos de câncer tem na sua base o problema do excesso de peso. Assista ao documentário “Muito além do peso” e tire suas próprias conclusões

  • Dá para você, em duas ou três horas da sua semana, preparar comida pra semana inteira do bebê. Basta você se organizar. Esse vídeo pode dar algumas dicas:

Mais do que uma questão só de economia financeira, estamos falando de saúde também.

Considere e repense na alimentação que seu filho terá e na alimentação que você quer ter. De repente, começar a cozinhar para seus filhos pode ser uma ótima deixa para começar a cozinhar para você e sua esposa. Todo mundo em casa vai se alimentar melhor e economizar uma boa grana.

Outros acessórios, gadgets e produtos milagrosos

Uma loja de bebês é forrada de produtos incríveis: cadeirinha que fez o bebê dormir, bombinha para tirar leite do peito, ofurô para bebê, caixa para esterilizar mamadeira no microondas, babá eletrônica com wi-fi, CD com músicas para fazer qualquer criança dormir, forminha para fazer picolé com leite do peito. A lista poderia ser infinita.

  • Achou o produto bacana e tá na dúvida se deve comprar ou não? Troca uma idéia com outros pais, pesquise reviews dos produtos no youtube, posta a foto do produto em comunidade de pais no Facebook e pede a opinião da galera.  As vezes são 20 minutos que você perde e que podem te livrar de gastar R$ 100, R$ 200 num negócio que vai acabar encostado em algum canto da sua casa.

Dá para economizar bastante grana sem ser pão duro e sem ninguém passar necessidade. Em alguns momentos você vai precisar investir seu tempo pra não gastar dinheiro, em outros, seu dinheiro pra não gastar tempo.

Algumas práticas não são tão intuitivas, algumas são mais fáceis de incorporar e outras vão te dar trabalho.

Mas se fosse pra ser fácil, a gente não escolheria ser pai.


publicado em 22 de Novembro de 2016, 14:45
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Rodrigo Cambiaghi

é especialista em mídia programática, monetização de sites e BI. Reveza o tempo entre filha, esposa, cão, trabalho, banda, moto, games, horta de casa, cozinha e a louça que não acaba nunca.


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