Há algum tempo o Ivan, outro brasileiro aqui no meio da arabianada, tava me incitando a comer a tal da Bacha, ele fala que a gente tem que conhecer bem a cultura local, se “aprofundar”.
Queria eu que a Bacha fosse o que vocês estão pensando, mas infelizmente não é.
Bacha é uma especiaria árabe bastante tradicional nos países do Golfo, basicamente é comer cérebro, língua e bochechas de carneiro numa espelunca pós-apocalíptca.

O lugar onde o Ivan trabalha tem tantos árabes como onde eu trabalhava tinha indianos e depois de tanto ele insistir finalmente marcou com o Ahmed, redator da agência dele, mulçumano desde que deu o primeiro suspiro no mundo, o que provavelmente deve ter sido Alá, pra irmos comer a tal da Bacha.
Marcamos de encontrá-lo em um shopping em Citra, uma outra cidade. No caminho o Ivan foi logo preparando o espírito da gente:
“Rafael, nem vem com tuas putarias que o cara é muito islâmico”.
Beleza. Chegamos lá, encontramos o cara, apresentações, tapinhas nas costas, aquele clima amistoso e fomos com ele pra outra cidade, Riffa (se pronuncia Rafa), num bairro que estou esquecido do nome, mas que é bem tradicional. É lá que que fica o estabelecimento bachístico.

O restaurante
O “restaurante” era totalmente detonado, só tinha uma mesa grande azul calcinha de fórmica onde todos comiam juntos, ventiladores de teto (dois e meio) e uma janelinha da qual você podia assistir de camarote o espetáculo que é ver aqueles cozinheiros de filme do Rambo extraindo os cérebros das cabeças sem vida e devidamente refogadas dos carneiros.
Pratos na mesa, vamos lá, pra ser mais roots ainda comemos com as mãos, não consegui passar do “dar só uma provada de cada coisa pra dizer que comi”. Impressionante como o Ahmed comia aquilo com gosto, tinha hora que todos os dedos da mão dele desapareciam dentro da boca, aquilo sim é um malabarismo.


O Ahmed, mostrando que era um bom anfitrião, pagou a conta. Saindo de lá fomos pra uma casa de Shisha, pra quem não sabe, Shisha é aquela traquitana com mangueira que as pessoas usam pra fumar, aí no Brasil também é conhecida como Narguilê (os libaneses levaram pra o Brasil com esse nome, é como eles chamam lá). Tem vários sabores, menta, pêssego, maçã, etc.
Pedi um de menta. Conversa vai, conversa vem, não resisti, vi que o Ahmed estava mais solto e quis descambar pro lado libertinoso da conversa. Estávamos falando de viagens e tal, ele disse que queria conhecer a Espanha, pronto, deixou a bola quicando:
“Imagina Ahmed, aquelas praias lindas, Ibiza, com aquelas mulheres maravilhosas fazendo topless…”
Ele me cortou:
“Eu quando viajo é pra conhecer os lugares e a cultura.”
Bem feito, Rafael. No mais foi tudo tranqulio, tirando a vontade de vomitar na volta. Dessa vez, mostrando que também somos bons convidados, pagamos a conta.
Seguem no artigo as fotos da presepada. A Bacha – não vomitei em cima, eu juro – os cozinheiros, a espelunca e eu tentando comer.
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