É impossível um trabalho sério de transformação no campo das masculinidades sem consciência política, mas demorei anos para ter essa clareza.
Nos posicionamos nas eleições de 2014 e 2018. É mais importante do que nunca fazermos o mesmo agora, em 2022.
O Instituto PDH está imerso na política por tudo que fazemos e como atuamos. Realizamos dezenas e dezenas de treinamentos, palestras e cursos em empresas, fundações e espaços de educação. Produzimos pesquisas originais em escala nacional, fazemos um encontro nacional de paternidade todos os anos. Somos uma plataforma de transformação das masculinidades, voltada para a equidade interseccional. Um think tank interdependente cuja bússola é ação compassiva.
Ou seja, é nosso dia a dia dialogar sobre gênero, raça, classe, identidades, orientação sexual, capacitismo, equidade, inclusão e diversidade. Conectando esses aspectos a temas como educação, paternidade, maternidade, família, violência, segurança, dignidade, produtividade, cultura, trabalho, dinheiro, saúde física e mental. Produzimos vídeos como esse (“A caixa dos homens”), que foi assistido por mais de um milhão de pessoas entre YouTube, Facebook e Instagram:
A masculinidade que Bolsonaro performa e catalisa é uma tragédia, como dissecado no ótimo documentário “Quebrando Mitos”, recém lançado e quase batendo a marca de um milhão de pessoas que o assistiram. Ele é, assumidamente, a representação do machismo, homofobia, racismo, violência e ignorância. Se orgulha disso. Isso por si só inviabiliza qualquer chance do PDH / Instituto PDH apoiá-lo. Seria o equivalente a um instituto que defende o meio-ambiente apoiar um partido de garimpeiros e contrabandistas de árvores.
Como se não bastasse isso, o atual governo é a essência do atraso em inúmeras áreas:
- Voltamos no tempo em vários indicadores sociais: PIB, pobreza, produção industrial, desmatamento, evasão escolar, inflação
- 700 mil mortes da pandemia, um assombro de incompetência e desumanidade detalhado no filme “Eles poderiam estar vivos” – destaque para o trecho no qual a infectologista Luana Araújo explica o que viu dentro do governo
- Governo ignorou a oferta de 70 milhões de doses da vacina produzida pela Pfizer enquanto pessoas morriam de COVID aos milhares
- Desmatamento recorde na Amazônia e violências crescentes contra povos indígenas
- Postura machista, racista e homofóbica normalizada nos integrantes do governo, a partir do exemplo maior de Bolsonaro
- Ataca a democracia repetidamente, ameaçando romper com a ordem institucional, instaurando uma ditadura
- Incentivo a uma cultura de morte e violência (necropolítica)
- Brasil retornou ao Mapa da Fome (ONU), com 33 milhões de pessoas sem saber se vão ter o que comer na próxima refeição – um índice de 1992, 30 anos atrás.
- Brasil se tornando motivo de chacota no exterior, com frequência
- Inflação cada vez mais em alta, poder de compra da população cada em queda, com altas expressivas de itens básicos como gasolina e gás de cozinha.
Nossa democracia corre seríssimo risco, ela vem vindo em erosão desde 2013 e agora se encontra num ponto limite. Ignorar isso é um erro pelo qual podemos nos arrepender amargamente no futuro. Esse vídeo dá detalhes sobre esse contexto.
Voto não é cheque em branco nem bala de prata
O olhar crítico de Eliane Brum no editorial da Sumaúma Jornalismo vale ser reforçado aqui:
(…) temos várias divergências sobre como seu governo e o de sua sucessora, Dilma Rousseff, trataram a Amazônia e os povos-floresta, assim como outros enclaves de natureza. Também temos discordâncias na condução de outras políticas. Tanto lamentamos a comprovada corrupção do PT no poder quanto reconhecemos os avanços que seus governos representaram em várias áreas, como a política de igualdade racial, a democratização do ensino superior e a melhoria do salário mínimo.
Mas é isso. Temos discordâncias e o melhor espaço para elas é o debate democrático. Também para discordar é preciso democracia.
Presidente não governa sozinho. Necessitamos de mais qualidade no Congresso e Senado. Está claro que o candidato com chances reais de vencer Bolsonaro é Lula. E ele não é um salvador da pátria fazedor de milagres. A nosso ver, sonhar o Brasil e a sociedade que queremos envolve cada vez mais envolvimento da sociedade civil. Por isso convidamos todos e todas que estiverem nos lendo a um conjunto de ações, com as quais também nos comprometemos de cá desde 2018.
Nossos convites:
- votem! (esse é só o primeiro passo)
- votem com consciência para os cargos além da presidência, pesquisando e lendo as propostas e planos de governo
- educação política é um percurso pra vida toda, não deve ser estigma falar sobre isso
- acompanhem e cobrem dos políticos que escolherem apoiar
- acompanhem e cobrem dos políticos de oposição (ler veículos com visões opostas costuma ser enriquecedor)
- assumam atuação cívica e política em seu cotidiano ou em sua comunidade, na medida do possível
- se fizer sentido, pensem em temas com os quais gostariam de se envolver mais, como cidadãos
- se fizer sentido, cultive um grupo de diálogo ou encontros políticos com seus amigos e mantenha isso vivo fora dos períodos de eleição
- considere doar financeiramente para políticos (as) ou instituições em cujo trabalho acredita
- atuação cívica vai muito além do voto, o voto é um passo importante, mas não o único
- trazer para o centro do debate vozes periféricas / silenciadas / marginalizadas
Por isso nossa posição é e seguirá sendo em defesa das seguintes pautas
Educação em todos os níveis, emergência climática, equidade interseccional, antirracismo/machismo/LGBTfobia/capacitismo, culturas regenerativas, economia regenerativa, responsabilidade fiscal, cultura forte, diálogo com quem pensa diferente de nós, cooperação internacional, fortalecimento do SUS, enfrentamento da fome, moradia para todos e redução das desigualdades sociais como prioridade. Priorizamos também centrar a voz de grupos marginalizados ou minorizados no debate público: mulheres, pessoas negras, indígenas, pessoas LGBT, pessoas com deficiência.
Para presidência, em 2022, apoiamos Lula – ainda que com fortes ressalvas, que não devem ser esquecidas. Entendemos que apoiar não significa eximir de cobrança e postura crítica.
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Por fim, listo abaixo os candidatos e candidatas que apoio pessoalmente nessa eleição – não necessariamente as escolhas das demais pessoas que trabalham conosco ou do PDH como instituição:
Deputada Estadual (SP): Keit Lima 50300
Deputada Federal (SP): Sônia Guajajara 5088
Senador (SP): Márcio França 400
Governador: Haddad 13
Presidente: Lula 13
Tudo é política, todas nossas escolhas são políticas. Dialogar sobre isso com abertura tem sido uma prática que adoto desde 2013 e tenho aprendido muito nessas trocas com amigos. Não poderia recomendar mais.
Ignorar o tema é deixar nosso destino na mão de outras pessoas. Por isso, espero que a maior quantidade possível de pessoas vote. E que possamos exercer nosso papel democrático com sabedoria.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.