Quando se trata de falar de rockabilly, muita gente pensa em imagens comuns do cenário: Elvis Presley ( que tem várias adaptações de cinema e TV) e graças ao filme Jonnhy e June (de James Mangold), chegou ao alcance de todos a genialidade direta e rasteira de Johnny Cash. Ou ainda os mais velhos lembram de outros filmes como La Bamba (Taylor Hackford), que retratava a vida de Richie Vallens, ou até mesmo A Fera do rock (de Jim McBride) em que Dennis Quaid interpretava um dos mais loucos ídolos do rockabilly, o "The Killer" Jerry Lee Lewis.

Claro que, muitas vezes, o cinema caricaturou muito (e com razão) esse universo, pois é fácil de se melhorar e carregar no visual. Basta notar como John Waters foi bem sucedido com Cry Baby e lá estavam todos os estereótipos: os quadrados Doo Wop, os selvagens do Wild Rockabilly, com jaquetas de couro e até mesmo os fifties, com visual de boliche. Só que existem filmes mais sérios como Cadillac Records (de Darnell Martin) como contraponto de mostrar uma outra visão desta época e a criação da Chess Records, por exemplo.

 

Quando fala "rockabilly", você lembra de mim? Ah… que gracinha!

E, pra finalizar, se falamos de caricaturar e incluir novas tribos dentro do movimento, o Grease – Nos tempos da brilhantina faz de maneira bem clean, outras tribos como os greasers, influenciando até mesmo a Rede Globo, que criou a novela Bambolê. Inclusive, no meio rockabilly, chamar algo de bambolê é justamente deteriorar algo que pretendeu ser o roots de rockabilly, mas não passa de uma farsa.

Porém, hoje em dia, numa época onde as garotas se tornam "pinupzáveis" contrariando a condição que as garotas se encontravam no mundo machista da década de 50, muito se fala de visual e pouco se fala do que ajudava a atmosfera daquela época.

Ok, o PapodeHomem vai te ajudar a conhecer um pouco mais dos lados interessantes deste cenário, facilitando a saída do senso comum de que rockabilly se resume a Elvis Presley, Johnny Cash e Stray Cats (que é classificado como neo-rockabilly).

O começo

Muita gente tem como marcha inicial do movimento, o selo de Sam Phillips, o Sun Records (que está funcionando até hoje) como ponto inicial, mas numa pesquisa gostosa de se fazer, Nick Tosches, escritor de livros interessantíssimos como A última casa do ópio e Criaturas Flamejantes nos mostra como o som negro foi se misturando com os caipiras do campo até sairem os primeiros revolucionários do rock n roll. Chuck Berry talvez seja o nome mais claro pra demonstrar a união de rebeldia e selvageria no trabalho e atitude musical.

Das gravadoras, a Sun foi responsável por unir o Quarteto Milionário (The Million Dollar Quartet) em Memphis (Tennessee) e o show contava com os quatro grande: Elvis Presley, Johnny Cash, Carl Perkins e Jerry Lee Lewis e ainda tinha participações legais como June Carter.

Dali em diante, a máquina do rockabilly não pararia de crescer, trazendo novos talentos como Buddy Holly, Roy OrbisonGene Vincent e até mesmo no Reino Unido surgiram vários cantores novos como Tommy Steele e Cliff Richards, o "Elvis britânico".

A repercussão

Não só em filmes, mas também na realidade, esses artistas do rockabilly enfrentaram muita coisa para que nós, hoje, pudéssemos ouvir tudo com uma certa liberdade. O domínio religioso daquela década condenou muitos cantores de "pacto do demônio". Lembro-me de um trecho do filme A vida é dura: a história de Dewey Cox (sátira do filme Johnny e June e outras biografias musicais) em que o artista cantou "Pegue minha mão" e um padre diz no filme: "Ele disse pegue minha mão, isso é coisa do demônio" e causa uma zona no show. Apesar da sátira, isso não mudava muito a situação da época.

Veja o grande Jerry Lee, por exemplo, sempre andava em crises existenciais sobre sua vida, o que o deixava em dúvida se iria ou não para o inferno pelo que havia criado. Ou até por muito menos, a rebolada pélvica de Elvis era motivo de muita condenação, isso sem contar na mentalidade racista da época em notar o jovem Chuck Berry crescendo.

A marginália só se assumia de forma infame no Reino Unido em que as tretas entre Rockers e Mods engolia a cidade de Brighton. Muitos Teddy Boys (uma outra facção dentro do rockabilly) viviam de forma marginal, sobrevivendo de furtos e assaltos. O desentendimento entre estas tribos foi resultar na lendária treta em Brighton, em que os Mods fizeram o contra-ataque, entrando pra história e gerando filmes como Quadrophenia e a música "Rumble in Brighton", do Stray Cats. Essa treta foi só mais uma das influências que Kubrick teve pra criar o universo de Laranja Mecânica, que retrata a violenta juventude inglesa.

Ao invez de ficar aqui enrolando e contando histórietas de tiozão rockabilly, vou colocar alguns cantores e bandas que merecem sua atenção e quem sabe ver que papo de homem também é aconselhamento musical.

