Ah… listas. Listas, listas, listas. Fazemos listas e listamos listas que possam entrar em nova lista.

Eu adoro listas. Adoro a catarse que elas provocam nas pessoas, positiva e negativamente. Há aqueles que idolatram a lista, que correm pra comprar todos os itens dela, que imprimem e as usam como “os dez mandamentos para…”.

Claro que, para cada um desses, existem 712 daqueles que odeiam listas. Por odiar, simples assim. Listas? Por qual razão? São mensagens satânicas feita por gente que não tem um mínimo de tino pra fazer listas. Discordam da ordem, do contexto, da oitava colocação (deveria estar na terceira), da terceira colocação (devia estar na oitava) e da quinta colocação (essa deveria estar na quinta posição mesmo, mas em outra lista que não essa).

É por essas e outras que eu adoro listas. Elas movem opiniões. Atiçam o cocoruto.

Essa é uma nova série do PapodeHomem: listas descaralhantes pra serem emolduradas e depois queimadas na fogueira das putarias culturais.

O primeiro tema? Música. Adoro listas musicais. São as mais amadas e perseguidas. Enumerei hoje os cinco melhores momentos da música para se estar bem perto. São aqueles momentos que, só de estar do ladinho, já seria motivo para ter orgasmos sonoros. Bora lá!?

5. Show do Queen em Wembley

O ano era 1986. Freddie Mercury, provavelmente o melhor frontman de todos os tempos estava endiabrado, frente à uma platéia deslumbrada e enfeitiçada com o quarteto em uma de suas últimas apresentações. O momento escolhido para ficar no quinto lugar dessa lista foi a “conversa” tida entre Freddie e o público.

O vocalista do Queen arriscou aquele clássico momento de pergunta e resposta com os milhares de fãs. A magia da situação está em perceber a profundidade da “obediência” do público. É fato que essa brincadeirinha chega a ser meio brega, mas a entrega da multidão, toda nas mãos do grande Freddie Mercury, com certeza tem lugar garantido entre os melhores momentos da música pra se estar por perto. A entrega, a catarse e o pleno controle do líder de uma banda de rock que gostava de tentar chegar perto das grandes óperas.

Link YouTube | Com o perdão do trocadilho, mas o freddie mercury manipula a galera, e eles adoram

4. Gravação do Great gig in the sky, do Pink Floyd

Ok. Imagine-se um faxineiro inglês de um estúdio de gravação. As pernas cansadas, a vassoura constantemente nas mãos, empurrando o tempo com a barriga do mesmo jeito que a sorte lhe empurra a costas para longe dela. E, daí, num dia qualquer, como qualquer outro dia chuvoso na velha Inglaterra, você se pega assustadoramente atencioso com os berros violentos e maravilhosos de uma mulher. Andando pelos corredores com uma velocidade maior que a comum, você chega à sala de gravação onde o grupo Pink Floyd está gravando uma das canções do próximo disco deles, que mais tarde seria intitulado The dark side of the Moon.

Você chegou a ver uma mulher entrando no estúdio mais cedo. Uma loira pequenina, de nariz alongado. Jamais você imaginaria que, daquela pessoinha mirradinha, sairia uma voz negra e perfeita como aquela. Eis um momento muito foda da música para se estar por perto. Ouvir a pequena Clare Torry surpreender todo mundo com aquele vozeirão inspirado e se surpreender com tudo aquilo deve ter sido bem foda.

Link YouTube | Sou só eu, ou você também imaginou uma negra muito foda cantando esse som?

3. Show dos Beatles no telhado da Apple

Além de ser um show dos Beatles (não por ser considerada a melhor e/ou maior banda de todos os tempos, mas por ser raridade ver o Fab4 ao vivo), é um show dos Beatles maduros, já no final da banda ( o show aconteceu em janeiro de 1969, um ano antes da dissolução do grupo, em abril de 1970).

O motivo de se estar por perto nesse evento é o de perceber a intimidade musical dos quarteto de Liverpool. A época era bem tensa para os Beatles. Brigas constantes, indas e vindas do grupo (antes da saída oficial do Paul McCatney, o Ringo Starr e o John Lennon já haviam saído e voltado para a banda), gravação de disco separados, embróglios com a Apple e com empresário. Tudo culminando para o desastre.

