A. G. H. me convidou para experimentar a sensação de guiar um automóvel preparado em um ambiente controlado. Temeroso, aceitei o desafio. Quando sentei ao volante do Voyage Turbo/Nitro fui logo “abraçado” pelas abas de contenção lateral características dos bancos esportivos.

O do Voyage, eram bancos RECARO retirados de um Gol GTi. A segunda coisa que me chamou a atenção foi a quantidade de “relógios” em cima do painel. Os relógios são instrumentos que aferem a pressão do turbo, temperatura do motor e proporção da mistura de ar/combustível, por exemplo. São equipamentos importantes para que piloto e preparador possam monitorar a saúde de um motor que trabalha no limite.

Devidamente instruído, estava preparado para dar a partida. Ao pressionar a embreagem de cerâmica com uma carga de 1200lbs, nova surpresa: É necessário fazer muita força para acionar o mecanismo. Logo, imaginei o quão difícil deve ser guiar um carro como esse em um trânsito congestionado. Ignição acionada e outro susto! O funcionamento do motor é áspero e ruidoso. As vibrações são transmitidas para os seus braços diretamente através do volante. Sem acelerar, eu já imaginava o que estava por vir. Ao menos parte do que estava por vir…

Primeira marcha engatada de um câmbio duro, firme, porém preciso. Restava agora acelerar um pouco e iniciar o alívio da embreagem para começar a movimentar as rodas do Voyage. E, justamente ao encostar o pé no acelerador obtive outra prazerosa surpresa: o som de uma turbina enchendo assemelha-se a um sopro forte e agudo; quando solto o pedal, o som se converte no famoso “espirro” (e realmente soa como um!) de ar despressurizado. Mais alguns segundos me divertindo com a música da turbina e, finalmente, com muita coragem comecei a liberar a pressão sobre o pedal de embreagem.

PUM!! Inesperadamente sinto, em um soco forte, ser pressionado contra o banco do motorista; a embreagem de supetão se solta fazendo com que o veículo pule para a frente com as rodas girando em falso lixando o asfalto e levantando muita (muita mesmo) fumaça! O volante pesa forte para o lado direito na tentativa de arremessar o automóvel para fora da pista, mas, com muito esforço, consigo contra-esterçar trazendo-o de volta. Pé no freio, pé no freio, pé no freio, foi tudo o que pensei. O cheiro de álcool no escape misturado ao dos pneus queimando tomavam conta do habitáculo.

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Entretanto, irresponsavelmente ignorando minha razão, meu pé beliscou a pesada embreagem enquanto minha mão engatou a segunda marcha. Ao soltar o pé da embreagem, novo descontrole; as rodas destracionam novamente e, dessa vez, o Voyage busca o lado esquerdo da pista. Contra-esterço firme e antes de esperar que a turbina pressurize totalmente, já coloco a terceira marcha. Agora, o carro decide seguir em linha reta para meu alívio. 130 Km/h. Segundo A. G. H. foram pouco mais de 12 segundos. Eu, pessoalmente, acredito que foram no máximo 2. Pé no freio e coloco esse selvagem destroçador de asfalto para descansar.

Queria mostrar ao leitor a palidez do meu rosto ou o tremer de minhas mãos e pernas. Não vou dizer que, em parte, não foi medo. Mas posso assegurar que a experiência foi única, indescritível. Por 13 segundos não pensei no trabalho para o qual retornaria ao fim dessa matéria; não pensei nos resultados das eleições; não pensei na fatura do cartão de crédito; por 13 segundos entendi algumas das motivações dos jovens que arriscam suas vidas madrugada adentro. Por 13 segundos senti uma grande dose de adrenalina se converter tanto em medo, quanto em prazer.

Imediatamente pensei como seria viver como eles, alfinetando marchas no limite vermelho do conta-giros. Aprendi alguma coisa naqueles 13 segundos. Nunca iria participar de um racha clandestino colocando a vida de pedestres ou outros motoristas em risco. Mas agora posso afirmar que, quando possível for, vou inscrever meu carro de rua no campeonato metropolitano de arrancada. Sai da frente…

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Link para a primeira parte dessa matéria: Adrenalina movida a Óxido Nitroso

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Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.