Eddie Cochran

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Um americano que começou a carreira com uma dupla de country, melhor amigo de Gene Vincent. Sua carreira foi curta pois, no auge da carreira, sofreu um acidente de carro que o levou desta pra melhor, e deixou a sequela na perna de Gene Vincent. Particularmente, é o cantor de rockabilly que mais me identifico.

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Johnny Burnette

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Mais um grande contribuidor pra palavra rockabilly por conta da sua música de mais sucesso "Rockabilly Boogie". A banda que formou com o irmão trouxe uma forma caipira mais agressiva e marcante. Mais um cantor a ter a carreira interrompida por tragédia cedo. Aos 30 anos, morreu afogado em acidente em que seu barco virou.

 

Charlie Feathers

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Oriundo da Sun Records, foi um dos primeiros a unir dotes diferentes, pois como era ator. No palco, além de cantar, fazia firulas com a voz e interpretava com criatividade uma forma diferente de cantar. Sua pegada country diferenciava dos demais caipiras porque inovava com ruidos vocais enquanto cantava.

 

Johnny Kidd and the Pirates

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Mais uma das bandas britânicas que faziam a diferença no uso de guitarra maciça e performance de palco teatral (o vocalista usava até tapa olho e lutavam com espadas) que abriu alas para Alice Cooper poder criar performances, só pela música "Please Dont Touch" (tocada até mesmo por Motorhead), já deveria estar sempre nos anais do rockabilly, influenciando o Led Zeppelin, que tocavam vários covers em outtakes encontrados.

 

Tonny Sheridan

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Foi um daqueles guitarristas que entraram pra história por ser um dos primeiros a manusear uma guitarra elétrica em programa de TV ao vivo, por ter tocado ao lado de cantores como Gene Vincent e Eddie Cochran e para legitimar mesmo sua carreira, ter tocado como guitar de apoio aos Beatles no começo de carreira e compor até o hit "My Bonnie".

 

Fred Fingers Lee e Ray Camp, Sleep LaBeef

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Aqui coloco três artistas caipiras do campo americano, que fizeram sucesso numa época dificil do rockabilly existir, a década de 70. Fred Fingers Lee foi guitarrista de bandas comportadas, mas justamente quando viu um show de Jerry Lee Lewis, assumiu os pianos e viveu de loucuras inesquecíveis. Em uma de suas apresentações, a performance dele o fez partir um piano nas machadadas durante o show!

Ray Campi, chamado de "O Rei do rockabilly", e sempre cantou e tocou o Baixo em pé, chamado de rabeco, na qual subia em cima dele e fazia misérias.Foi músico de apio de muitos grandes do rockabilly (desde Elvis até Bill Haley) profissão que lhe rendeu melhores momentos do que quando foi professor na Califórnia. Por último, Sleepy Labeef, que ganhou o apelido por ter os olhos meio fechados, é mais um daqueles casos de guitarrista que tocou em algumas bandas e alguns shows na década de 50 e 60, mas só foi ganhar reconhecimento na ingrata década de 1970.

 

Crazy Cavan e Matchbox

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Duas excelentes bandas setentistas que mantinham o cenário Teddy Boy aceso e vivo na Inglaterra. Suas músicas se tornaram hinos de tretas e confusão em shows, no caso , "Rockabilly Rebel" e "Old Black Joe" (essa, o nome diz tudo).

 

Buzz and the Flyers

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Robert Gordon

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Vale ressaltar aqui a importância de se carregar o termo "Neo Rockabilly", que é justamente o final da década de 70 e começo de 80, em que vemos os Stray Cats garantindo seu lugar como banda mais famosa do revival. Mas isso foi possível graças à intervenção desse cantor que fazia shows até na extinta casa CBGB e era um grande amigo do "Boss" Bruce Springsteen.

As bandas mais famosas de Neo Rockabilly, além dos Stray Cats, The Jets, Firebirds e The Polecats. O The Jets foi um power rockabilly Trio formado por três irmãos que na época deram mais certo que KLB e também soava menos "montado pra sucesso". O Restless foi, na minha opinião uma das maiores e melhores bandas de neo rockabilly que existe até hoje.

Não tem muito mais o que escrever, apenas experimentar ouvir e depois dizer qual foi o efeito. Firebirds é a banda mais água com açucar pra quem cansou de Stray Cats e quer experimentar outro rockabilly fácil de descer. É, atualmente, a banda mais chamada para tocar em homenagens a antigos cantores de rockabilly falecidos. O Polecats já foi a banda de neo rockabilly que mais perto chegou de Stray Cats na fama. Seus músicos tinham vários projetos paralelos, mas que só vale ressaltar aqui o guitarrista Martin Boz Boorer, que é o atual guitarrista do Morrisey e, segundo fontes seguras, teremos um show no Brasil do Polecats com a formação original.

Agora é botar o play em tudo isso e escutar sem parar.

Bem vindo aos anos 50 novamente!

Vébis Junior

Professor, produtor, diretor em cinema. Graduado em Audiovisual pela Universidade Metodista de São Paulo e Mestre em Cinema pelo Instituto de Artes da Unesp. Foi coordenador do Curso de Prod. de Audio e Video da Etec Jornalista Roberto Marinho, é professor de Cinema na Unimonte e conteudista do site Sociedade Jedi.