Chuva, estrada, tensão e alívio: peguei estrada de moto e caiu uma tempestade

Quando aquele final de semana de sol vira uma aventura perigosa

Era um sábado de feriado, daqueles que você acorda cedo com o calor do sol no seu quarto.

Não tinha uma só nuvem sequer e resolvi descer pra praia de moto, levando o mínimo do mínimo necessário pra aproveitar o dia com o pé na areia.

Olhei pra jaqueta que costumo usar quando pego estrada mas senti calor só de me imaginar vestindo ela. Optei pela jaqueta jeans leve que combinava mais com aquele dia ensolarado.

Mochila nas costas, luvas, capacete e asfalto.

Bancando a pose

Eu poderia ficar horas listando as delícias de viajar de moto, o vento, a batida do motor e a sensação de você e a máquina serem uma coisa só. Mas nada se iguala a delícia de passar entre os carros parados no engarrafamento de feriado enquanto você mentalmente diz "flw aí seus troxa".

Mas se a minha descida para a praia foi sob um prazeroso dia de sol, andando livremente entre os carros, a volta foi sob o terror de uma tempestade daquelas que não via há muito tempo. Nem a previsão do tempo esperava que aquele dia sem uma nuvem no céu ia terminar com aquele tanto de água e vento de derrubar árvore.

Os 101 Km entre a praia da Riviera no litoral norte de São Paulo e a minha casa em Santo André, região metropolitana da capital, foram percorridos — no português mais claro — com o cu na mão.

Os sinais da tempestade começaram a aparecer pouco antes da metade do caminho, quando comecei a sentir que as pancadas de vento faziam minha moto de 250 Kg balançar a ponto de precisar fazer contra-peso para moto não fazer curva sozinha.

Começou uma chuva fina, as folhas que soltavam das árvores pela força do vento dançavam sob o asfalto e, já molhadas, grudavam no capacete e na viseira.

Tentei procurar um lugar pra me abrigar, mas a rodovia dos Imigrantes que liga a capital ao litoral não tem postos de parada. O vento com os raios faziam a iluminação da rodovia apagar repentinamente, o que tornava o acostamento escuro um ponto ainda mais fácil pra ser assaltado ou atropelado por algum idiota sem respeito pelas leis de trânsito.

Decidi seguir viagem andando atrás dos pilotos mais experientes de chuva e trânsito: os motoboys.

Nenhuma moto andava a mais de 70 km/h, se não era pelo cagaço de tomar um tombo, era pela chuva densa que, quando batia, dava a sensação de ser de granizo. As partes descobertas do corpo chegavam a doer.

Depois de quase 2:30hrs de uma viagem tensa, cheguei no portão de casa, respirei aliviado de ter saído ileso daquela. Coloco o pé no chão, piso em falso, escorrego, desequilibro e lentamente minha moto cai, vou segurando até encostá-la no chão.

Rodo os quilômetros mais tensos da minha vida, saio ileso e tombo literalmente na porta da minha casa.

A mistura do alívio do stress com aquela cena absolutamente ridícula me deu uma crise de riso.

Ergo a moto intacta, sem nenhuma avaria. 

Harley é foda.


publicado em 12 de Dezembro de 2018, 13:32
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Rodrigo Cambiaghi

é especialista em mídia programática, monetização de sites e BI. Reveza o tempo entre filha, esposa, cão, trabalho, banda, moto, games, horta de casa, cozinha e a louça que não acaba nunca.


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