Se você mora no Brasil ou em qualquer outro país no qual a cultura ocidental é dominante, é provável que tenha incutidas na mente metas de vida bem comuns: estudar, trabalhar, achar a outra metade da laranja, viajar em janeiro, constituir família, financiar sua casa e, com sorte, um apê na praia mais próxima – morar de aluguel é cilada, hein!
Diria, rasamente, que esse nosso apego ao lar se originou ali no fim do Neolítico, quando o desenvolvimento da agricultura possibilitou que os povos estabelecessem moradia fixa.
E se hoje a palavra sedentarismo nos remete à bronca que levamos do médico na semana passada ou à mensalidade da academia que não frequentamos é porque a noção de que todo mundo tem ou deve ter moradia estabelecida já predomina no nosso imaginário. E realmente podemos dizer que a maioria dos povos, ocidentais e orientais, são sedentários e voltam pra uma única casa ao fim do dia, por anos a fio.
Mas enquanto estamos aqui sofrendo com o aumento do juros do financiamento da casa própria, é bom esbarrar em tesouros da internet que nos lembram que o mundo é maior do que cabe na nossa memória.
Ao menos foi isso que me veio à mente quando descobri que a Mongólia abriga cazaques nômades – povos que, de tempos em tempos, migram sua morada para diferentes regiões em busca de terras e comida.
Os cazaques são um povo turcomano originário da Ásia e hoje habitam, majoritariamente, o Cazaquistão. Mas há um número deles na China, na Rússia e, bem, na Mongólia, onde estão desde o fim do séc. XIX e vivem de forma nômade.
Levam uma vida campestre. Plantam, caçam, comem. Brincam com camelos, treinam águias para a caça. E vão embora.
Em meio aos tijolos e reboques das Américas, Europas e Ásias por aí, é sempre reconfortante recordar que não precisamos estar onde estamos. Lembrar que essa roda-viva é uma de várias, e que sempre dá pra pular de um carrossel pra outro.
Não que você deva ou possa juntar-se aos cazaques, mas lembre-se que temos um mundo bem maior sobre nós e que ele segue, e dele somos só uma parte. E que tem gente vivendo de todos os modos inimagináveis.
Quaisquer solidez e certezas a respeito da vida se relativizam diante dessa noção.
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