Você lembra de seus planos, quando adolescente, de cruzar acompanhado pelos amigos longas distâncias ao volante de um automóvel, em uma grande viagem sem rumo ou data para terminar?
Os planos acabaram ficando pra trás, mas talvez essa tivesse sido uma extraordinária experiência.
O sonho não morreu
Na tentativa de conciliar férias e um importante compromisso em outro estado, decidi tornar aquele velho sonho adolescente realidade. Foram exatos 4096 quilômetros ao volante, dirigindo pelas principais rodovias do Sul e Sudeste brasileiro.
Aproveitando a baixa do dólar, iniciei a viagem em Rivera, no Uruguai, onde eu fazia compras nos Free Shops isentos de tributação. As estradas que ligam Santana do Livramento, vizinha dos castelhanos, à Porto Alegre requerem muito auto controle do motorista. O pouco movimento, as infindáveis retas, e a fiscalização praticamente inexistente, são um convite à irresponsável cutucada no acelerador.
A paisagem dos pampas gaúchos representada por campos tão vastos quanto o horizonte, repletas de pastagens de gado e plantações agrícolas, formava um bucólico cenário que instigava um tranqüilo sono na direção.
Mesmo trafegando em uma velocidade de cruzeiro 20% superior ao limite da via, eu me considerava um dos retardatários da prova diante da quase absoluta totalidade de motoristas que me ultrapassavam.
A Freeway
Saindo de Porto Alegre e prosseguindo pela BR-290 entrei em um trecho gaúcho da rodovia federal, que liga a Capital ao litoral, conhecido como Freeway. A Freeway foi uma estrada construída pelos governos militares, concebida para ser uma “Free Way”.
Houve uma época em que não havia limite de velocidade na nossa Autobahn tupiniquim. Mesmo que atualmente não possamos mais extrapolar os 100Km/h máximos permitidos para a via, elejo a Freeway como a mais divertida auto estrada por onde já dirigi.
As seis pistas do mais liso concreto, com um enorme e arborizado canteiro separando os que seguem dos que voltam, garantem uma belíssima vista do nascer do sol à beira da Lagoa dos Patos. Um deleite para os proprietários de veículos empurrados por enormes motores.
Estrada da Morte
Aproximando-se de Santa Catarina pelo trecho da BR-101 popularmente conhecido como estrada da morte, tive meu primeiro susto da viagem. Um motorista vindo em sentido contrário tentou forçar uma ultrapassagem em um caminhão quando percebeu que eu estava próximo demais para permitir que ele finalizasse sua empreitada.
Não tive outra alternativa senão bruscamente desviar o carro para o acostamento. Vale lembrar que esse acostamento era fruto da minha imaginação. Já que por lá, onde acaba o asfalto inicia-se um irregular piso de pedras e terra que me garantiu uma bela disputa de braço com meu automóvel.
Nesse momento comecei a rogar pragas para o Governo Federal que há anos promete reduzir a alta incidência de acidentes fatais naquela região através da duplicação desse perigoso trecho da BR-101.
Felizmente, poucos quilômetros à frente descobri que as promessas finalmente começam a sair do papel e pude dirigir por horas ao lado das obras de duplicação, estendendo-se do Rio Grande do Sul até boa parte do estado de Santa Catarina.
Falando em Santa Catarina, não poderia deixar de comentar que por lá, minha velocidade de cruzeiro era baixíssima. Por mais que tentasse voltar os olhos para a estrada, a sensacional paisagem litorânea prendeu minha atenção até passar por Florianópolis.
A Primeira Parada
Dirigi um pouco mais e fui obrigado a parar para descansar diante da noite que se iniciava perigosamente escura. A cidade de Itajaí me acolheu muito bem e logo estava hospedado em uma pousada. Não demorei para sair e conhecer os arredores à procura do bom e barato camarão catarinense.
Ao amanhecer tive o privilégio de conhecer a belíssima Praia Brava onde fui obrigado a pegar algumas ondas e conhecer catarinenses de sotaque puxado.
Pegando a estrada novamente
Prosseguindo viagem, entrei no estado do Paraná trafegando exclusivamente por excelentes estradas federais totalmente duplicadas, bem conservadas e livres de buracos. No Paraná, tive o prazer de dirigir nas empolgantes curvas da belíssima Serra do Mar, onde parei para refletir sobre a impressionante beleza natural de nosso país.
Os enormes paredões dos morros abrigavam pequenos córregos que convertiam-se em cachoeiras que corriam até o acostamento da estrada. Muitos motoristas paravam para tomar um banho tornando o trânsito muito lento. Nem sequer me importei com o enorme engarrafamento provocado pelos motoristas que observavam o show de águas na beira da estrada.
Amanhã, na segunda parte dessa Road Trip dos sonhos, a chegada em Sampa. Aguarde!
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