Comece a ser saudável dormindo, comendo e bebendo

Não é tão difícil. O primeiro passo é botar o pau na mesa e começar do começo

A verdade é que às vezes em minha prática profissional, me sinto um pouco ridícula quando tento motivar alguém a um estilo de vida mais saudável. São tantas as coisas que pesam numa tomada de decisão que minha fala pode soar simplista e privilegiada.

É notório que, ao falar sobre saúde, nem todos se sensibilizam com a ideia de prevenção de doenças. Posso enaltecê-la com um de nossos atributos mais preciosos, mas a maioria das pessoas pensa em melhorá-la apenas quando a conta chega e alguns sinais e sintomas desagradáveis são evidentes.

Antes daquele protocolo debochado de que temos que morrer de alguma coisa, que podemos ser diagnosticados com câncer amanhã, que a parada é genética, que é tudo culpa da indústria de sei lá o quê, e que você conclua sua tese com a polêmica do ovo, te convido a pensar no dia de hoje.

Vem comigo

Se fôssemos amigos e estivéssemos em uma mesa de bar, eu estaria bebendo uma caipirinha, porque estabeleci que ela faz muito bem para a minha saúde. Você me diria que está em crise, que não está dormindo direito, que engordou alguns quilos ao longo dos anos (dá uns tapas na pancinha), que isso afeta sua autoestima, que antes você fazia tantas coisas (e as detalha, com brilho nos olhos) que hoje tem dificuldades de colocar as mãos nos joelhos (algumas vezes você levanta da mesa e me mostra). E você faria aquela pergunta fatídica, por onde eu começo?

Todos passamos por inúmeras crises, mas a realidade é que são nesses momentos que nosso estilo de vida é colocado à prova. É relativamente fácil ter um dia saudável quando nosso corpo não dói, quando a geladeira está recheada e alguém cozinha, quando conseguimos sair no horário correto do trabalho. Porém, quando um desses cenários não está exatamente como acreditamos ser o necessário para seguirmos, facilmente nos sabotamos.

Para a maioria das pessoas, iniciar, manter um estilo de vida saudável e alcançar boa aptidão física relacionada à saúde requer muito esforço individual, concessões, e muitas engolidas de choro. E isso só se consegue com uma motivação contínua, que por ironia só se estabelece quando percebemos os benefícios desse comportamento na prática, no dia a dia, quando as nossas justificativas oferecem mais facilitadores do que barreiras.

É nesse exato momento que me sinto um nada, porque na verdade a única coisa que eu posso dizer é que você precisa apenas começar para perceber.

Sabe aquele seu amigo que está chato para caralho com suas aquisições físicas? Então, ele na verdade está percebendo a óbvia e muitas vezes esquecida sensação de bem estar decorrente de um estilo de vida mais equilibrado e assustadoramente simples.

Existe um abismo entre o seu estilo de vida e aquela histeria coletiva que você vê nas redes, só quero que você tente nesse pontapé inicial, ter cinco atitudes simples e diárias, que fisiologicamente e psicologicamente são impossíveis de não causarem bem estar. 

A partir do momento que você as assimilar, sua autopercepção física será aprimorada, e te influenciará a novos passos, seus, possíveis.

Comece seu estilo de vida saudável dormindo

Impossível, completamente impossível ter energia e humor se dormirmos aquém do considerado mínimo para nós. 

Durma, equilibre e deixe seus hormônios agirem positivamente no seu apetite, na sua saciedade, na sua construção muscular de amanhã. Vá mais cedo para a cama, não coma como um ogro a noite – afinal, ou você digere o boi ou dorme bem–, coloque um pijama cheiroso, troque com frequência seus lençóis, leia, abrace, beije, escolha. 

Mas tente impreterivelmente se afastar do celular. 

Perceba o simples. Quando dormimos mais cedo, bem e em quantidade, de manhã fazemos mais xixi, nossa feição fica visivelmente mais leve e, juro, fazemos melhores escolhas alimentares no decorrer do dia.

Estabeleça uma refeição exemplar

Nesse momento, não sugiro que corte absolutamente nada do seu cardápio. Quero que inclua. 

