Sempre fui “boa de copo”. Daquelas que saía da aula da faculdade e ia beber no boteco da esquina com os meninos, sem hora para ir embora – que provavelmente acontecia quando algum assunto polêmico acabava com os ânimos dos “companheiros” mais hormonais ou, simplesmente, até alguém cair de pileque –, sempre antes de mim, é claro.
No entanto, ser uma mulher “boa de copo” não se limita ao fato reducionista de “beber todas”, mas sim, de ser um tipo de pesquisadora antropológica que conhece, gosta e frequenta os melhores barzinhos da cidade. Porém, admito que já deixei muito machão com o dobro do meu peso e estatura pedir arrego em mesa de chope, morrendo afogado na própria língua e suplicando vergonhosamente por uma coca-cola.
Quando se é uma mulher “boa de copo”, pode ser muito difícil arrumar algum parceiro à altura (não do copo, mas da bagagem).
Primeiro porque suas ideias para inaugurar um primeiro encontro são sempre melhores do que as dele; depois, você senta na mesa, chama o garçom pelo nome, que te recepciona com um abraço ou um apelido carinho; e terceiro que ordenar todos os bebes e comes do evento acaba com a virilidade de qualquer cavalheiro mais antiquado.
O segredo é fingir surpresa e piscar pro seu Zé do balcão para compactuar com a performance “donzela medieval”, recorrendo ao frugal coquetel de frutas ou sakerinha de morango (bebida de mulheres claramente amadoras).
O mais interessante de ser o “bendito fruto” do núcleo encachaçado masculino é, obviamente, o papo e a troca de ideias. Nada de cabelos, unhas e relacionamentos. Futebol também estava proibido na minha presença – sobrando sempre tópicos que variavam entre soluções para a humanidade e filosofias etílicas que só acontecem nas mágicas mesas dos botecos da madrugada.
E a graça era ser o mais profissional possível, quase como uma confraria subversiva, nada de flertes ou piadas sexistas, o negócio girava mesmo em torno das geladas.
Se algum dos “companheiros” chegava acompanhado, tinha de passar pelo meu crivo: “É das minhas? Se não for pode dar meia volta que ninguém aqui quer mocinhas enrolando a língua no quinto chope”. Às vezes, elas surpreendiam positivamente – somos poucas mas boas – e era sinal verde na certa. “Gostei dela. Pode investir”.
Atualmente, com a idade passando, as mesas mágicas vão ficando cada dia mais escassas. O duro despertador que toca às oito da matina desperta mais do que dor – de cabeça. Mas, vez em outra, reencontro meus doces amigos “apanhadores no campo de centeio” em tulipa para um bom papo – que agora, já com a perda da inocência juvenil, não gira mais em torno de causas humanitárias e sim do passar dos anos que não voltam mais…
Opa, mas essa prosa está demais nostálgica… “Ô, Paiva! Desce mais um”.
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