“Vivemos o tempo dos objetos: quero dizer que existimos segundo o seu ritmo e em conformidade com a sua sucessão permanente. Atualmente somos nós que os vemos nascer, produzir-se e morrer, ao passo que em todas as outras civilizações anteriores eram os objetos, instrumentos ou monumentos perenes, que sobreviviam às gerações humanas.” (Jean Baudrillard, em A Sociedade de Consumo)
A foto acima não é o retrato de uma cadeia superlotada. É um retrato do consumo como manifestação da identidade.
A imagem foi capturada por mim ontem, na estação Cosme e Damião do metrô do Recife, após o empate entre Costa Rica e Grécia pelas oitavas-de-final da Copa do Mundo de 2014. É o registro de parte das centenas de pessoas (a maioria crianças) que, aos gritos, disputavam os copos que os patrocinadores distribuem a cada cerveja, refrigerante ou água comprada em um dos estádios do Mundial.
Durante os últimos anos, muito se falou sobre a etilização da arquibancadas da Copa do Mundo em razão do alto preço dos ingressos. Em 2013, falamos muitos dos rolezinhos.
Miramos o que vimos, acertamos o que não vimos. No bairro da Várzea, alguns copos de plástico foram mais que o suficiente para escancarar o tamanho do abismo que há entre os torcedores que levavam os souvenires e os moradores escorados no corredor gradeado rumo à linha do trem.
Ali, colocar a mão em um Copo era, na prática, um maneira de fazer parte da Copa que só se vê na televisão.
***
Uma Copa do Mundo se faz com pessoas.
As que entram em campo, as que viajam para testemunhá-la, as que enchem as ruas, as que se voluntariam, as que torcem e as que veem no evento uma oportunidade para garantir seu sustento ou para extravasar.
A seção “Álbum de Figurinhas” pretende contar, com um microrrelato artesanal e um retrato por dia, a história de algumas dessas pessoas, muitas vezes invisíveis, que povoam os bastidores da Copa do Mundo do Brasil.
Para ler todos os textos, basta entrar no nosso Álbum de Figurinhas.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.