Nota do editor: esse texto saiu lá do facebook do Rob Gordon, depois que ele viu um texto na gringa sobre a entrevista abaixo, citada como a mais constrangedora da carreira do artista Justin Timberlake.
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Caso você tenha coragem de abrir o vídeo, é uma entrevista do Justin Timberlake feita pela Sabrina Sato, que faz as perguntas com um inglês de quem fez três aulas no CCAA (e dormiu em duas delas).
Eu não sei como é o inglês da Sabrina Sato. E isso nem faz diferença aqui. Ela pode falar inglês fluente que isso não muda o que está na tela. Mesmo porque os fãs dela e do programa vão dizer que “ah, é o personagem dela, ela faz isso para constranger a pessoa”.
Certo. Então é uma esquete de humor. Ela finge que não fala inglês para constranger uma celebridade que está trabalhando.
Entendi.
Eu não sei se sou mais azedo do que imagino, mas simplesmente não consigo ver graça nisso. Eu fico assistindo ao vídeo, procurando por alguma situação engraçada, esperançoso para conseguir dar um sorriso que me fizesse entender porque algumas pessoas gostam tanto disso… mas não consigo.
Para mim, isso não é humor. Talvez fosse razoavelmente engraçado nos anos 50, quando falar inglês era para poucos. Hoje, esse humor digno do Mazzaropi, que fica no meio do caminho entre o caipira e o ingênuo, soa datado e sem contexto algum.
Mas, as pessoas parecem gostar. Afinal, se não tivesse audiência, o programa não existiria mais. Ou teria ser formato trocado. Se está no ar, é porque o público gosta.
Acho curioso como o brasileiro é um povo que adora se dizer moderno. Adora bradar que é avançado, porque usa biquíni e fuma maconha na praia — algo que começou a ser feito coisa de 40 anos atrás e se espalhou para o mundo; nos outros países, isso já virou comum (em outros, até deixou de ser moda) há muito tempo, mas nós continuamos aí, nos orgulhando de usarmos argumentos do passado para mostrar que somos o povo do futuro.
Talvez fosse melhor voltar mais no tempo. Dizem que aquele que não entende a história está fadado a repeti-la. Talvez fosse mais interessante deixar de lado o biquíni da Leila Diniz e retroceder mais uns 20 anos, e chegar ao Nelson Rodrigues, e seu “complexo de vira-lata” do brasileiro.
Porque nós ainda estamos lá. Sabrina Sato sem falar inglês é escancarar ao mundo não o complexo de vira-lata, mas o orgulho que temos desse complexo.
O mundo está no século 21; o brasileiro está nos anos 50, em todos os aspectos. Os preconceitos são dos anos 50, os discursos políticos são dos anos 50, os sonhos de casa própria, emprego estável e uma viagem ao exterior continuamos os mesmos dos anos 50.
O mundo está esperando 2014, o brasileiro está esperando os tais 50 anos em 5 do Juscelino começarem de verdade, para levantar do berço esplêndido e começar a se desenvolver como povo.
Mas, enquanto isso não acontece, vamos ficar aqui rindo da pessoa que não fala inglês e deixa um artista (como se dizia nos anos 50) do exterior com vergonha. E vamos rir gostoso disso, afinal, é humor, o cara não entendeu nada, só a gente entendeu, é engraçado demais.
Só não vamos esquecer de duas coisas:
Primeiro, o resto do mundo não está nos anos 50. O mundo sabe, hoje, que o Brasil é mais que carnaval, futebol e bossa nova. O governo insiste em dizer que o Brasil tem um papel importante a desempenhar no mundo; certo. Pelo resto do mundo, quem assistir a este vídeo não vai se lembrar dos nomes Sabrina Sato, Pânico ou Bandeirantes. Vai lembrar do nome “Brazil”.
E esse vídeo tem potencial para bombar na internet. E tomara que bombe. Sabrina Sato vai considerar uma vitória; a Band vai considerar uma vitória; o Pânico vai considerar uma vitíoria.
E aí, entra a segunda coisa que não podemos esquecer. Um garoto que abaixa a calça dos outros no pátio da escola não é engraçado. Talvez seja na primeira vez, um pouco menos na segunda, na terceira já se tornou inconveniente. Mas um garoto que abaixa as próprias calças no pátio da escola, para se humilhar na frente dos outros, é visto como um imbecil.
Com isso, encerro dando os parabéns ao Brasil: o imbecil do futuro.
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