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Mas naqueles momentos de tocar ao vivo, juntos, tudo ficava em segundo plano e a música se tornou a principal forma de interação dos quatro. Lindo ver a sinergia e a alegria deles em tocar aquelas belas canções que entrariam, mais tarde, para o disco Let it Be. Seria maneiro demais estar ali, em cima daquele pequeno edifício, vendo os olhares, os pequenos erros e a diversão como núcleo do que seria a última apresentação dos Beatles.

Link YouTube | O que é mais estiloso de feio? A jaqueta vermelha do Ringo, a calça verde do Harrison, o bigode do Ringo, ou só o Ringo todo mesmo?

2. Jerry Lee Lewis coloca fogo no piano, só de pirraça

Ah, os anos 50. O rock borbulhava escondido nas casas dos adolescentes ao redor do mundo e todos queriam ver aqueles enviados do satã que tocavam aquele som vibrante. Daí que um deles, Jerry Lee Lewis, era o mais endiabrado de todos. Tocava um piano vigoroso e se envolvia em escândalos e tinha um ego sem igual.

Lewis era o perfeito rockstar. Chutava o banco do piano, tocava com uma das mãos e, com a outra, fazia acenos para a platéia, sentava nas teclas e ficava em pé em cima do piano, tudo pela diversão. Tudo pelo espetáculo.

Reza a lenda que, em uma de suas apresentações, Lewis estava puto da cara de ter que tocar antes de outro rockstar de primeira, Chuck Berry. Emputecido, Jerry fez outra de suas brilhantes apresentações e, ao final do show, ateou fogo no piano, de pura pirraça. Imagine estar por lá, no backstage do evento, e poder ver a pirotecnia infantil e insana de Jerry Lee Lewis, com um piano em chamas.

E mais, imagina ver a cara do Chuck Berry, quando Lewis passa por ele atrás do palco e diz “vai lá, agora o palco é teu” (frases essas imaginadas na minha cabeça). O Próprio Lewis desmentiu o fato, dizendo que nunca colocou fogo em seu instrumento. Mas o imaginário coletivo faz dessa história, uma verdade irremediável. E pela brincadeira toda, vale o segundo lugar dos momentos mais fodas da música pra se estar por perto.

Link YouTube | “Cena do filme Great Balls of Fire!

1. A primeira apresentação da Nona Sinfonia de Beethoven

A potência da última sinfonia de Beethoven, as reclamações do coral que não conseguia alcançar as notas mais altas impostas por um compositor já velho e surdo. Esse mesmo, sem ouvir nada, que quis, mesmo assim, dividir o palco com o regente oficial, bradando furiosamente com os braços enquanto o coral tinha ordens do regente Michael Umlauf para ignorá-lo.

A sinfonia, que inicialmente era pra ser tocada pela primeira vez em Berlim, mas foi transferida para Viena a pedido do público, que amava Beethoven. Um público que aplaudiu com fervor pelo menos cinco vezes durante a apresentação, atirando lenços e chapéus pro alto para que o surdo Beethoven pudesse enxergar o que eles queriam passar no som das palmas. Uma salva de palmas tão demorada que fez com que a guarda real entrasse no recinto e solicitasse seu fim, pois o tempo de palmas era superior à aquele disponibilizado somente para a realeza.

Presenciar esse momento certamente dá ao sortudo a vantagem de estar no topo da lista. Uma catarse desenfreada em plena Europa recatada do século XIX. A nona sinfonia de Beethoven foi o hino do rock’n roll antes mesmo de existir o tal de rock’n roll. Quer mais o quê?

Link YouTube | Essa é a primeira parte de 4. E vale a pena cada uma delas

E não fica só por isso mesmo não. Essa lista foi feita para ser discordada. Liste os seus momentos. Coloque a seleção aqui nos comentários, descaralhando uma lista tão foda quanto essa.

E tem música brasileira chegando em breve. Listaremos também os melhores momentos tupiniquins para se estar por perto.

Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados