As portas lacradas

De quando dois se abrem pro inesperado e se deixam invadir pelos sentimentos

Nota de Marcela, a editora: foi entre um turbilhão de e-mails que recebi o da Juliana. É sempre uma delícia quando alguns minutos do nosso dia nos são sequestrados por histórias pessoais dos nossos leitores, que às vezes nos fazem rir ou solidarizar. A da Juliana, no entanto, amoleceu os corações por aqui. E conto o porquê.

Ela e Thiago comemoram dois anos de casados hoje, no dia 21 de maio de 2016. Nas palavras dela, "dois anos de casada com o homem mais incrível que minha alma poderia reconhecer". E o PapodeHomem, como ela mesma contou, tem sido parte da rotina do casal desde o início: de segunda a domingo, os cafés-da-manhã são recheados de bons papos e troca-troca dos nossos artigos que mais os tocaram.

Juliana nos pediu, então, que a ajudássemos num presente surpresa pro Thiago: quando ele abrir o PdH hoje de manhã, vai se deparar com essa declaração de amor, uma metáfora de como eles – e outros tantos casais – se conheceram e floresceram um com o outro.

Thiago e Juliana, parabéns. Espero que o artigo aqueça a manhã de sábado de todos os nossos leitores.

* * *

Ela falava como se quisesse silenciar. Falante no jeito de agir, servia apenas para esconder a vida. Sorria e se abria e assim tecia a cortina que escondia seus sentimentos, pois na realidade era mais fechada que uma porta lacrada.

Não queria se abrir, não havia quem a ouvisse, era preciso encontrar uma maneira de abrir a porta por dentro, e pra isso necessário se faz adentrar em seu mundo, estranho, esquisito e obscuro. A coragem para adentrar faz a porta se abrir, é como o abra-te sésamo, e após, fecha-se novamente. Uma vez lá dentro, dificilmente quererá sair, pois ela esconde tesouros inimagináveis e os dará ao único que embarque na aventura de desbravá-la para sempre.

Certa vez alguém parou em frente a porta. Dado à enigmas, passou a observar o quanto parecia comum. Logo percebeu tratar-se apenas de um dos disfarces que ela usava. Foi fácil descobrir, pensou ele, que também andava disfarçado, também era uma porta lacrada. Decidiu falar, deixou que ela ouvisse sua voz. Rapidamente sentiu não tratar-se de uma voz como as outras. Mas o que haveria de diferente que chamara sua atenção?

Dada à enigmas, passou a observar a voz intrigante, notou que essa voz fazia sua porta vibrar. Tomada de um susto repentino, pensou que era a primeira vez que isso acontecia, pois portas bem fechadas e lacradas não vibram e ainda mais disfarçadas de comum. Quem gostaria de conversar com uma porta comum? Decidiu ouví-lo falar também: 

— Engraçado, minha porta está vibrando. Não gostaria que vibrasse, preferia imóvel da maneira que estava.

Ambos tiveram a coragem de falar dos motivos de se manterem fechados. Perceberam que conseguiam se ouvir, pois falavam o idioma das portas lacradas. Enquanto falavam as portas vibravam e abriam e eles adentravam um no mundo um do outro.

Decidiram, então, embarcar na aventura maravilhosa de se desbravarem juntos, para sempre.


publicado em 21 de Maio de 2016, 05:30
Juliana

Juliana Rosal

Mãe de 3 meninas, teóloga, coach e escritora. Adora cozinhar e conversar com os alimentos, mas prefere passar horas nos braços de Thiago, seu amor. Plantou uns pés de alface no quintal e todos os dias quando olha para eles, sonha em ter uma horta.


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