“Ser bom de cama é não ter vergonha, não reprimir os desejos. É perceber o outro e prolongar o ato sem pressa alguma de chegar ao orgasmo”.

Tá aí uma frase da psicanalista Regina Navarro Lins (indico seguí-la no Facebook) que poderíamos ter como lema, ao mesmo tempo em que chega a hora de repensarmos os padrões vindos dos filmes pornôs, de que somos máquinas com desejo infinito de fazer sexo. E mais, que o sexo bom é aquele bem bonito esteticamente, resumido à penetração hard que explode no orgasmo. Ou alguém duvida que sexo bom nem precisa de penetração?  

Vamos aos fatos não cientificamente comprovados, mas vividos por todos nós. O sexo real não é limpinho, não é plástico nem esteticamente bonito, não precisa ser barulhento e não começa na penetração. Aliás, não precisa nem da penetração.

Questionei alguns amigos e amigas sobre sexo real e não vou deixar de trazer as respostas para cá, ainda que sem citar o nome dos autores:

Amiga, 32 anos: “Sexo real é quando as duas pessoas estão curtindo”.

Amigo, 31 anos: “Sexo é sempre uma experiência muito particular, não tem como definir com precisão como ele é. Por mais que você tenha seus gostos e preferências, nem sempre consegue satisfazer no todo, ou mesmo em parte, aquilo que gostaria de fazer – mesmo que seja com um parceiro regular. E isso não é necessariamente ruim. Ao contrário, as amplas e diferentes possibilidades é que fazem com que seja, quase sempre, uma boa experiência”.

Amiga, 28 anos: “O sexo real é um que não exclui os fatores humanos, como sentimentos, problemas, e não só coisas ruins, mas boas também. Boas para o sexo como as pessoas entendem que ele deve ser (tesão, fantasias, energia para satisfazer as necessidades próprias e do outro)”.

Amiga, 30 anos: “Sexo real é quando as duas pessoas estão sentindo prazer. É quando as duas pessoas fecham um contrato não-verbal de que ambas devem estar curtindo. Não importa se estão chupando os dedões, basta ser algo mútuo”.

Que acham da seguinte definição? O sexo real pode ser um papai e mamãe quietinho, um frango assado barulhento ou um 69 bem feito, desde que todos os envolvidos estejam gostando do que está acontecendo.

Frente das câmeras X quatro paredes

Sabe quando você tá muito preocupado com outras situações que não têm nada a ver com aquele momento de “vuco-vuco”, mas você realmente não está conseguindo focar naquilo? O que nos custa sermos sinceros conosco (e com a outra/outras pessoas) e dizer “putz, não vai rolar”. Volto a falar, a impressão que tenho é que sexo é gostoso, sim, mas é tão tabu que não nos permitimos dizer o que não está dando certo.

Não tem jeito, a forma como o sexo é retratado por aí, de alguma forma, tira a possibilidade de sermos o que queremos e gostamos. Nessa discussão, alguém lançou por aí uma que achei sensacional: filmes nos impedem de experimentar, impõem que, na transa, um tem que ser ativo e outro passivo e nada além disso. Nesse contexto, esquecemos que sexo é, na verdade, uma comunicação entre dois corpos e o que um e o outro vão fazer para se satisfazer mutuamente.

A “Amiga, 32 anos” foi direta e reta sobre isso: “Eu não curto quando eu percebo que o cara tá fazendo algo que ele assistiu num filme (uma pose, um gesto, um ponto de vista). Dá pra perceber facilmente essas coisas”  

A “de 28” disse que os filmes cortam um momento crucial pra ela, que é a hora de colocar a camisinha: “Pra mim essa é uma pausa gostosa que me deixa com mais tesão. É um momento de curiosidade, uma interrupção que cria uma expectativa”.

Eu concordo quando o “Amigo, 31 anos” diz que quase tudo o que está nos filmes não é realmente gostoso. Ele confessa que não se excita “com essa coisa da mulher 100% submissa, à disposição do gozo do cara”.

