Recentemente, o jazz vem experimentando um processo de revitalização. A ascensão de grandes intérpretes femininas, como Diana Krall e Madeleine Peyroux, capturou a atenção do grande público. O resultado disso foi a recontaminação do pop pelo jazz, gerando artistas mais comerciais como Norah Jones e James Cullum.
Embalado em toda essa geração, Brad Mehldauaparece como o Dom Quixote do jazz contemporâneo.
Suas interpretações se preocupam mais com a desconstrução do que com a reprodução, estando sempre alinhadas com sua proposta estética. Nesse sentido, Mehldau fez releituras fulminantes de Radiohead (“Paranoid android”, “Knives out”, “Exit music”), Nirvana (“Lithium”, “Smells like teen spirit”) e Soundgarden (“Black hole sun”), sempre com execuções marcadamente expressivas.
Highway Rider, uma obra-prima
Em março desse ano, Mehldau lançou seu mais recente disco: Highway Rider. Trata-se de um disco duplo e conceitual em que Mehldau explorou profundamente suas habilidades como compositor. As faixas exibem temáticas existencialistas com arranjos carregados de melancolia. A produção ficou por conta de Jon Brion, que já trabalhou com Fiona Apple, Dido, Evan Dando e Keane.
Highway Rider é um disco provocativo, no sentido de incitar o ouvinte a mergulhar no universo de Mehldau. O pianista recheou as linhas melódicas com notas abafadas e cobriu os arranjos com violinos, cellos e violas. “Now you must climb alone” e “Walking the peak” traduzem bem essa intenção.
Os metais ficam em segundo plano. O fiel escudeiro de Mehldau, Joshua Redman, aparece com seu saxofone para compor a cama em que o lirismo do pianista vai se deitar. Sua presença secundária em “Capriccio” é fundamental para o desenvolvimento percussivo e fragmentado da composição.
Link YouTube | Escrita em 7/8, atinge o ápice a partir de 5:40, sente só.
O virtuosismo e a interação com a banda ficam mais marcantes na descomprometida “The falcon will fly again” e na nervosa “Into the city”. Além de Redman, nesse álbum Mehldau vem acompanhado do baixista Larry Grenadier e dos bateras Jeff Ballard e Matt Chamberlain, que já haviam trabalhado com Brad em Largo (2002).
A impressão que Highway Rider deixa é a de um artista buscando firmar sua autenticidade. A proposta estética de Mehldau, lírica e melancólica, está muito bem distribuída entre as faixas. O excesso de cordas nos arranjos as vezes artificializa as melodias, juntamente com a produção cristalina de Jon Brion. No entanto, os arranjos introspectivos são parte da tentativa épica de se construir um álbum conceitual. E nisso, Mehldau logra extremo êxito.
Apresentação solo em São Paulo e no Rio de Janeiro
O pianista está de passagem pelo Brasil. Sem a banda, mostra sua virtuose e expressão na Sala São Paulo hoje (29), às 21h. Os ingressos vão de R$ 60 a R$ 150 e ainda dá tempo de garantir o seu.
No Rio de Janeiro, Mehldau participará do “Jazz All Nights”, sábado, dia 2 de outubro, às 20h30, no Theatro Municipal. Ingressos de R$ 40 a R$ 720. Informações: (21) 2262-3501 | www.theatromunicipal.rj.gov.br

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