Eu e o meu pai nos escolhemos. A gente não tem laços de sangue mas também não fomos simplesmente obrigados a conviver um com o outro por causa de um casamento dele com a minha mãe. Não.
Eu escolhi que ele seria meu pai e ele me escolheu como filha.
Não sei qual foi o exato momento em que isso aconteceu mas minha mãe jura que foi em um passeio a Campos do Jordão que fizemos os três quando eles ainda namoravam – meu irmão ainda não tinha nascido – e em um gramado bem grande e verde, ele ajoelhou e abriu bem os braços e eu, com três anos de idade, corri do colo da minha mãe pro seu abraço.
Ela tem o registro desse exato segundo guardado e eu vi e revi essa foto muitas vezes nesses 30 anos depois. Pode ser. O fato é que aos nove eu quis mudar de sobrenome porque não via sentido em carregar sozinha um nome judeu polonês que não me remetia a nada – até então meu pai biológico estava sumido e eu nem sabia qual era a cara dele.
Fui saber muitos anos depois, quando nos encontramos por acaso. E a cara dele era a minha, foi chocante. Ele sumiu e apareceu muitas vezes depois até que faleceu no começo deste ano. Eu fui no enterro.
Rasguei um pedaço da minha roupa e joguei terra em seu caixão como manda a tradição judaica. Foi triste e também muito simbólico. Mas hoje carrego o sobrenome do meu pai escolhido. Meu filho também.
Recentemente, descobrimos que o véio tem uma doença com um nome feio que ainda não consigo repetir em voz alta e que dá umas dores muito fortes em sua coluna. É difícil ver o herói abatido, frágil. Às vezes acho que não ligo pra ele todo dia só pra não ouvir que está doendo e sei que isso é um egoísmo enorme da minha parte. Ó pai, essa é a primeira coisa nunca te falei.
Às vezes eu não ligo pra ti por uma dificuldade imensa em te ver sofrer.
Respira fundo e lê as outras, que vou disparar aqui. Um pessoal vai fazer a mesma coisa para os pais deles, é sempre bom dizer o que ainda não se disse. Ou re-dizer, né, vai que vocês esqueceram...
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Eu nunca gostei tanto assim de Pink Floyd. Mas curtia sua empolgação ao assistir comigo The Wall e explicar cada cena, todas as vezes. E foram umas 930. Também não gosto muito dos outros caras do rock progressivo. Desculpa. Mas vou ouvir todas as vezes que você botar pra tocar, assim como você pacientemente ouviu e se interessou por todas as minhas fases musicais – de Bob Marley a Green Day, de Portishead a Bikini Kill. E me ensinou a tocar elas no baixo.
Quando eu era criança, fingia que estava dormindo no carro pra você me carregar pra casa. Mas acho que você já sabe disso.
Ah, e obrigada por você não deixar a mamãe me por vestidos enormes e cheios de tules e babados e me dar espadas ao invés de panelinhas.
Se hoje eu sou essa “feminista radical” com quem você tanto implica, a culpa também é um pouco sua.
Guilherme Valadares, 31, editor chefe e fundador do PapodeHomem
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Oi, Antônio.
Hoje me sinto um homem satisfeito na relação com você. Feliz por ter tido o que seria importante dizer, mas que não custa nada repetir, já que poucas vezes nos encontramos a cada ano: te admiro e respeito como pai e como amigo, tenho orgulho de você, aprendi muito sobre a vida ao seu lado e à distância, procuro caminhar pelo mundo de um modo que não o decepcione, penso e falo com carinho sobre você bem mais vezes do que imagina, me sinto enormemente grato pelo amor com que me criou e tudo que fez por mim, garantindo educação, teto, comida, cultura – pode soar básico, mas não acho que seja. Sei que fez o seu melhor. Um abraço comprido de seu filho, pai. Te amo. E sinto saudades.
PS.: não sei porque, mas por vezes me emociono muito ao lembrar de você, pai. Chorei ao escrever esse pequeno texto.
Marina Dias, 24, coordenadora de comunicação
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Eu queria contar pro meu pai que hoje vi um beija-flor no centro de São Paulo. Ele adorava ficar olhando os beija-flores, não gostava de São Paulo. Não tive tempo de contar sobre o beija-flor nem sobre todas as coisas que me aconteceram nos últimos cinco anos. E é isso que me faz mais falta.
Pai, tô mudando de cidade; pai, arrumei emprego novo; pai, vou mudar de casa; pai, hoje eu levei um tombo na rua e ralei o joelho mas tá tudo bem; pai, tava tentando ter um vaso de lavanda em casa, mas acho que coloquei água demais; pai, hoje eu fiz aquele seu prato famoso que junta tudo que tem na geladeira e joga na panela, ficou ótimo!
Eu queria ter com o meu pai todas as conversas que a gente não teve tempo de ter.
Rodrigo Cambiaghi, 29, Gerente de Projetos do PapodeHomem
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"Tenho medo de envelhecer e ficar igual ao meu pai."
Quem nunca ouviu essa frase por aí?
Eu tenho medo de envelhecer e não ficar igual ao meu pai que com 60 anos tem uma banda de rock, cursa teatro, anda de moto, toca a empresa dele, tem uma namorada e 3 filhos.
A ideia de ser um velho carrancudo, barrigudo, que passa os dias sentado numa poltrona reclamando da vida sempre me apavorou.
E é tudo culpa do meu pai.
"Você é teimoso pra diabo, é muito chato discutir contigo."
Eu queria te falar isso, mas a Nathalia (minha esposa) já me disse isso umas 300 vezes.
