Brooklyn Nine-Nine é uma série incrível. Além de engraçada pra cacete, ela possui uma diversidade muito bonita de elenco, com pessoas negras e brancas e latinos dividindo espaço na tela e na delegacia fictícia de Nova York.
E para além de tudo isso, a série acaba sendo um baita exemplo de como podemos mostrar masculinidades saudáveis sem ser bobo ou inverossímil ou, então, distante demais da nossa própria realidade.
O canal de cinema no YouTube, o Entre Planos, falou sobre isso.
São personagens que quebram esteriótipos, mesclam o tipo durão com as inseguranças naturais quanto a relacionamentos, carreira e paternidade. Tentam ser mais abertos e dialogam mais, ainda batendo cabeça, ainda tateando no escuro.
Temos um caminho a ser percorrido. Mas já é um começo bonito demais pra gente deixar de lado e não falar sobre.
Rápida ressalva sobre como o termo "masculinidade tóxica" vem sendo utilizado e os riscos envolvidos
Escrevemos sobre os limites e riscos envolvidos nesse texto aqui e o Guilherme explicou um pouco melhor nesse vídeo em nosso IGTV:
Sem mais, vamos a Brooklyn Nine-Nine
Jake Peralta: "deixa que eu resolvo, mas com a ajuda de vocês"
Como dito no vídeo, Jake é um cara que valoriza o tipão "deixa que eu resolvo tudo", mas não só conta com a ajuda dos seus parceiros policiais da delegacia 99 do Brooklyn como tem uma relação amorosa com sua parceira, Amy Santiago, muito saudável, sem a disputa na carreira, por cargos ou reconhecimento, não precisando se colocar como provedor na relação.
O vídeo do Entre Planos destaca uma coisa muito interessante: a comunicação que ele tem com ela, como namorados e como parceiros de trabalho. Em diversos momentos que poderiam ter um homem engolindo o que poderia ser falado ou lidando de forma torta com as próprias emoções, Jake consegue simplesmente dizer o que está sentindo e respeitar o espaço da companheira, criando ambientes muito mais interessantes para que os dois avancem, profissional e amorosamente.
Terry Jeffords: "ser emotivo não faz de ninguém menos durão"
Não precisamos dizer que Terry Crews é um cara gigantemente enorme de forte e que mete medo em qualquer pessoa só pelo espaço que sua massa corpórea ocupa no espaço. Mas aí que, pra nossa graça, seu personagem tem tudo isso, mas sendo o cara mais doce e sensato da série.
No início do programa, ele tem um medo enorme de voltar para campo e ser morto ou ferido e deixar suas duas filhas sem um pai. Durante a série ele reforça essa preocupação com a paternidade, sempre presente e preocupado com suas filhas, sempre botando ternura nessa relação.
O vídeo também fala de como ele é o mais emotivo da turma. "Ser emotivo não faz de ninguém menos durão"
Capitão Ray Holt: aquele que você respeita
Um cara negro e gay. Abertamente homossexual. Essa é a figura de maior autoridade na série. E esse fator é fundamental para o personagem. Sua motivação na série, o que o levou a ser essa pessoa respeitada foi justamente mostra para todos que debocharam dele que qualquer homem negro e gay pode ser tão bom policial quanto qualquer outra pessoa.
E funcionou.
Charles Boyle: Somos todos Charles Boyle
Ah, os gostos que os homens escondem para não serem taxados de "menininha", de "mulherzinha". A culinária (quando sabemos cozinhar, tem que ser "que nem homem", no final de semana, com tempo, algo grande, gordo, nunca o gosto pelas miudezas da cozinha), a dança (dançar é "pra pegar mulher"), artes e cuidados em geral.
Charles Boyle apenas coloca isso para fora sem nenhuma censura. O que faz, dele, muito mais homem que muito marmanjo por aí.
A amizade não sexual
A provável coisa mais interessante de Brooklyn Nine-Nine é a amizade não sexual entre as pessoas na série. Existe, sim, a aproximação romântica entre duas personagens, mas não nos detemos a isso e nem é um fator que vive se repetindo. Temos homens e mulheres, gays e bissexuais convivendo sem o apelo sexual, se a necessidade de um estar próximo do outro pelo apetite sexual.
O afeto Masculino
Outra faceta brilhante da série é poder demonstrar com naturalidade o afeto masculino, o carinho constante que os personagens masculinos têm uns com os outros, a admiração aberta e falada, os cuidados e carinhos.
"Momentos de verdadeira conexão com seus amigos". É disso que se trata. Tudo. Desde o começo.
Não precisamos esconder pedaços da gente, não precisamos aturar fardos pesados demais em nossas costas, não precisamos resolver o mundo porque, bem, porque é assim que tem que ser.
E Brooklyn Nine-Nine mostra que isso é possível, saudável, almejado e até engraçado.
Leve. Como pode ser.
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