Atendendo ao chamado da natureza: agora na prática

Nota do Editor: Há alguns dias lançamos um texto falando sobre o livro de Jack London, O Chamado da Natureza. Ficamos bastante empolgados com a ideia de nos expormos cada vez mais a este contato. Estamos organizando nossos próprios encontros e gostaríamos muito de compartilhar esta aspiração e, ao mesmo tempo, inspirá-los a fazer suas próprias expedições.

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“No man should go through life without once experiencing healthy, even bored solitude in the wilderness, finding himself depending solely on himself and thereby learning his true and hidden strength.” –Jack Kerouac

Infelizmente, os caras do Wilderness Collective não permitem a incorporação dos seus vídeos em sites externos. Mas este texto foi inspirado, em grande parte, pela iniciativa deles. E deixo, de coração, a indicação. Vejam este vídeo e tentem não sentir vontade de cair na estrada e enfrentar o mato.

Esta não é uma crítica à sociedade, nem uma chamada hippie e, muito menos, uma crítica aos confortos da vida. Isto aqui é um chamado pro nosso lugar original de nascimento.

Toda vez que ouço alguém dizer que não gosta de explorar a natureza por causa dos insetos, do frio, do calor ou do desconforto, sinto uma tristeza muito grande. A natureza não é isso ou aquilo, a natureza somos nós, tudo o que somos hoje foi moldado pela natureza. Dizer que não gosta da natureza é negar a sua própria origem.

O modo de vida dito “alternativo” hoje era, na verdade, nossa real condição de vida até bem pouco tempo atrás. Faz pouquíssimo tempo que nossa vida ficou tão fácil e o “padrão” virou uma tentativa de manter nossos lares, nossas mãos, nossas vidas longe das “sujeiras” do mundo natural.

A natureza é algo tão latente e presente nos nossos espíritos que programas que exploram esse contato direto não param de surgir e se tornar hits, como À Prova de Tudo, Desafio em Dose Dupla, Sobrevivi, Casal Selvagem, Desafio 4x4 e muitos, muitos outros.

Será que os milhares de telespectadores desses programas não têm vontade de encarar a natureza de frente, testar suas habilidades e poder soltar o seu lado mais selvagem? Eu acredito que sim. Mas isso ainda é uma realidade distante, pelo menos no Brasil.

A ABETA (Assoc. Bras. das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura), em parceria com o Min. do Turismo, promoveu uma pesquisa para conhecer o perfil dos consumidores de ecoturismo e turismo de aventura. Essa pesquisa apontou que 41% das pessoas nunca fizeram ou fizeram apenas uma atividade dessas e, dos que fizeram apenas uma atividade, 26% disseram que fizeram passeios de buggy e 24% disseram que fizeram cavalgadas.

Se 41% dos quase mil entrevistados não tem contato constante com a natureza, me parece que algo está errado.

E o documento ainda levanta uma questão que me incomoda: o pouco incentivo que as crianças têm para vivenciar a natureza hoje pode afetar as futuras gerações também.

“O elevado envolvimento das crianças com atividades indoor – os shoppings centers, TV, videogame, internet em geral e a prática de esportes em quadras e academias – tem distanciado-as da natureza e da prática de atividades ao ar livre. Os carrinhos de rolimã, mencionados como aventuras da infância, deram lugar a jogos virtuais ou em pistas de concreto.
A elevada taxa de urbanização e a violência urbana também contribuem para o encasulamento das famílias. Muitos de nossos entrevistados descreveram cenas da infância e se emocionaram ao fazê-lo. No médio prazo, grande parte das crianças de hoje não terão lembranças de vivências na natureza, porque sequer a conheceram. Assim, crianças sem experiência levam à adultos sem resgate e, consequentemente, a um encolhimento do mercado de atividades na natureza.”

A natureza que não vivenciamos hoje é a natureza com a qual nossos filhos não terão contato no futuro; são as imagens de desmatamentos e queimadas que não nos emocionam, pois nunca nos relacionamos com aquele mundo.

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“It’s almost as if the wild was designed as a proving ground for people. A place to face your fears, to wake up wet, cold, shivering and warm ourselves by a fire the next morning. It’s a chance for all of us to find out what we are made of to be measured by the wilderness.” –Wilderness Collective

A natureza é nossa casa mais antiga. Mas não é uma casa qualquer, é um lugar que nos desafia, exige atenção constante, onde sujar as mãos e a cara não é opcional, fazer o que tem que ser feito é lei e ainda ficamos com um sorriso depois de tudo isso.

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Ao mesmo tempo, a natureza é algo que evoca reverência, que nos faz sentir pequenos perante sua vastidão. Essa amplidão e sutileza do mundo à nossa volta consegue acabar com nossa mania de nos sentirmos especiais de um jeito muito impactante.

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Um pouco mais de inspiração

"Live in the sunshine, swim the sea, drink the wild air." –Ralph Waldo Emerson

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O que proponho é que nós abandonemos – mesmo que por um instante – a tela do computador pela realidade das montanhas, a água encanada pela correnteza dos rios, a luz das lâmpadas pela luz das estrelas, o cheiro de gasolina pelo cheiro das matas e os sons dos alto-falantes pelos sons dos bichos.

Só assim poderemos nos sentir fortes, vivos, maiores do que nós mesmos e saborear o verdadeiro gosto de voltar ao nosso lar há tanto esquecido.


publicado em 18 de Fevereiro de 2013, 13:46
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Marcos Bauch

Nascido na Bahia, criado pelo mundo e, atualmente, candango. Burocrata ambiental além de protótipo de atleta. Tem como meta conhecer o mundo inteiro e escreve de vez em quando no seu blog, o De muletas pelo mundo.


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