As 10 Qualidades do Homem Guerreiro - Parte II

Você deseja viver como um Guerreiro?

Então comece lendo a primeira parte desse artigo, que é sem sombra de dúvidas um dos melhores a passar pela PapodeHomem.

Continuação...

6. O guerreiro encara tudo como um sonho

viajante

O leão vem nos atacar. Ficamos apavorados e saímos correndo. Mas era tudo um sonho... Viver a vida como um sonho, ver a qualidade onírica de tudo. Essa simples metáfora do sonho causa várias transformações no guerreiro: ele não se leva a sério, ele não dá solidez às situações, ele se livra de certezas e crenças, ele age sem medo.

O guerreiro afirma que a maioria dos humanos continua dormindo no estado de vigília. Quando as coisas aparecem, reagimos de modo condicionado e corremos de vários leões de sonho. A liberação desse processo é similar a um sonho lúcido (aquele no qual, durante o sonho, você sabe que está sonhando): ser capaz de viver sabendo que tudo é um sonho. No grande despertar, o sonho não cessa. Ele apenas perde a substancialidade que antes nos aprisionava.

7. A filosofia do guerreiro tem corpo

O conhecimento desincorporado é estéril e absolutamente inútil. A filosofia do guerreiro não é senão seu corpo em ação. Em vez de guardar saberes, ele faz uso deles para se posicionar no mundo. Cada novo insight mental transforma-se em uma posição específica. Cada teoria ajusta a postura. O que importa não é o conteúdo, mas a flexibilidade que ele gera ao esticarmos nosso corpo e mente na tentativa de apreendê-lo.

Ao ouvir alguém, o guerreiro observa o corpo e aprende com ele. Ao falar, o guerreiro não está interessado em transmitir idéias e informações. Ele mira o corpo do outro. Cada palavra é um golpe – de ataque ou sedução, de violência ou carinho.

8. O guerreiro anda com a morte ao lado

Todo dia, o homem guerreiro levanta e se lembra que vai morrer. Seu primeiro e último pensamento é: todos vamos morrer. Isso tira a importância e concede leveza a seus atos. Ao manter essa lembrança, seu corpo transforma-se em um aviso aos outros: "Todos vamos morrer". E então as pessoas realizam seus desejos e fazem loucuras ao seu redor. Elas agradecem a ele, mas ele sabe que ações assim são fruto do poder de agir com a perspectiva da morte.

Sabendo que vai morrer, o guerreiro não se distrai, não entra em discussões tolas, não perde tempo. Se a relação é medíocre, ele a abandona. Se o local se estagnou, ele se muda. Ele não desperdiça sua energia vital. Quando alguém age como se fosse imortal, ele chama a morte e a coloca face a face com ele. O homem guerreiro é parceiro da morte.

9. A única preocupação do guerreiro: oferecer suas habilidades ao mundo

Sem interesses autocentrados, sem ideal de sucesso, sob a sombra da morte, só resta ao guerreiro oferecer o que tem de melhor ao mundo. Ele associa suas artes e habilidades a grandes projetos e tenta enriquecer, como pode, esse sonho coletivo que vivemos.

O guerreiro faz de seus atos um presente a todos. Presente que entrega sem que ninguém peça. Ele também não espera elogios ou agradecimentos, apenas entrega e se vai. É isso o que fazemos aqui: nascemos, fazemos alguma coisa e morremos a seguir. Ainda que faça seu melhor, o guerreiro não guarda a ilusão de que isso seja mesmo uma grande coisa. É apenas alguma coisa, uma forma de agradecer pela oportunidade antes de morrer.

10. O guerreiro repousa além das construções

guerreiros

Mulheres vêm e vão. Amigos se apresentam e se despedem. Trabalhos começam e terminam. O guerreiro nunca se vincula totalmente a algo, pois sabe que tudo é impermanente. Paradoxalmente, essa mesma impermanência o faz se dedicar totalmente a cada mulher, amigo ou trabalho. Para o olhar dos outros, o guerreiro é muito ativo e está fazendo mil coisas. Mas o guerreiro é imóvel. Sua imobilidade faz com que ele seja impassível, imperturbável.

Seus pés não estão nas construções que ele executa. Quando o construído desmorona, ele não cai junto. Sua consciência não se identifica com nada que surge na mente: pensamentos, emoções, idéias, medos, desejos. Tampouco ele se identifica com o que surge no corpo: doença, decrepitude, envelhecimento. Sabendo que não é nada disso, ele transita e vive tudo com intensidade.

Seu mundo é um grande cinema com incontáveis filmes em cartaz. Ele sabe que são filmes e mesmo assim escolhe entrar, rir e chorar. Adentrar todos os mundos e seres é sua prática de coragem. Lembrar, em meio ao filme, que ele está em um grande cinema – eis sua prática de liberdade. Mas como ele faz isso?

O guerreiro vê, ao mesmo tempo, o conteúdo do filme e a tela atrás. Os conteúdos se alternam. A tela é sempre a mesma. Livre de qualquer conteúdo, para que possa apresentar qualquer enredo. Sem cor ou som, para que possa mostrar todas as cores e sons. A tela é nossa verdadeira natureza.

O guerreiro sabe que somos a liberdade da qual tudo brota. É essa sua base, seu único refúgio.

Dedico esse texto a Lama Padma Samten, Chogyam Trungpa, Carlos Castaneda, índio Don Juan, Miguel Ruiz, Pema Chodron e Charlotte Joko Beck, mestres na arte de viver como um guerreiro.

ps: hoje, 1 de Novembro, é Dia dos Homens

Gustavo Gitti é formado em filosofia e passa a vida tentando meditar, tocar bateria e dançar salsa, samba e tango. É autor do "Não Dois, Não Um", um blog sobre relacionamentos lúcidos (para homens e mulheres).

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publicado em 02 de Novembro de 2007, 09:04
Gustavo gitti julho 2015 200

Gustavo Gitti

Professor de TaKeTiNa, colunista da revista Vida Simples, autor do antigo Não2Não1 e coordenador do lugar. Interessado na transformação pelo ritmo e pelo silêncio. No Twitter, no Instagram e no Facebook. Seu site: www.gustavogitti.com


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