Era final de Copa do Mundo.
Domingo à tarde, milhões de brasileiros estavam reunidos em frente à TV para assistir França e Croácia definirem quem seria a nova campeã mundial de futebol quando, já próximo do final da transmissão, o comentarista da Rede Globo Walter Casagrande aproveita a oportunidade para falar de um problema que passa longe da programação global – e televisiva, de modo geral: dependência química.
"Essa foi a Copa do Mundo mais importante da minha vida. Eu tinha a proposta de vir sóbrio, permanecer sóbrio e voltar para casa sóbrio. E eu consegui", afirmou o ex-jogador que disputou a Copa de 1986 com a camisa da seleção brasileira que, mesmo não tendo vencido, é considerada por muitos um dos times mais talentosos da história do futebol.
A declaração, como raramente acontece na TV, parece espontânea, ingênua, dada sem ensaios, sem "media trainning" ainda que Casão esteja bastante acostumado aos microfones. De qualquer forma, emocionou o folclórico narrador Galvão Bueno que, após uma pausa, com olhos marejados e voz embargada parabenizou o colega de trabalho (a quem tanto ajudou na recuperação).
No turbilhão do encerramento de uma cobertura de Copa do Mundo, a declaração teve que disputar espaço com a própria notícia de que a França conquistou o título, mas não deixou de ser fundamental para trazer à tona, para fazer passar pela cabeça das pessoas, para virar debate na sala de casa um problema que afeta milhões de pessoas, sobretudo homens, e que mesmo assim é constantemente varrido para baixo do tapete.
Casagrande é um exemplo raro de personalidade e, mais ainda, de esportista que foi capaz de admitir que tinha um problema, se reabilitar e ainda continuar com espaço na mídia. Hoje ele já lançou um livro falando sobre sua luta para superar o problema, fez uma série no Fantástico com o Dr. Dráuzio Varella sobre dependência química e tem dado palestras em vários clubes para orientar jovens jogadores e evitar que histórias como a sua se repitam.
Ele, porém, passa longe de ser o único que já teve problemas sejam eles de dependência química, alcoolismo ou depressão.
Para ficar só em três casos:
Casagrande já foi viciado em heroína e cocaína. Mesmo se tornando ídolo de uma das maiores torcida do país, chegado à seleção brasileira e jogado em times importantes da Europa, o sucesso não foi capaz de livrá-lo das drogas que lhe renderam uma internação em clínica de reabilitação e um tratamento "para sempre".
Adriano "Imperador" se tornou alcóolatra e entrou em depressão depois que seu pai morreu em 2004, fato que fez o ex-jogador de 36 anos abandonar a carreira promissora para se reaproximar dos amigos e da família no Rio de Janeiro em busca de uma reabilitação que, ele afirma, está dando certo.
Cicinho se destacou no São Paulo na campanha que culminou no título mundial de 2005, alcançou a seleção brasileira e foi contratado pelo Real Madrid, na fase dos "galáticos". Foi então que os problemas começaram a aparecer. O ex-lateral revelou que chegou a ir treinar bêbado depois de uma noite inteira bebendo e que esteve perto da morte.
Assim como eles, há inúmeros outros. No geral, homens que através de seu talento conseguiram o que imaginaram e depois correram o risco de perder tudo por conta da falta de estrutura emocional, da solidão, da capacidade de lidar com o sucesso e com o fracasso. Segundo Cicinho, "me preparei para alcançar o sucesso, mas não para mantê-lo."
E é por isso que, independente do momento de vida, é importante falar. O cara do seu lado pode estar passando por problemas que você nem imagina apesar de passar a impressão de que está tudo certo. Se três caras como eles foram capazes de fazer isso mesmo estando de baixo de todos os holofotes do mundo, o que dizer sobre quem, no dia a dia, não passa nem perto de chamar tanta atenção quanto um super jogador de futebol?
Tá com dúvida do que fazer? Não sabe nem por onde começar? Quer medidas práticas para resolver o problema? Aqui no PdH você encontra inúmeros exemplos de como fazer isso. Por hora, queria te recomendar apenas a série Mentoria PdH onde homens ajudam homens a superar esses problemas em conjunto compartilhando suas experiências pessoais.
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