Então, já que é preciso falar de política, vou fazer um comentário. Faz quase três horas que o sol se pôs em São Paulo e, nessas alturas da rotina na cidade grande, acabo de acessar a seção de Política da Folha, do Estadão e de O Globo para sortear no breu um assunto a ser comentado. Dê-me alguns segundos.
Certo.
Não são tão curtas as buscas por algo que mereça algo. Contudo, encontrei Alexandre Padilha, o ministro da Saúde, de mudança a São Paulo para aquecer-se depressa para as eleições de outubro, por meio das quais tentará ocupar a cadeira de Geraldo Alckmin no palácio aqui bem perto de casa, que eu, inclusive, observava por trás da fumaça minutos atrás, na praça em frente, depois do trabalho. Sabe como é.
“Já trouxe as coisas que estavam em Brasília de volta para a minha casa em São Paulo. Desde a reunião do dia 2 de novembro eu me preparei para sair ao longo do mês de janeiro”, disse Padilha. A reunião foi com a Dilma, que exigiu dos ministros-candidatos que limpassem as mesas até este mês.
A frase foi proferida aos repórteres durante a inauguração de uma unidade de saúde na Lapa, zona Oeste.
Engraçado imaginar a cena: uma equipe de assessores em debandada depois de receber a ordem de encontrar a todo custo um evento especialmente adequado para a visita de um ministro da Saúde à caça dos votos que costumam eleger o PSDB em São Paulo. Aquele partido, assim, tão admirado pelos bem nascidos desta babilônia.
A maior capital do país. O poço oco & profundo de votos que elegem — e como elegem. E elegem. Ainda mais quando a própria panela escolhe a tampa menos favorável para o cozimento dos feijões, se é que você me entende. Desculpe o devaneio.
A pergunta é: haveria no planeta ocasião mais perfeita para garimpar votos da elite paulistana que a inauguração de um posto de Saúde em um bairro nobre? Ministro da Saúde, posto de Saúde. Bairro nobre, votos do PSDB. Pois então: foi a circunstância perfeita.
Palmas para os assessores. Agora, se tivessem nascido na Finlândia, eles provavelmente teriam impedido Padilha de comentar sua mudança de cidade, cujo propósito único & exclusivo é trabalhar em busca de um cargo no governo. Deveria ser motivo de vergonha demonstrar muito interesse nos votos e pouco nas mazelas do Brasil.
Pobre país.
Talvez haja um dia em que alguém perceba que a temporada de caça aos votos não é mais importante que o fato de três cabeças rolarem em um presídio no Maranhão. O campeonato travado entre sedutores de eleitores merece mais atenção que os hospitais sem seringas nem curados do Tocantins? A disputa protagonizada por engravatados à procura de poder deve ser mais comentada que o buraco citado por um taxista argentino que encontrei em Florianópolis semana passada (“essa merda está aí há trinta anos e ninguém faz nada”, disse ele)?
Não.
Então por que diabos a porra da televisão cria uma vinheta para as eleições e nada para os impostos desperdiçados? Nem um quadro especial no programa da Fátima Bernardes?
O povo está vendo. Ninguém está percebendo. Não importa o nome que vai chegar ao poder. Importa o que ele terá para fazer.
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