Mark Foster é vocalista da banda americana Foster The People. Dia desses, ele deu uma entrevista à Q, revista inglesa que fala de música. No meio do bate-papo, ele, que gosta de um cigarrinho de artista, lançou essa:

Fiquei impressionado quando conheci o Snoop Dogg. Abracei ele e disse: “Eu te amo, cara”. Eu tinha parado de usar erva há três dias. Então mandei: “Parei de fumar, mas eu acenderia um com você agora se tivesse a oportunidade”. Daí ele disse: “Sabe, cara… Às vezes é necessário diminuir o ritmo e se concentrar nas suas coisas”. Aquilo, vindo de um defensor da maconha, foi o bastante para mim.

Essa declaração foi dada quando o cantos estava falando sobre como ele parou de fumar maconha.

Simplesmente o Snoop Dogg, o maior expoente do maconheiro, ajudou o cara a parar, definitivamente, de fumar “aquelezinho”.

“De nada, cara”

Quem gosta da coisa, sabe que existe um determinado momento em que se percebe que está lesado. Para os desavisados, o termo “lesado” se refere a quando você, fumando demais, começa a fazer cagadinhas, se esquecer das coisas. Não cagadas homéricas, mas pequenas mancadinhas que te impedem de fazer coisas cotidianas. De repente, você se pega com o cadarço desamarrado e não consegue, em tempo hábil, descobrir de vai amarrar o tênis, se vai continuar andando. Você simplesmente se perde nesses pensamentos fundamentais.

Eu tenho um amigo que me ajudou a lembrar dessas coisinhas. Um dia, ele estava querendo comentar uma reportagem do jornal da tarde daqui de São Paulo, o SPTV. Ele simplesmente não conseguia lembrar o nome do programa que ele costuma ver todos os dias. Noutro dia, indo para um ensaio, ele se esqueceu do caminho no meio do caminho, um trajeto que faz pelos menos duas vezes por semana. Gastando a cabeça pra lembrar onde ele deveria ir, ao chegar no estúdio, se esqueceu da música que ele ia ensaiar com a banda – uma música que ele compôs. São esses pequenos lapsos que fazem um cara que passa por um período de fumar demais repensar – num tempo maior que o nosso – que ele precisa parar de fumar um pouco.

Ninguém deve saber mais disso que o Snoop Dogg. E aí você tromba o Snoop num festival, fica alucinado de alegria e quer, automaticamente, fumar um com ele. O Snoop, sabendo de todas as coisas da vida imersa em erva, aconselha a fumar menos, a dar um tempo pra cabeça girar em ordem novamente.

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Fumar pra caralho te leva a outras situações. Você repara que tá ficando gordão. Não pela falta de exercícios, mas pelos excessos causados pela larica. Quase um Super Size Me involuntário. Fuma, dá a larica, aquela vontade incontrolável de matar uma fome causada pela maconha, come-se pra cacete, cria-se um ritual de comida (uma coxinha e um cheese salada, 18 esfihas e dois pasteizinhos de belém, um bolo de fubá inteiro, esse tipo de mimo). Depois de meses, a barriga está maior por conta do consumo estar maior.

Quando a larica se dá ainda na leseira, coisas estranhas podem acontecer. Certo dia, um bróder que fumava demais ficou com fome e queria pedir duas pizzas: uma de mussarela e uma calabresa. Antes de ligar, ele imaginou, por si só, como seria pedir uma pizza meio mussarela, meio calabresa e outra meia calabresa, meio mussarela. Depois de tentar quatro vezes, ele assim o fez. Recebeu, depois de 45 ou 55 minutos, duas pizzas: uma pizza meio mussarela, meio calabresa e outra meia calabresa, meio mussarela. Do jeitinho que ele pediu. Riu por uma hora e meia e depois conseguiu morder o primeiro pedaço. Nessas horas, depois que tudo voltou ao normal é que se pensa: cacete, preciso parar de fumar um pouco.

E aí você tá pensando a sua rotina de fumar. Você encontra, num caminho qualquer, o Snoop Dogg. Ele vira, antes de entrar no palco, e diz que tu tem que maneirar. Você repensa e conclui que vai parar de fumar um tempo. O Snoop sobre no palco e faz isso aqui:

Link YouTube | Esse é o Snoop Dogg pegando leve, diminuindo o ritmo pra se concentrar nas coisas

Ah, cê também não pensou que o seu consumo se compara com o do Snoop Dogg né? Pensou?

Cara, acho que tu anda fumando demais.

Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados