Quando você está num beco sem saída e nenhum caminho parece o obviamente mais correto, acaba sendo obrigado a testar todas as possibilidades. É quando você sai do modo automático, das respostras-padrão, e põe a mão no problema. Experimenta. Sente. Intui.
Paradoxos fazem o mesmo pela nossa mente. Estamos acostumados a saber das coisas, a analisar racionalmente e conseguir prever os resultados. Quando encontramos um paradoxo, no qual nenhum resultado parece ser nem correto nem errado, a nossa mente frita. E isso é ótimo. Pensar é ótimo. É para isso que estamos aqui.
O pessoal da Open University realizou uma série de animações curtíssimas, expondo de maneira leve e descomplicada alguns famosos paradoxos e experimentos mentais. Veja-os abaixo, transcritos, e sinta os músculos mentais se alongando.
Aquiles e a tartaruga
Como poderia uma humilde tartaruga vencer o lendário herói grego Aquiles em uma corrida? O filósofo grego Xeno gostou do desafio e bolou este paradoxo.
Primeiro, a tartaruga ganha uma pequena vantagem. Qualquer um ainda não pensaria duas vezes antes de apostar em Aquiles. Mas Zeno apontou que, para ultrapassar a tartaruga, Aquiles primeiro teria que cobrir a distância até o ponto em que a tartaruga começou. Neste espaço de tempo, a tartaruga também teria se movido em frente. Então Aquiles teria que cobrir esta distância também — dando tempo para que a tartaruga fosse um pouco mais em frente.
Logicamente, isso continuaria acontecendo para sempre. Não importando a pequenez da distância entre eles, a tartaruga sempre iria um pouco mais à frente no tempo em que Aquiles estava alcançando o ponto em que ela estava antes. O que significa que Aquiles jamais conseguiria ultrapassá-la.
Levado ao extremo, este paradoxo bizarro sugere que todo movimento é impossível. Mas ele levou à descoberta de que algo finito pode ser dividido infinitas vezes.
Este conceito de uma série infinita é usado em finanças para calcular pagamentos de empréstimos. É por isso que eles levam uma quantidade infinita de tempo para serem pagos.
O paradoxo do avô
Viagem no tempo algum dia será possível? Rene Barjavel foi um jornalista e escritor de ficção científica francês que passava muito do seu tempo pensando sobre isso. Em 1943, perguntou o que aconteceria se um homem voltasse no tempo para uma data anterior ao nascimento dos seus pais e matasse o seu próprio avô.
Sem avô, um dos pais do homem jamais teria nascido, e, por isso, o homem jamais teria existido… o que faria com que não existisse ninguém para voltar no tempo e matar o avô.
O paradoxo do avô tem sido muito presente em filosofia, física e na trilogia inteira do “De volta para o futuro”.
Algumas pessoas tentam defender a viagem no tempo com argumentos como a solução do universo paralelo, na qual as mudanças feitas pelo viajante temporal criam uma nova História, em separado, a partir da História inicial. Mas o paradoxo do avô se sobressai.
Apesar do paradoxo apenas sugerir que viajar para o passado é impossível, ele não fala nada sobre o contrário.
A sala chinesa
Algum dia conseguiremos verdadeiramente dizer que uma máquina é inteligente? O filósofo e acadêmico americano John Searle consegue.
Em 1980 ele propôs o experimento de pensamento chamado “A Sala Chinesa” para desafiar o conceito de uma forte inteligência artificial — e não por algum modismo de design oitentista.
Ele se imagina em uma sala fechada, com caixas cheias de caracteres chineses que ele não entende e um livro de instruções, que ele entende. Se alguém que fala chinês do lado de fora lhe passar mensagens por baixo da porta, ele poderá seguir as instruções do livro para selecionar uma resposta apropriada. A pessoa do lado de fora vai pensar que está falando com alguém fluente em chinês — apesar de ser um que não sai muito de casa –, quando na verdade é um filósofo confuso.
Agora, segundo Alan Turing, o pai da ciência da computação, se um programa de computador conseguir convencer um humano de que ele está falando com outro humano, então pode-se dizer que o programa está “pensando”. “A sala chinesa” sugere o pensamento de que, não importa o quão bem você programe um computador, ele não entende chinês, mas apenas simula este conhecimento. O que não é inteligência real.
