Como é se apaixonar por uma música

"Se apaixonar nada mais é do que se sentir profunda e intensamente vivo ao lado de outra pessoa".

Esses dias um amigo publicou no Facebook uma frase bem parecida com essa. Obviamente, ele falava sobre mulheres. Obviamente, eu sinto isso por mulheres. Concordo plenamente com ele.

Mas eu também sinto isso com músicas.

Link YouTube | Mumford And Sons – The Cave

Na minha história sempre existiu aquela “mulher-ortopedista” – a que melhora a sua postura só por estar perto de você. Basta ela chegar perto para você se desconcentrar do que está fazendo. Sua mente racional e analítica praticamente desliga, dando espaço para a sua mente emocional, que é primitiva, muito mais poderosa e não pede licença, assumir o controle. Você fica reto, estufa o peito, muda até a cadência e entonação da voz.

Você faz tudo isso quase sem perceber. E sabe o que mais você faz sem perceber? Fica igual a um babaca assim que ela se afasta. Encolhe os ombros, suspira, se joga em algum canto e fala/pensa/sente: “caralho, estou apaixonado”.

Esse é um sentimento comum a quase todos os homens. O que eu não sei se é tão comum assim é a razão desse texto: eu sinto coisas muito parecidas por músicas.

Link YouTube | Com quantos violões se faz uma música absurdamente linda? Só um

Algumas músicas apertam os botõezinhos do meu coração de maneira quase tão furiosa quanto uma mulher, e eu simplesmente não sei por que. Não sei se é normal. Eu sei que quase todo mundo gosta de música, mas não se as pessoas em geral sentem as mesmas borboletas no estômago que eu sinto, ou com a mesma frequência e intensidade.

Um bom exemplo é a música Somebody That I Used To Know, da banda Walk Off The Earth. Aquela do vídeo acima, que eu peço encarecidamente que você assista porque é lindo. Essa música simplesmente apareceu no meu Facebook, como o bom vídeo viral que é; mas enquanto todo mundo assistiu, achou bacana e repassou, eu ouvi dezenas de vezes em três dias. Foi como aquela mulher nova, amiga de um amigo de um conhecido seu, que simplesmente surge no seu círculo e faz todas as outras perderem a graça por um tempo.

Isso sem contar as clássicas, como Everlong, do Foo Fighters. Apesar de ser um rock bem barulhento, ela tem provavelmente o verso mais singelo que eu já ouvi:

“Breathe out... so I can breathe you in.”
(Tradução aproximada: “Respire para fora... para que eu possa te respirar para dentro.”)

Juntando um verso desses com uma música tão potente, tem como não se apaixonar? Eu não consigo. É como aquela mulher que se faz de durona e fechada quando tem um coração mole e fofo só esperando por alguém com quem fique à vontade o suficiente para baixar a guarda.

Link YouTube | The Weepies – The World Spins Madly On

Quantas vezes já não dormi ao som de She Says It’s Alright, do The Rentals, que soa para mim como a menina mais fofa e singela do mundo, com os cabelos loiros mais lisos e o rostinho mais tristemente angelical? Quantas vezes já não ignorei completamente o mundo ao eu redor e o senso de ridículo ao cantar junto, não importa onde eu esteja, e fazer um “air solo de piano” junto com You Don’t Understand Me, do The Raconteurs? Quantas vezes já senti um nó na garganta ouvindo OK OK, do Violins?

Todas essas músicas citadas, além de outras que eu incluí em vídeo ou na playlist abaixo (e provavelmente outras paixões antigas que foram soterradas pelas novas, do modo característico como a vida faz para seguir em frente), são músicas pelas quais já me apaixonei perdidamente. De ficar ouvindo de olhos fechados e não saber de onde vem o aperto no peito que surge.

Como toda paixão, eu não sei exatamente como terminar esse texto. Gostaria que terminasse minimamente tão bem quanto termina Only In Dreams, do Weezer. E que tenha sido, para alguém, tão lindo quanto Everything Reminds Me of Her, do Elliott Smith.

Essas lindas. <3

Músicas citadas no texto, na ordem


publicado em 14 de Janeiro de 2012, 16:13
File

Fabio Bracht

Toca guitarra e bateria, respira música, já mochilou pela Europa, conhece todos os memes, idolatra Jack White. Segue sendo um aprendiz de cara legal.\r\n\r\n[Facebook | Twitter]


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura