Dias atrás escrevi uma lista de 45 cervejas imperdíveis, icônicas. Com uma lista tão grande de cervejas bebidas, a gente pode até achar que bebeu a melhor da vida, mas eu ainda não bebi e acredito você ainda não bebeu.
Explico.
Enquanto estivermos vivos, sempre estaremos em busca de algo melhor. Fazemos isso há milênios, é natural da espécie. A cerveja foi descoberta não mais que dez mil anos. Mas como isso afeta a maneira com que a consumimos hoje?
Desde que foi descoberta, a bebida então passou o maior sufoco para estar em nossos copos como está hoje, brilhante, cheia de bons aromas, acidez na medida. Como é difícil fazer uma cerveja equilibrada. É preciso muito tempo para gerir esse conhecimento.
“Um conjunto de evidências, porém, indica que essas idiossincrasias mistas de humanidade têm, na realidade, uma linha em comum: elas são, basicamente, o resultado da seleção natural, atuando para maximizar a qualidade dietética e a eficiência na obtenção de alimentos. Mudanças na oferta de alimentos parecem ter influenciado fortemente nossos ancestrais hominídeos. Assim, em um sentido evolutivo, somos o que comemos”, Diz William R. Leonard em seu artigo na Scientific American Brasil.
A experiência nos traz sensações também. Eu gosto de pensar sobre subjetividade e experiência pessoal. Não é só o sabor que vai ser sentido, toda a atmosfera precisa estar em harmonia. Toda a sua bagagem de vida está ali com você, julgando o sabor, o acontecimento, a iluminação. De forma que você nem precisa se preocupar em fazer isso consciente.
Relaxa.
O importante na maioria das vezes é não estar com a postura crítica. Chega num lugar, escolhe a sua bebida e aprecia, simples assim. Não precisa toda vez ser um “Julgamento de Paris”. Algo que será extraordinário. Essas coisas quase sempre acontecem no detalhe, no inusitado.
Chegamos num ponto em que a evolução pode ser procurada em um prato de comida, em um estilo de cerveja. O que antes era cru agora tem o fogo, nos traz sabores inusitados. O que era quente agora congela, o que era líquido vira espuma, o que era mole vira crocante.
Com a cerveja a mesma coisa.
O que antes era amargo agora é saboroso. O que antes era ácido agora saliva prazeroso. Para você antes a cerveja era a mais clara e límpida possível e agora pode ser escura sem nem ver do outro lado. Antes de tudo a cerveja era só um mingau, servido como alimento para as famílias. A coisa foi mudando para melhor.
Assim nos surpreendemos e observamos os detalhes em uma escala menor, mais qualificada e até sutil, um tom de voz bem baixinho, aquele que poucos param para escutar. Nem todo mundo vai perceber o quanto aquilo é bom. Faz parte se acostumar com o tempo de cada um e respeitar as escolhas. Sua melhor cerveja não é a melhor cerveja do amigo. Nossas idiossincrasias são parte da nossa personalidade, nosso paladar também nos torna únicos.
Filosofias necessárias à parte, o que podemos falar sobre ler, estudar, pesquisar, degustar e apreciar? Pensa em um item que gosta muito, o quão longe você iria para tornar aquilo melhor, do melhor jeito? No meio do caminho essa busca traz amigos, pessoas legais, contatos profissionais, vivências, pessoas que estão no mesmo caminho que nós, pessoas que estão ali porque vão te ensinar alguma coisa. Unimos-nos também como apreciadores de um mesmo item.
Todos fomos/somos brahmeiros ou tomamos uma que “desce redondo” ou até mesmo cristalizamos as garrafas no freezer e vibramos com a “canela de pedreiro”. Que atire a primeira pedra quem nasceu assim, bebendo puro malte. Que sorte as novas gerações tem de chegar a um mundo onde podemos mudar a forma como a bebida alcoólica é tratada. Não é remédio, não é terapia, não é fuga, é parte de uma história, é respeitada. O álcool em excesso é temido, as consequências são sabidas. Por isso, apreciar é também respeitar os limites.
A melhor cerveja é aquele que não te faz mal.
Mas, mesmo não tendo tomado a melhor cerveja, tenho uma lista de preferidas, como é o caso da Westvleteren. Engraçado é que todas foram cervejas que bebi em dias felizes, em ocasiões em que o sorriso fazia parte do contexto. Tem aquelas bebidas que dias depois você repete e o gosto não é o mesmo. Não culpe só ao cervejeiro. As degustações de maneira geral são muito abstratas.
A cerveja do dia da semana, aquele ligeira, aquela leve e refrescante pode ser mais do que uma gelada. A cerveja do churrasco, do dia todo, do final de semana, pode ser mais do que quantidade. A cerveja da comemoração, da festa ou da balada, pode ser mais do que um status.
Eu vou sempre buscar no próximo gole o melhor momento, e mesmo que eu ache ele várias vezes, vou continuar procurando!
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