Gripe, brochada e taxista. Três coisas com as quais você às vezes tem que lidar, por mais que evite. Por mais que tome cuidado. Afinal, não podemos controlar quando vamos tomar aquela friagem inesperada, quando o stress vai nos deixar mais mole do que de costume ou quando precisaremos voltar de uma festa com um amigo alcoolicamente irreconhecível.

Aí, caro irmão em São Cristóvão, o esquema é aprender as manhas e saber lidar direito com essas coisas. Para gripe e brochada já inventaram remédio. Mas não para taxista.

Taxi Driver
Tipos de taxista #372: O vida l0ka

Você até pode simplesmente ficar quieto na viagem toda. Especialmente se for um trajeto rápido. Mas, cara, isso seria um desperdício em potencial. Papo com taxista tem sempre um alto potencial para render algumas risadas, ou pelo menos uma história para contar quando chegar onde quer que você esteja indo.

Uma vez andei com um taxista tiozão, já nos seus cinquenta e vários anos, que me confessou ser viciado em Tibia. Tibia. Tenso.

Como eu tenho uma dificuldade quase sobrenatural de acordar dez míseros minutos mais cedo, o que me daria a chance de chegar no ponto de ônibus a tempo de pegar o último ônibus que me traz até o QG sem atrasos, eu acabei adquirindo o caro hábito de pegar táxi algumas vezes por mês (as broncas do Guilherme são fodas). Ruim para a minha conta bancária, ótimo como material de observação humana.

Durante esses últimos meses, uma observação se mostrou definitiva: taxistas se dividem em tipos bem definidos.

Alguns deles, a saber:

O transitocêntrico

Tudo bem que a vida do taxista é o trânsito, mas esse cara (um dos tipos mais comuns, aliás) literalmente só tem isso de assunto. Ele não dá um único e solitário pio até o primeiro acontecimento relacionado ao ato de dirigir. Pode ser uma fechada, um pedestre atravessando fora da faixa, um fiscal de trânsito aparecendo no perímetro de visão, um acidente…

Putz, se for um acidente ele tem assunto para a semana inteira. Mas qualquer um desses acontecimentos menores já será suficiente para ele te encher os ouvidos pelo menos até o seu destino.

Como lidar: Entre na dele. Aproveite para reclamar do trânsito também. Mas com ironia e sensacionalismo, senão não tem graça. “Isso aqui é um absurdo mesmo! A gente paga tanto imposto e ninguém faz nada pra melhorar esse trânsito! Olha o tamanho daquele buraco. Alguém já deve ter morrido ali.” Se a sua ironia for afiada, ele só vai perceber quando estiver com o próximo cliente.

Tipos de taxista #289: o lendário JaTaxi (clique na imagem)
JaTaxi

O de fé

A fé dele é inabalável, mas por algum motivo ele resolveu acreditar que a sua, se for diferente da dele, não é. Religião se discute sim, mas de preferência não com o taxista de fé. Já tentei falar que sou ateu e que sou budista, mas dá na mesma. A boca dele se move para formar palavras de amor e evangelização amigável, mas sempre fica no ar uma clara impressão de que estou sendo mandado pro inferno mentalmente.

Como lidar: abra um livro. Que não seja este.

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Bróder de pegação

Esse tipo é difícil de eu encontrar de manhã, vindo atrasado (e puto) para o trabalho, mas ele abunda onde há bunda*. Nas regiões de vida noturna apinhada, às altas horas da noite. É o cara frustrado, que gostaria muito de estar no seu lugar, bêbado, suado, desarrumado, no mínimo 50 Reais mais pobre… mas voltando de uma festa. Onde, na imaginação dele, você pegou mulher pra caralho.

Tudo que ele quer é saber onde você foi. Como estava. Quer compartilhar do momento através do relato de um terceiro. “Muita mulher?”, indaga, salivante. “Aí sim, aí que é bom.” E você conta suas histórias. E ele pergunta mais. E você aumenta. No final, ele solta: “Ow, bora pegar umas mina aí, qualquer dia desses que eu não estiver no táxi?”

Não, cara. Não.

Como lidar: não vá para a balada.

Como lidar (método alternativo): beba o suficiente para que a preocupação maior dele seja empurrar a sua cabeça pela janela aberta.

Táxi do Gugu
Tipos de taxista #977: Gugu

A mulher

Faz meses que eu pego táxi com frequência bem maior do que gostaria, e mesmo assim foram raríssimas as vezes que eu me deparei com este espécime tão fascinante. A mulher taxista. Ela é tão capaz, prudente e competente quanto um homem, óbvio. Geralmente é simpática, atenciosa, tem bom papo e está de humor relativamente bom. Não vai te encher o saco falando da novela, porque isso seria muito óbvio/ela tem mais o que fazer, nem vai te perguntar do timão.

Você acha que vem vindo uma piada por aqui, mas não vem. Taxista mulher é tipo acertar a Quadra na loteria: ninguém muda de vida de por isso, mas é inegavelmente bom.

Como lidar: aproveite o momento, amigo. É raro.

O pai de família

Nem todos os tipos de taxista são ruins, como você leu imediatamente acima. Mas este é o melhor. Adoro achar um bom taxista homem feito, pai de família, decente, reto e direto. Que me fale dos filhos, da mulher, da vida que eu ainda vou ter. (Menos a parte ser taxista. Acho.)

Já andei com alguns que dariam pauta para a série Homens que você deveria conhecer. Sem zoeira. Inclusive já pedi para um deles escrever um texto para cá, o que ele não fez — certamente por ter coisa melhor com que se preocupar. Tipo, sei lá, uma família.

Como lidar: faça ele falar. Aprenda todo o possível. Agradeça depois.

* * *

Tipos de editores do PdH: aquele que sempre pede a sua opinião no final dos textos. É, sou eu.

Mas não tem como. Especialmente nesse caso, já que quase todo mundo tem alguma boa história de taxista pra contar. Então conte aí. O taxímetro não está correndo, fica tranquilo.

* Peço desculpas por essa frase.

Fabio Bracht

Toca guitarra e bateria, respira música, já mochilou pela Europa, conhece todos os memes, idolatra Jack White. Segue sendo um aprendiz de cara legal.rnrn[<a>Facebook</a> | <a href="http://www.twitter.com/FabioBracht">Twitter</a>]"