Castelo de Areia, o filme da Netflix dirigido por um brasileiro vale o tempo?

Com tema da guerra do Iraque, o filme é dirigido por Fernando Coimbra, com Nicholas Hoult e Henry Cavill

Depois do seu bom O Lobo Atrás da Porta, o diretor paulista de Ribeirão Preto Fernando Coimbra foi convidado pelo José Padilha pra dirigir dois episódios da série Narcos.

E o resto é história. Pouco tempo depois, a Netflix lança mais um título original em seu serviço de streaming, Castelo de Areia, um filme sobre a guerra do Iraque sob a perspectiva de um soldado que esteve lá e assina o roteiro, Chris Roessner. 

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Produção grande e importante, tem em seu elenco o Fera dos X-Men (Nicholas Hoult) e o Superman em carne e osso e barba (Henry Cavill). 

A história se passa ainda em 2003, logo no começo da invasão americana no Iraque, na rápida tomada do país pelas tropas estadounidenses. Matt Ocre é um soldado raso que não quer estar lá e, pra tentar acelerar sua volta, quebra a própria mão prensando-a na porta de um carro de guerra.

O Iraque mete medo. Um conflito armado mete medo. Esqueça as épicas e heroicas batalhas que Hollywood nos apresentou, tentando romantizar a violência militar em nome da liberdade e da salvação. Os Iraquianos não querem ser salvos e, quando o grupo de Ocre é destacado para uma missão de reconstruir uma instalação de água para reabastecer uma cidade, a hostilidade é a rotina. 

Coimbra trabalha bem com a câmera na mão, faz bons planos sequência tremidos buscando a urgência das tarefas, a escolha rápida que se precisa ter em uma zona de tensão. Ele filma muito bem também à noite, brincando bem com as luzes amareladas e romanescas para dar o tom de Oriente Médio com as luzes brancas e a potência do LED do ocidente. Mas o roteiro não o ajuda tanto. 

Castelo de Areia tem uma mensagem bem importante, a de que não há vencedores na guerra, ao menos não entre os combatentes, sejam marines com roupas de centenas de dólares ou rebeldes escondidos em montes de terra. É um filme que quer dizer algo que precisa ser ouvido, que a "América" não é salvadora de nada, não é heroína, as pessoas que estão ali não são importantes ou estão lá por um grande propósito, mas, sim, são as peças do tabuleiro da economia de guerra.

Mas a história em si vai pecando com clichês e personagens bem conhecidos, aquelas pequenas caricaturas do soldado silencioso e certeiro, do esquentadinho, do que exala testosterona. A sequência da história vai te dando informações do tempo todo do que vai acontecer, a montanha-russa é bem previsível. E daí acaba recaindo sobre a direção que segue esse padrão mais didático e menos experimental.

Faltou culhão, sabe? E o Netflix segue sua busca de fazer um filmão, mas ainda não acertou na veia.

Até aqui, nada de novo no front.

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Obs.: Este texto foi produzido do outro lado do mundo, no Japão! Estou em viagem na terra do sol nascente e escreverei daqui pelos próximos dias, com a ajuda da Seta Viagens, que me botou aqui. Acompanhem meus próximos artigos lá na minha página de autor.


publicado em 25 de Abril de 2017, 00:00
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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