Para um homem adulto que escreve para sobreviver, eu leio muito devagar. E tenho bastante vergonha disso. Terminar um livro em menos de duas semanas é um feito. Se me apaixono por uma história desde o começo, a devorarei durante uma semana ou menos, mas isso normalmente significa que estou passando várias horas por dia lendo.

Ainda sim, há pessoas que leem dois, três, sete, oito livros por semana. Eu sempre quis ser uma delas, e dois meses atrás decidi me tornar uma. Minha filosofia era simples: tudo que elas fizerem, vou fazer também.

Parecia óbvio que pessoas que leem de cinco a dez vezes mais livros do que eu devem estar fazendo isso de maneira completamente diferente. Elas não estão só lendo — como eu — mais rapidamente. Elas devem estar usando seus olhos e mentes de formas que nunca aprendi.

Então mergulhei no incerto mundo da leitura dinâmica. Comprei o manual mais bem avaliado sobre o assunto, e prometi a mim mesmo que seguiria passo a passo do programa.

A técnica era realmente muito diferente de como eu normalmente lia. Deslize seu dedo pelas linhas como um instrumento de ritmo. Não diga as palavras em sua cabeça. Não pare para reler nada que você não captou direito — apenas permita que as palavras importantes e a redundância natural do material preencham os buracos em sua compreensão.

E essas instruções realmente deram resultado. Descobri que fui capaz de transpor a não ficção com mais do que o dobro da velocidade anterior instantaneamente, e realmente compreender (eu acho) a maioria das ideias apresentadas. Com as palavras chegando a minha mente tão rápido, não havia tempo para divagações ou distrações.

Mas não foi agradável. Me senti como se estivesse num reality show. O Food Network, lutando para cozinhar algo apresentável enquanto o tempo diminuía. Minha leitura era rápida, não tão rápida a ponte de ser inútil, mas era negligente e completamente destituída de alegria. Não acho que estava absorvendo o conteúdo da maneira que o autor pretendia. E de maneira alguma leria um romance daquele jeito.

Quando investiguei o tópico da leitura dinâmica em si, aprendi que na verdade ela não é um modo de leitura mais rápido. É um tipo de passada de olho pragmática, muito útil para consumir grandes volumes de material para a escola ou para o trabalho, ou para extrair informações vitais de qualquer coisa que você não quer ler de verdade. Mas, segundo a maioria, não é uma maneira adequada para finalmente curtir Proust.

Desanimado, pesquisei “De que porcaria de maneira vocês, pessoas, leem tantos livros?” no Google e achei uma entrada no Quora, onde dúzias de leitores de grandes volumes explicavam como eles faziam.

Achei que iria encontrar um monte de técnicas — como mover seus olhos de um jeito diferente, como trazer uma psicologia distinta para a leitura. Mas quase todas as suas respostas eram variações de “Bem, eu só leio muito. Então fiquei muito mais rápido ao longo dos anos”.

Parecia um beco sem saída, mas um beco sem saída bom. Me ocorreu que na verdade eu não tinha um problema. Ler as respostas francas daquelas pessoas me deixou com a sensação peculiar de ter chego ao final de um caminho errado e agora ser livre para voltar para a estrada principal e usá-la em vez disso.

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Agora que se mostrou que a arma secreta da leitura dinâmica foi um fiasco, estou lendo sem meu autojulgamento. Simplesmente passo mais tempo na minha poltrona de leitura, e termino muito mais livros. Qualquer barreira que existisse antes, agora não parece estar mais lá.

Em adição ao volume maior, meu ritmo aumentou muito rapidamente, e acho que isso se deve inteiramente ao fato de eu não me ver mais como uma pessoa com dificuldades de leitura. Não espero que seja uma batalha, então não é. Eu simplesmente leio as palavras, sem a convicção de que deveria estar lendo mais rápido.

Leia mais, e fique melhor nisso com o tempo — é a resposta simples para o problema, então porque eu sentia que já havia tomado esse caminho e encontrado um beco sem saída?

Bem, nós somos rápidos em desprezar abordagens que não nos levam a lugar nenhum na primeira vez. Você só precisa dispensar ela uma vez, não importa o quão pertinente ela seja, ou o quanto ela funciona para os outros, e depois você não olha para ela da mesma maneira. Talvez isso tenha acontecido comigo quando me forcei a ler Grandes expectativas no ensino médio. Depois de uma trauma desses, um livro grosso se torna uma representação de angústia, da dificuldade em acompanhar e de ser suplantado por pessoas mais maduras e inteligentes. Todas as vezes em que eu abria um livro com seiscentas páginas e letras pequenas a partir daí, sempre encontrava a batalha que eu estava esperando.

Depois do primeiro, todos os outros se tornaram tão difíceis quanto eu esperava que fossem.

Provavelmente fazemos isso bastante — viver com obstáculos a vida toda só porque assumimos que exaurimos a abordagem mais simples.

Não consigo contar quantas pessoas que conheço que acreditam que cozinhar não é para eles. Elas insistem que você precisa nascer com esse dom, e elas simplesmente não o têm. Então nunca cozinham, e porque nunca cozinham, não conseguem cozinhar. Para aqueles de nós que cozinham livremente (mesmo que às vezes mal), essa inabilidade de preparar a própria comida parece absurda, e completamente voluntária.

Na verdade, nós podemos ser bem rápidos em nos identificarmos como casos problemáticos, e isso, por si só, pode ter tornar um caso problemático. É mais fácil aceitar a ideia de que existe uma informação secreta que não temos do que confrontar a possibilidade de que você nunca seguiu de verdade a abordagem mais óbvia e simples.

E uma vez que você a desconsiderou, aquela porta — a melhor porta — sempre parecerá uma parede, até perceber que você precisa passar por ela assim mesmo.

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Traduções é uma série sob curadoria de Breno França publicada semanalmente às quartas-feiras.

A dessa semana foi publicada originalmente em inglês no excelente Raptitude e traduzido para o português por Julia Barreto.

David Cain

David Cain escreve no <a>Raptitude</a>