Tiremos sarro em “situações difíceis”

Outro amigo, esse de 28 anos, contou que foi pela primeira vez para a casa de uma menina com um objetivo certo: transarem. As preliminares rolaram numa boa, beijos e mais beijos, mãos, mordidas (que nem todo mundo gosta – vale o registro) e tudo o que se tem direito.

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Tiraram a roupa, começaram a pegação mais hard e, quando foram para a cama propriamente dita… "PÁ".

A mina bateu a cabeça no armário! E aí?, “passado o susto com o barulho e depois de sabermos que estava tudo bem, eu não tive dúvidas em cair na gargalhada. Depois a gente ficou deitado um pouco até que o clima voltou a esquentar”.

A “Amiga, 32 anos” acha que contornar situações difíceis na transa é algo que precisa ser praticado fora da cama, no dia a dia, como por exemplo entender que tudo faz parte do jogo e que há milhões de formas de recuperar o fôlego.

“É preciso buscar a consciência corporal própria e do outro. Quando isso não rola sem palavras, pode-se dizer também. Essa coisa de não falar é algo bastante estigmatizado também, ainda mais pra gente que é homem e que ainda se apega a essa obrigação de estar sempre pronto para o ataque”, bradou outro amigo, esse de “26 anos”.

E sobre aquela situação difícil que “o grande manual do mundo” diz que é a pior para o homem, tenhamos compreensão do nosso corpo e saibamos que ela pode naturalmente acontecer e não somos piores por isso. Vejamos que colocação linda da “Amiga de 28”:

“Tem que ter empatia com o outro. A mulher não brocha fisicamente, mas brocha psicologicamente e, nessas horas, tudo que a gente não quer é um boy que force a barra ou um boy frágil demais que fique puto e ache que você tem que dar só porque porque já está pelada. É só se colocar na pele do outro, dar um cochilinho e acordar pra seguir o baile como um campeão!”   

Sexo limpinho?

Falando de sexo limpinho, lembrei de uma garota da época da faculdade que dizia não gostar de chupar os caras. Ok, ninguém é obrigado a nada, nem estamos dizendo que todo mundo tem que chupar todo mundo. Chupa quem e quando quiser e pronto. Mas lembrei dessa história porque ela dizia que tinha medo de estar praticando essa modalidade e ser sacaneada com uma gozada na cara e fazer muita sujeira.

O “limpinho” que falamos não está diretamente ligado à higiene em si, mas a tudo que pode acontecer durante uma boa transa. Todo mundo sua, todo mundo baba, muitos têm fluídos que emanam durante a excitação e, se outro não tiver na mesma pegada, a situação pode ficar chata.

A indústria pornô não se limita em mostrar litros e mais litros na cara e nos corpos dos envolvidos naquela transa. Não é exatamente assim que as coisas acontecem, mas deixar acontecer o que tiver de acontecer nos remete a uma sensação de relaxamento absurda, não?

“(…) depois que acaba toma um banho, mas na hora do sexo tem que rolar “coisas”, mesmo porque aí é mais incrível” foi a frase que encerrou um áudio de Whatsapp da “Amiga, 30 anos”

Encerro essa provocação ao debate com um trecho de uma música da Linn da Quebrada que diz: “Tomara que no rala e rola tenha muito mais que só entra e sai vara”.

Mecenas: Desejo Oculto

O sexo é real e possui suas belezas e defeitos, suas falhas e virtudes. Muito se evita ao falar do que não dá certo no sexo, muita gente foge do assunto, não dá abertura para a fala se desenvolva.

E é preciso começar por algum lugar. Você pode baixar gratuitamente o livro Como acabar com a ejaculação precoce e mergulhar de cabeça num universo que ainda é tabu para muitos homens se abrirem. É o momento para adquirir mais conhecimento e não cair nos velhos medos e superstições.

O sexo é mais que isso.

Danilo Gonçalves

Um cara alegre e gosta de ser lembrado assim. Jornalista de formação, com um pé na publicidade, gosta de Novos Baianos, Doces Bárbaros e Beatles. Já gostou de Calypso e como todo gay que se preze, é fã da Beyonce.