No dia 4, a Casa Branca declarou oficialmente que mais de 75% do petróleo derramado no Golfo do México com a explosão do poço da BP (antiga British Petroleum) desde o final de abril havia sido removido das águas. Instantâneo, não? Mas cientistas vieram a público informar que a mágica não funcionou tão bem.
Animado com a fase final de vedação do poço, Thad Allen, alto funcionário do governo americano que responde sobre o vazamento, disse a jornalistas que não haveria mais petróleo saindo do poço que explodiu no Golfo. Carol Browner, conselheira de energia e clima da Casa Branca, disse que “a vasta maioria do petróleo se foi”.
Contrariando estas declarações, o cientista John Kessler, líder dos estudos da National Science Foundation, disse que:
“Ainda há no local do derramamento cerca de 50% a 75% do material que saiu do poço; apenas se encontra em forma dissolvida ou dispersa na água.”
Na Louisiana, protetores da vida selvagem animal afirmaram à CNN que ainda continuam a aparecer bolas de alcatrão e manchas extensas de óleo nos pântanos e áreas costeiras de regiões afetadas pelo vazamento.
Onde está a verdade, Mr. M?
Os cientistas apontam dois motivos pra toda essa contradição.
O primeiro motivo: a pressa da Casa Branca…
…para dar um assunto tão delicado por encerrado, visto que o vazamento já dura quase quatro meses e a demora na busca de uma efetiva solução manchou (com trocadilhos) a imagem de superpotência-que-resolve-qualquer-parada. E não se pode esquecer que em novembro, ocorrem eleições nos Estados Unidos. Pois é, imagem e corrida eleitoral.
A BP, vejam só, se preocupava desde o início em limpar o estrago já causado ao seu nome em vez de priorizar a contenção do vazamento. Eles declararam que não eram responsáveis pelo acidente, mas apenas pelo derramamento! Veja com seus próprios olhos a entrevista do ex-CEO Tony Hayward na ABC. Era de se esperar que o Governo e a BP estivessem doidos pra colocar um ponto final nessa história toda, não é mesmo?
O segundo motivo: ninguém sabe ao certo quanto petróleo foi derramado no Golfo.
Os mais otimistas falam em 5.000 barris derramados por dia, ou algo em torno de 5 milhões de barris no período. Para dar uma ideia da dimensão, isso significaria o vazamento no mar de cerca de dois dias da produção total de petróleo e gás natural nos campos de explorados pela Petrobras no mundo. Mas lembre-se: essas são as previsões otimistas. Sacou a gravidade do problema?
O relatório emitido também não conseguiu explicar como a Casa Branca chegou a suas estimativas sobre a quantidade de óleo que foi biodegradado naturalmente, ou disperso com produtos químicos. Em entrevista ao The Guardian, a toxicologista marinha Susan Shaw disse:
“Há um monte de perguntas sem resposta.”
Outros cientistas ouvidos nesta reportagem afirmam que a extensão do desastre ecológico é tão grande que a recuperação de pântanos e costas deve levar décadas.
Infelizmente, mais um caso de desastre é tratado de forma política. A prontidão do governo em auxiliar a população costeira e fazer com que as pessoas tenham participação direta na reconstrução daquele ambiente com subsídio (preferencialmente da BP) são apenas alguns exemplos de ações práticas que fariam a diferença neste caso.
Pense agora: e se fosse aqui no Brasil? Qual seria o posicionamento da Petrobras e, principalmente, da União?
O Governo americano preferiu a solução mágica. Mas o truque não deu certo.
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