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Diretor do recém-lançado “Guardiões da Galáxia Vol. 2”, James Gunn foi ao Facebook com uma opinião polêmica sobre um tema que exalta humores no mundo do entretenimento: spoilers. Basicamente, o diretor disse que seu filme é à prova de sabotagens pelo fato de que elas, na verdade, não importam.

O anglicismo “spoiler” popularizou-se para designar informações sobre a trama de um filme, um livro e uma série, dadas a alguém que ainda não teve contato com ela. Hoje quase fora do vocábulo recorrente, o responsável pelo spoiler é o estraga prazeres ou quem sabe até o espírito de porco que conta o final do filme.

Na opinião de James Gunn, spoilers apenas importam em filmes que tenham um enredo e uma produção fracos e, portanto, dependem exclusivamente da surpresa para serem bons ou funcionarem ante os espectadores.

“E daí se você acidentalmente ouviu sobre uma surpresa do ‘Vol.2’, não se preocupe – você ainda poderá aproveitar o filme completamente. Não apenas porque spoilers não importam, mas porque criamos um filme em que a história, o humor, os efeitos visuais, a música e a emoção não dependem de surpresas. Você vai adorar mesmo que tenha ouvido um spoiler ou outro antes de assistir ao filme”

James Gunn – diretor de “Guardiões da Galáxia Vol. 2”, no Facebook

O histórico de spoilers

Há grandes casos de “spoiler” na história da cultura muito antes do termo ser famoso. Em 1991, a “Folha de S.Paulo” revelou na capa de seu caderno de cultura o responsável pelo assassinato de Laura Palmer, personagem da série americana “Twin Peaks”. O episódio com a revelação só seria exibido pela Globo dali a 45 dias. Revistas de novela vendidas em bancas de certa forma sempre deram spoilers, embora raramente revelassem o mistério principal da trama.

Vinte e cinco anos depois o editor responsável pela façanha disse à coluna de Maurício Stycer que, em sua opinião, a revelação não tinha a menor importância ante da genialidade da série de David Lynch – opinião compartilhada por James Gunn.

Spoilers se tornaram mais recorrentes – e mais rejeitados – com a proliferação de produtos audiovisuais, o compartilhamento de informações via redes sociais e com o surgimento de um novo modelo de consumo de entretenimento, estabelecido por serviços de vídeo sob demanda.

Trata-se do chamado “binge watching”, prática que consiste em assistir a vários episódios de uma série em uma mesma leva, um seguido do outro, como uma maratona feita no dia e na hora que o espectador quiser.

Isso apenas é possível atualmente porque plataformas como a Netflix disponibilizam todos os episódios de uma série de uma só vez, em contraste com a aguardada exibição homeopática dos canais de televisão.

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A Netflix tem um site dedicado exclusivamente a dar spoilers aleatórios. Foto: Reprodução.

Todos esses fatores juntos tornaram praticamente impossível conter a proliferação de spoilers, dado o fato de que espectadores passaram a ver os programas em ritmos distintos e ir às redes sociais comentá-los.

O manual de boas maneiras da internet convencionou alertar leitores e amigos sobre textos e mensagens que contivessem informações indesejadas – “spoiler alert!” (alerta de spoiler).

Reclamar de spoiler tem limite

Ainda assim, um espectador mais lento encontra bastante dificuldade em evitar se deparar com o desfecho antes da hora. A própria Netflix já brincou diversas vezes com a questão.

Em 2014, o serviço lançou um site que funciona como uma espécie de “roleta russa dos spoilers”. Nele, ao apertar um botão, a pessoa é confrontada com a cena final – ou determinante – de um dos títulos do catálogo da empresa, escolhido aleatoriamente.

O site ainda oferece quatro perfis diferentes para as pessoas que costumam dar um spoiler. Podem ser elas  “sem vergonha”, “manipuladoras”, “impulsivas” ou simplesmente “desavisadas”. Há um teste de comportamento em que se pode descobrir em qual dos quatro alguém se encaixa.

A plataforma oferece ainda um ranking de “conhecimento público em relação a finais”, que mostra o quão familiar é um desfecho, de acordo com contribuições de fãs. Atualmente, os finais de “Caça-Fantasmas” (1984), “O Quinto Elemento” (1997) e “A Primeira Noite de um Homem” (1967) lideram o ranking de finais mais conhecidos.

Em 2015, quando lançou o teaser para a terceira temporada da série política “House of Cards”, a Netflix recebeu diversas reclamações em sua página no Facebook por estar dando, na propaganda, spoilers sobre o término da temporada anterior.

Como resposta aos fãs, a empresa conhecida pela irreverência no trato com clientes nas redes sociais postou um vídeo dedicado exclusivamente aos fãs brasileiros da série. Nele, o ator Michael Kelly, que interpreta o personagem Doug, esclarece a diferença entre o “spoiler babaca” e o “spoiler inevitável”.

O primeiro seria aquele spoiler desnecessário que de fato revela o final da intriga em momento inoportuno. O segundo, no entanto, acontece apenas com pessoas que estão tão atrasadas que não há como preveni-las de um conhecimento que já é senso comum. Seria como dizer para alguém que o Titanic afundou.

“Sim. Frank Underwood é o presidente dos Estados Unidos”, revela o ator no vídeo. “Mas não se preocupe, essa não é a melhor parte. A melhor parte é como ele chegou lá”, conclui, reforçando mais uma vez a polêmica opinião de James Gunn.

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