Quando saí pra correr hoje mais cedo, decidi que faria diferente do habitual. Seria um percurso calmo, sem preocupações com o tempo. E foi uma experiência excelente. Acabei de chegar em casa, tirei a roupa, tomei um banho e sentei para escrever.
Foi aí que a ficha caiu.
Minha corrida
Sou louco por desafios. Quer me ver completamente motivado? É só dizer que não vou conseguir, que é melhor nem tentar. “Eu já tentei fazer isso cara, melhor você deixar pra lá.” Nesse momento eu tenho uma nova meta, e eu vou atrás dela. Mesmo que eu não atinja a meta, eu gosto de saber que fui até onde eu podia.
Correr entrou de vez na minha vida desse jeito.“Qual é o seu tempo? Você faz ideia de qual é o tempo dos primeiros colocados?”
Começar a correr exige alguma perseverança. Embora a maioria das pessoas consiga completar os seus primeiros quilômetros em algumas semanas, pergunte para quem está começando hoje se não dá uma vontade incontrolável de desistir quando o ar começa a faltar, ou quando aparece aquela dor escrota, como uma faca atravessando o abdômen. Ali mesmo, no meio do caminho, você quer sentar e tomar um longo gole d’água.
Seja lá qual o seu motivo, com alguma vontade, em um mês você já treinou o seu corpo pra resistir àqueles principais sintomas do desertor. Você já está habituado ao lugar, às imperfeições da pista, descobriu a sua melhor passada, entendeu seu ritmo e como respirar da forma mais confortável. A sensação de alcançar isso é indescritível, principalmente quando se leva uma vida sedentária e atordoada, como a que muitos de nós levam.
Legal, mas eu só tinha começado. Agora era hora de correr “de verdade”. Pelo menos foi o que imaginei.
Em pouco tempo alcancei uma marca que para mim era satisfatória. Foram sete meses correndo, correndo e correndo feito um louco. Eu só pensava nisso. Como meu trabalho não tem uma rotina exatamente definida e nada mais me impedia, não era difícil me encontrar na rua depois da meia noite, ou às 5 da manhã, treinando.
Vim, vi , venci, mas tive que parar
Fiz uma prova de 10km e fiquei entre os dez primeiros da minha categoria. Não foi só o desafio, eu tomei muito gosto pela coisa. Correr se tornou parte da minha vida, e ninguém podia me parar.
Foi em março de 2011 quando senti a primeira lesão. Parei. Não procurei nenhum médico, mas entendi que precisava reduzir a carga, foram três meses entre poucas passadas e várias dores. Quando me senti melhor, retornei, mas logo a coisa ficou mais séria. Resultado: consegui uma fratura por estresse na outra perna.
— O que é isso doutor?
— Resumindo, você está com a perna quebrada, filho. É melhor engessar.
Eu já estava treinando há um mês nessa condição. Atletas utilizam outros métodos durante a recuperação, mas esse não era o meu caso. Fiquei 31 dias com uma bota sintética, e após três meses ainda sinto as consequências de ter imobilizado um membro.
Uma mudança de passada
Em algum momento eu deixei a essência da corrida ir embora, e sem isso não sobra muito. É legal ser competitivo, mas correr é muito mais que isso, afinal, não pretendo me tornar um atleta profissional.
Hoje foi diferente, correr com música é bacana e ajuda a manter o ritmo, mas quando se pode fazer isso sem barulho ao redor, ouvindo a respiração e sentindo cada passada, é inspirador. Chegar ao final sem estar ofegante e com pique para mais uma voltinha é ser tornar pleno correndo.
Mesmo com muito esforço, existem limites que estão além da nossa vontade, cuidar do próprio corpo é fundamental nessa relação de se superar, e ignorar isso é colocar tudo a perder. Ainda tenho aquela vontade de alcançar um lugar no pódio, pegar aquele troféu e registrar pra sempre esse momento. Queria mostrar no futuro para o meu filhote, quando ele estiver maior.
Mas, me cuidando, darei um troféu melhor ainda a ele: os dias em que poderemos sair juntos para um cooper tranquilo, com o sol abrindo uma bela manhã no final de semana.
Correr não é chegar ao final, isso é consequência. Correr é o próximo passo. Só isso.
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