Como a Al-Qaeda planejou e executou o 11 de Setembro - Parte I

Uma área do conhecimento humano que me interessa muito são as guerras, acidentes, grandes tragédias e afins.

Meio macabro, é verdade, não que eu curta a desgraça em si, mas os meios pelos quais tais tragédias ocorrem, as histórias individuais envolvidas, os dramas pessoais, os atos de heroísmo, são todos fascinantes, pelo menos para mim.

Imerso recentemente em literatura sobre o assunto, aqui trago para a PdH um resumo de como a Al Qaeda planejou e levou a cabo os atentados que mudaram o mundo em 2001.

1 – Prólogo

Em 1979, tropas soviéticas invadiram o Afeganistão. Um governo comunista havia tomado o poder no país, mas não conseguia exercer influência sobre a sociedade tribal local, e as tropas foram enviadas para garantir este domínio. Líderes religiosos locais convocaram uma Jihad (guerra santa) contra os soviéticos, o que levou milhares de voluntários muçulmanos a aderir à luta. Entre estes, havia um jovem saudita de 23 anos, chamado Osama bin Laden.

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Treinamento durante o conflito Afeganistão-União Soiviética em 88

Financiados pela Arábia Saudita e (ironia do destino) pelos Estados Unidos, os rebeldes afegãos acabaram, após longa batalha, triunfando em 1988, com a retirada das tropas soviéticas. Isso fez de Osama uma espécie de Che Guevara islâmico. A organização que comandava, junto com um homem chamado Khalid Sheik Mohamed (KSM) foi então batizada de Al-Qaeda (“A Base”) e empenhou-se em propagar a Jihad.

Quando Saddam Hussein invadiu o Kuwait em 1990, Osama ofereceu-se para lutar contra a ameaça ao seu país, mas se decepcionou pois o governo saudita preferiu aliar-se aos EUA. Isto significou a presença americana em bases militares no solo sagrado saudita, e revoltou Osama, que passou a defender a deposição da monarquia. Com isso, seu passaporte foi cassado e ele não poderia mais sair da Arábia Saudita. Mas recebeu autorização para participar de um evento no Paquistão. Ao invés de voltar, pediu asilo político ao Sudão, e para lá se mudou e passou a organizar a Al-Qaeda.

No ano de 1992, a Al-Qaeda emitiu uma fatwa (“sentença”) , convocando uma jihad contra a presença ocidental em terras sagradas. Ao mesmo tempo, um jovem paquistanês chamado Ramzi Yousef tinha um plano seu aprovado pela liderança da Al-Qaeda: explodir o World Trade Center.

Em conversas com um amigo, Ramzi, que era engenheiro químico, disse que sonhava explodir um edifício nos EUA e matar muitos judeus, e seu amigo sugeriu o WTC. Ramzi, então, foi para os EUA, e encontrou-se com membros da Al-Qaeda em território americano. Um deles lançou uma idéia, a princípio louca, mas tentadora : Jogar aviões carregados de combustível contra alvos americanos.

Tal idéia foi levada a KSM, mas Ramzi resolveu colocar um carro-bomba no estacionamento do WTC, achando que poderia derrubá-lo. Em 26 de fevereiro de 1993, o carro-bomba explodiu no estacionamento do WTC, mas causou pouco dano, para decepção de Ramzi. Que logo foi preso.

Porém, a semente do 11/9 estava plantada.

2 – O início

KSM resolveu então submeter o plano do ataque aéreo a Osama. Naquele momento, Osama adorou a idéia, mas estava concentrado em outros ataques terroristas, notavelmente às embaixadas americanas na Tanzânia e no Quênia, levadas a cabo em 1998.

Em 1996, o regime Talibã assumiu o poder no Afeganistão. Osama uniu-se ao grupo (tivera sua cidadania saudita cassada) e estabeleceu sua base em terras afegãs. Após os atentados contra as embaixadas americanas, o governo deste país já caçava os terroristas. O que por si só atraiu milhares de idealistas islâmicos dispostos a morrer pela jihad. Isso sem contar o imenso aporte financeiro, fruto dos negócios de Bin Laden.

Em 1999, Osama deu sinal verde para a chamada Operação Aviões. Primeiro escolheram os alvos. Bin Laden queria atacar a Casa Branca e o Pentágono. KSM escolheu o WTC. E o Capitólio foi uma escolha unânime.

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Não queira estar na lista negra desse sujeito

Era preciso escolher os pilotos suicidas. Mas a imensa maioria dos jihadistas era de jovens que apenas tinham treinamento em campos afegãos da Al-Qaeda. Nada sabiam sobre aviões, inglês e a vida no Ocidente. O plano parecia ir por água abaixo. Mas iria ocorrer uma reviravolta...

3 – A célula de Hamburgo

Em dezembro de 1999, quatro jovens aspirantes a jihadistas chegaram ao Afeganistão. Todos com nível universitário, e um deles falava inglês fluente. Tinham a seu favor o fato de, morando e estudando na Alemanha, estarem acostumados com o padrão de vida ocidental.

Três deles, Marwan Al-Shehhi, Mohamed Atta, e Ziad Jarrah, acabaram sendo escolhidos como pilotos suicidas. Em comum, apresentavam histórias de segregação e discriminação no Ocidente por serem árabes, fomentando o ódio. Ziad Jarrah era uma espécie de playboy nascido no Líbano, porém, a chamada “Célula de Hamburgo”, acabou aliciando-no de tal forma, que seu pai até hoje não consegue crer na sua participação, pois nem muçulmano fervoroso era.

KSM, que já vivera por 3 anos nos EUA, então, ministrou um curso sobre como viver lá sem despertar suspeitas e sobre as falhas de segurança nos vôos, mostrando em vídeos, como e em que momentos a cabine dos pilotos ficava aberta. Agora, era questão de enviar os jihadistas aos EUA, matriculá-los em escolas de aviação (que são relativamente baratas se comparadas às européias) e levar o plano a cabo.

4 – Infiltrando-se em território inimigo

Para não despertar suspeitas, os passaportes dos jihadistas foram adulterados, excluindo passagens por locais como o Paquistão e o Afeganistão, que poderiam gerar suspeitas. Eles chegavam através de destinos inocentes, como Praga, na República Tcheca, e Paris. Assim que chegavam, deviam se instalar, aprender inglês e procurar escolas de aviação para aprender a pilotar.

Mas nem tudo foram flores.

Vários deles simplesmente não conseguiam aprender a língua, se adaptar, ou mesmo aprender a pilotar. Felizmente para a Al-Qaeda, um novo jihadista chegara. Hani Hanjour, um saudita que era... piloto de aviões. Por este motivo, recebeu o alvo mais complexo: o Pentágono.

Aguardem logo mais a parte II com o desfecho da saga de 11 de Setembro...


publicado em 23 de Julho de 2008, 12:35
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Mauricio Garcia

Flamenguista ortodoxo, toca bateria e ama cerveja e mulher (nessa ordem). Nas horas vagas, é médico e o nosso grande Dr. Health.


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