Não tenho a menor dúvida da nossa semelhança com animais ditos irracionais.

O Antonio Prata, colunista da Folha, fez alguns comentários pertinentes com relação a maneira como os macacos fazem algo que nós costumamos fazer: coçar a barriga. Ele diz, com a descontração habitual, que os macacos coçavam a barriga com “método, perícia e inteligência”. Eu não duvido. Não sei se ele realmente visualizou os macacos se coçando, ou se o comentário foi fruto de um devaneio de fim de expediente, mas o fato é que muitas vezes agimos de maneira muito semelhante aos bichanos.

Durante o #DR, evento bem interessante sobre inovação e comunicação, assisti a palestra do Ken Fujioka, head da Loducca, agência renomada de publicidade. No meio da excelente apresentação, surge a imagem de um pavão, parecido com esse aqui:

Oi, eu sou um pavão

No jogo da conquista, para conquistar fêmeas, os pavões usam um artificio bastante conhecido por todos nós: eles se exibem. Não raro, também gritam. De novo, nada muito diferente do praticado por aqui. As que caem nessa “lábia”, viram mamães. E dessa maneira a vida segue. A relação entre o macho e a fêmea é superficial, nada garante que o casal pavão continue de pata dada, bolando qual vai ser a próxima fantasia sexual a ser realizada. Nem qual vai ser o próximo passo para dar aquela despistada na rotina. Open relationship, meus caros. Pavões são modernos.

Em seguida, fui apresentado a outro bicho, o tal do bowerbird. Mario-Quintanisse a parte, ao invés de sair por aí ladrando e mostrando as penas, o bowerbird, um passarinho de 20 centimetros, cuida do seu espaço, e constrói algo parecido com isso aqui:

Olá, meu bem. Pode vir

Um ninho de bowerbird pode chegar a 3 metros de largura, todo adornado com flores e frutos, cuidadosamente organizados. A analogia do Ken é relacionada a postura adotada por algumas marcas. Enquanto umas saem escrevendo o próprio nome com letras chamativas e gigantescas em qualquer outdoor, outras criam uma identidade, um ninho para que os clientes entrem, puxem uma cadeira e de lá não saiam. Relações entre os bowerbirds são comprovadamente mais profundas.

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Era uma manhã de sábado chuvoso e cinza, mas ninguém bocejava. Todos, creio eu, estavam entretidos projetando a comparação entre os pássaros sobre os próprios relacionamentos.

Nessa brincadeira, a.k.a. vida real, alternamos entre posturas semelhantes a do pavão e do bowerbird. Qualquer tentativa imediatista de burlar a espontaneidade da coisa soa ridicula, feito pavão monocromático ou ninho de bowerbird sem teto. Cultivar uma mente com menos travas, tomar consciência destes movimentos e assumir um olhar mais lúdico sobre nossas relações. Porém, já é um grande passo.

Eduardo Amuri

Autor do livro <a>Dinheiro Sem Medo</a>. Se interessa por nossa relação com o dinheiro e busca entender como a inteligência financeira pode ser utilizada para transformar nossas vidas. Além dos projetos relacionados à finanças