Escolha uma das três grandes refeições para você fazer bonito. Cereais integrais, leguminosas, vegetais, frutas, sementes, gorduras boas. Faça um prato colorido, e nem por decreto pense em calorias e quantidades. Chega a ser imoral contar calorias de frutas e verduras quando bebemos refrigerantes zero e bolos de caixinhas. 

Coma à vontade os alimentos que te fazem bem.

Com o tempo, passe a gostar de novos alimentos, sinta a diferença na função intestinal e em sua disposição. É um empoderamento, passa a arriscar outros sabores em outros cardápios e refeições. Parece distante, mas um dia percebe que não é nada doloroso levar, por exemplo, uns lanches saudáveis para comer ao longo do dia.

Beba água, chás, sucos

Essa dica é uma chatice, óbvia, cansativa, mas porque pelo amor de todos os santos é tão difícil cumpri-la? Quando ingerimos quantidades insuficientes de líquidos comemos mais, afinal, a sensação de sede se confunde com fome. 

Refrigerantes, cervejas, sucos artificiais e de caixinha não entram nessa conta. Precisamos para essa função de água, chás de ervas e frutas, sucos naturais.

Ao regularizar nossa frequência ao banheiro, retemos menos líquido, nos sentimos menos inchados, o que dá a sensação de emagrecimento, e cumprimos com a necessária função de eliminar as toxinas corporais. Não precisamos de tantos sucos detox para isso. Nosso rim, quando munido de quantidades necessárias de líquidos cumpre com sua responsabilidade. 

A questão é: ninguém precisa tomar suco de couve às 06 da manhã. Você tem rins para isso.

Exercite-se simploriamente

No contexto das sociedades industrializadas, a atividade física é um fator decisivo na qualidade de vida e saúde. Individualmente, a atividade física está associada à maior capacidade de trabalho físico e mental, mais entusiasmo para a vida e positiva sensação de bem estar. 

Socialmente, estilos de vida mais ativos estão associados a menores gastos com saúde, menor risco de doenças crônico-degenerativas e redução de mortalidade precoce.

Nesse início, basta que faça 30 minutos, no mínimo 3 vezes na semana de qualquer atividade física. Vale caminhar até o trabalho, mercado, subir escada, uma faxina mais intensa, passear com esse cachorro também sedentário. A questão é fazer mais do que está fazendo. 

Não é uma questão sobre gasto calórico, perda de gordura ou ganho de massa corporal - longe disso - mas simplesmente sair desse estágio (física e psicologicamente) do sedentarismo. Se você me disser que adora a vida sedentária, que não se incomoda com as suas inabilidades físicas e com os efeitos na sua composição corporal, desconsidere esse item, esse texto, me desconsidere na realidade.

Preze pela qualidade

O conceito de qualidade de vida é diferente de pessoa para pessoa e tende a mudar ao longo da vida de cada um. Existe, porém, consenso em torno da ideia de que são múltiplos os fatores que determinam a qualidade de vida de pessoas. 

A combinação desses fatores que moldam e diferenciam o cotidiano do ser humano, resulta numa rede de fenômenos e situações que, abstratamente, pode ser chamada de qualidade de vida. Em geral, associam-se a essa expressão fatores como: estado de saúde, longevidade, satisfação no trabalho, salário, lazer, relações familiares, disposição, prazer e até espiritualidade.

Sabe quando queremos agradar quem gostamos? Perceba, nós nos diferenciamos nos detalhes, passamos a manteiga mais caprichosamente, colocamos nosso lençol mais cheiroso, salsinha no arroz, sabonete novo na pia do banheiro. Lindezas que esmagam os corações mais sensíveis. 

Sou muito Poliana ao imaginar que poderíamos ser assim com a gente, no nosso dia a dia?

Afinal, essas 5 atitudes são muito simples, bem distante de grandes mudanças, mas passíveis de grandes transformações que eu não tenho como aferir. Elas poderão te incentivar a inúmeras outras pequenezas, mimos, e confortos necessários a sua qualidade de vida. Ter boa saúde não representa apenas um objetivo importante; isto é um meio para a realização de todos os outros objetivos na vida.

É uma questão de começar.


publicado em 27 de Julho de 2015, 00:00
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Débora Navarro Rocha

Educadora Física, mestre em Exercício Físico e Saúde para Populações Especiais. Atualmente é Docente do Instituto Federal do Paraná.


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