Mas, até aí, humanos também nem sempre são tão inteligentes. 😉
O paradoxo do Grand Hotel de Hilbert
Um hotel de luxo com um número infinito de quartos e um número infinito de hóspedes nestes quartos. Essa era a ideia do matemático alemão David Hilbert, amigo de Albert Einstein e inimigos de camareiras.
Para desafiar as nossas ideias sobre o infinito, ele perguntou o que aconteceria se um novo hóspede chegasse procurando um quarto. A resposta de Hilbert é fazer com que cada hóspede se mude para o próximo quarto. O hóspede no quarto 1 se muda para o quarto 2, e assim por diante, de modo que o novo hóspede possa ficar no quarto 1. (E o livro de visitas teria um número infinito de reclamações.)
Mas o que aconteceria se chegasse uma caravana contendo um número infinito de novos hóspedes? Com certeza ele não conseguiria acomodar todos eles!
Mas Hilbert consegue liberar um número infinito de quartos pedindo para que os hóspedes se mudem para o quarto cujo número é o dobro do número do quarto onde estão agora, deixando livres os infinitos quartos de números ímpares.
Fácil para o hóspede no quarto 1 (que vai para o 2), mas não tanto para o homem no quarto número 8.600.597.
O paradoxo de hilbert fascinou matemáticos, físicos e filósofos. Até mesmo teólogos. E todos concordam que, num hotel assim, deve-se chegar bem cedo para o café da manhã.
O paradoxo dos gêmeos
Albert Einstein não tinha um irmão gêmeo, mas tinha algumas ideias engraçadas do que ele poderia fazer com um.
Ele imaginou dois irmãos gêmeos idênticos. Vamos chamá-los de “Al” e “Bert”. Al é um preguiçoso, mas Bert gosta de viajar, então ele entra em uma nave espacial e cai fora na velocidade da luz.
É aí que entra a teoria especial de Einstein, a teoria da relatividade.
Ela diz que quanto mais rápido você se move pelo espaço, mais lentamente você se move no tempo. Então, sob o ponto de vista de Al, o tempo de Bert estaria se movendo mais lentamente.
Em outras palavras, o tempo pode voar quando estamos nos divertindo, mas quando relógios voam, eles se movem relativamente mais devagar.
Depois de um tempo, Bert resolve voltar para a Terra, ainda na velocidade da luz, para mostrar ao seu irmão as fotos das suas férias. Mas quando Bert chega em casa, Al estará mais velho que o seu irmão gêmeo, o que torna os seus encontros em dupla bem mais constrangedores.
Apesar de parecer implausível, Einstein apenas seguiu a sua teoria até a conclusão lógica. E ele estava certo, no fim das contas: este conceito de dilatação temporal é a base dos nossos sistemas de GPS.
Gato de Schrödinger
Erwin Schrödinger foi um físico, biólogo teórico e provavelmente uma daquelas pessoas que gosta mais de cachorros. Na década de 50, Simon descobriu a mecânica quântica, que diz que algumas partículas são tão pequenas que você não consegue nem mesmo medi-las sem alterá-las. Mas a teoria só faz sentido se, antes de medi-la, a partícula estiver em uma “superposição”, de todos os estados possíveis ao mesmo tempo.
Para pensar sobre isso, Schrödinger imaginou um gato em uma caixa, com uma partícula radioativa e um contador Geiger ligado a um fraco de veneno. Se a partícula sofrer decaimento, ela aciona o contador Geiger, que libera o veneno e mata o gato.
Mas se a particula estiver em dois estados ao mesmo tempo, tanto com e sem decaimento, o gato também está em dois estados: tanto morto quanto não-morto. Até que alguém abra a caixa e olhe.
Na prática, é impossível colocar um gato em uma superposição quântica. Você teria o pessoal dos direitos dos animais na sua cola. Mas você pode isolar átomos, e eles parecem estar em dois estados ao mesmo tempo.
A mecânica quântica desafia toda a nossa percepção de realidade, então talvez seja compreensível que o próprio Schrödinger tenha decidido que não gosta dela, dizendo: “Eu não gosto dela, e peço desculpas por ter me metido com isso”.
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