Douglas Moura, 30, lutador de MMA
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Pai, você sempre foi exemplo de trabalho pra mim. Eu nunca falei nada mas sempre prestei atenção, pelas dificuldades que a gente já passou na vida, você nunca deixou de acreditar que iria conseguir mesmo todo mundo falando o contrário.
A gente já passou por situações em que eu vi nos seus olhos o desespero, com medo de faltar comida em casa, de a gente estar morando de favor em um lugar pequeno, cheio de ratos e baratas e mesmo assim você não deixou a peteca cair.
Me lembro de um inverno em que fez o maior frio que já teve no Rio de Janeiro, em 1998, e você triste porque não tinha condições de me comprar um casaco. E hoje tudo que você plantou, você colheu. Comprou casa, comprou o sítio em que nasceu. Meu avô vendeu e você sempre falou que iria comprar de volta. E quando eu desanimo e tenho vontade de parar de fazer o que estou fazendo me lembro de você.
Pai, você é meu maior exemplo de lutador da vida. Meu maior ídolo.
Ana Lúcia Keunecke, 41 anos, ativista dos direitos das mulheres e diretora jurídica da Artemis
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Quando se tem consciência de uma série de opressão que a mulher vive por sua condição feminina, amar um homem não é fácil. E eu amo um homem profundamente, e mais ainda quanto mais eu o conheço. Eu amo meu pai Claudenir Oliveira da Silva.
O amo pelo aprendizado e admiração na sua determinação de superar suas dificuldades a cada dia. O amo pela integridade e por ter me ensinado o valor da honestidade. O amo pela aceitação das suas limitações. O amo por sua fragilidade. O amo por ver o quanto ele trabalha para se desconstruir dos valores do patriarcado e que, ainda que derrapando tantas vezes, tem dados bons resultados. O amo por ele me enxergar, e por ter a sinceridade de dizer que está aprendendo comigo.
Pai eu te amo e te admiro por não ceder à vida mansa, fácil e confortável. Eu te amo por você, aos 70 anos, estar fazendo faculdade e não desistindo de aprender nunca. Eu te amo por me mostrar o melhor de mim. Eu enxergo suas qualidades, mas te amo por olhar os seus defeitos, por ver o pior de você em mim e por termos juntos a possibilidade de construir uma história diferente.
Eu te amo por aprender contigo o valor da verdade. Eu te amo por aprender com você a persistência. E eu te amo porque, com nossa convivência e experiências, eu posso fazer do mundo um lugar melhor. Obrigada pai, pela história juntos.
Rodrigo Brandão, 42, músico
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Toda vez que a memória me leva de volta à presença paterna na infância, ouço a voz da Maria Bethânia entoar os versos outrora proibidos de Chico Buarque:
"Pai, afasta de mim esse cale-se, Pai...".
Primeiro por osmose, já que o vinil Álibi loopava no toca disco da sala, no número 33 da Rua Imperatriz, Jd. Sto. Antônio, Osasco. Mas também por livre associação: mesmo que muitas vezes não concordasse, na maioria nem entendesse, Seu Brandão nunca tentou reprimir qualquer expressão que partisse do meu peito mundo afora.
Ao contrário, ensinou a apreciar leitura, me viciou em cinema, e jamais obrigou a ir na igreja. Logo depois dos 16, assinou a autorização e deu dinheiro pra pagar a primeira tatuagem.
Quando o grito de independência adolescente retumbou pelos quatro cantos da casa, respeitou minha opção de pegar trocentos trem, busão e camelar à solta na selva. Enquanto o gatuno aqui abusava do direito de ir e vir, ele montava guarda em frente à tv, me esperando voltar da balada, já de manhã. Com o coração na mão, hoje sei, mas nunca tentou proibir qualquer viagem ao fim da noite.
Durante muito tempo, o enorme valor disso tudo passou batido por mim.
Foi no escorrer dos anos que relatos de abandono, alcoolismo, abuso sexual e violência doméstica vindos da boca de amantes e amigos foram botando os fatos em perspectiva. Comecei a perceber os poderes daquele modesto herói cotidiano.
Mas foi só depois de me ver na condição dele, quando passei a ser chamado de pai pelos pedaços de luz que me escolheram, que a ficha caiu de verdade.
Caralho... é Das Tripas Coração 24 x 7, maluco!
Então aproveito a oportunidade de agradecer a esse mineiro de 69 anos por todo amor, dedicação e respeito. Não que a gente viva sempre às mil maravilhas. Até hoje, de vez em quando o bicho pega, tem muitas questões a serem discutidas e resolvidas.
Mas aprendi que só vale a pena brigar com quem importa, caso contrário é pura perda de tempo e energia. E até essa minha forma torta de carinho ele aprendeu a aceitar.
Oferecimento: Complexo Tatuapé
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Se fôssemos colocar na ponta do lápis, nossos pais já gastaram algumas barras de ouro para nos tornarmos quem somos hoje, seja arcando com os nossos custos, ou com o tempo gigantesco que eles investiram para nos educar, ensinar valores e nos amar.
Nesse Dia dos Pais, o Complexo Tatuapé vai dar uma ajudinha para retribuir um pouco do que seu pai já fez por você.
Além de um blog para ajudar a escolher um presente bacana, a cada R$ 250 em compra nos Shoppings Metrô Tatuapé e Boulevard Tatuapé, você ganha um cupom para concorrer a 10 barras de ouro, no valor de R$12.000,00 cada uma.
publicado em 01 de Agosto de 2015, 00:00