Comédia Romântica | Do amor #46

Porque às vezes a gente precisa de um açúcar

Não sabia exatamente como se portar, pois nunca havia ganhado galanteio algum no trabalho. Usava um vestido de verde escuro com uma faixa dourada moldando a cintura e um par de sapatinhos creme. No e-mail, ele confessou mais tarde que ela estava parecendo a Sininho dos desenhos.

Enviar mensagens particulares era contra as regras. Mas ela continuou a conversa online e transparecia todo seu embaraço. Ele a elogiava e ela agradecia sem saber como devolver os gracejos. Não sabia como lidar. O grande paradoxo em sua vida era que, por mais que adorasse ser elogiada, não gostava de aparecer. Quanto mais, menos. A vergonha lhe tomava de assalto. Mesmo assim, deu continuidade à conversa, com rosto pegando fogo e tudo. Agradeceu os elogios e topou, algumas mensagens depois, um café ao final do dia.

O lugar estava cheio, mas um café e calor humano seriam a dobradinha perfeita para aquele frio que abraçava com força todo mundo que se aventurava a andar na rua. Assumiu que não tomava café, mas aceitou um chocolate quente daqueles com gostinho de menta. Começou ouvindo bastante e descobriu que, por trás daquela cara fechada do colega de trabalho, havia graça e uma ternura natural que a agradou em cheio. Começou a falar mais, confessando não imaginar tal situação e que realmente nunca notou qualquer interesse por parte dele. Ele rodeou um pouco e acabou confessando que até falava bastante dela e que gostava de tocar no assunto. Os últimos dias estavam fazendo muito bem pra ele.

Ela disse que estava ficando tarde, como mandam as regras. Ele conhecia bem o jogo e insistiu de forma diplomática para que ficassem um pouco mais. A bebida quente e o aconchego do papo deixaram-na realmente bem confortável e ele se ofereceu para lhe dar uma carona, para que não passasse novamente para o estágio de frio intenso. Ela aceitou de bom grado, por múltiplos motivos.

Mas o imediatismo em seu discurso foi tomando mais liberalidade e passou a ganhar maior desenvoltura, uma conversa mais apetecível, cheia de miudezas e afirmações mais aprazíveis. Enfiou delicadezas, um sorriso, dois elogios. Até que essa soltura culminou em um gracejo considerado… demais.

Tocava um álbum qualquer do Chet Baker no carro. Ela não sabia quem soprava o trompete, mas achou a melodia bem gostosa. O beijo na porta de casa foi ainda melhor que a carona em si. Quando entrou em casa, fechou a porta. Acendeu a luz e olhou em volta. Inspirou fundo e ainda tentou lutar. Um gritinho tentou escapar, mas foi detido pelos lábios cerrados e ainda com o gosto daquele beijo. Apertou as chaves na mão e se entregou noutra exclamação. Deitou sorrindo e acordou sorrindo. Quando acordou, ainda tinha outra vontade de gritar.

Obs.: Este conto foi originalmente publicado na Meio-Fio #43.

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publicado em 02 de Dezembro de 2016, 00:00
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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