Um estudo feito pelo Instituto Idea, a pedido da revista GQ Brasil, estudou o que o homem brasileiro pensa sobre sexo, moda, machismo e dinheiro. O levantamento trouxe dados esperados, alguns controversos e um que nos chamou bastante atenção: o homem jovem, dos 18 aos 24 anos é o que menos apoia o feminismo, o que mais cobra a virgindade da mulher, tendendo a ser o mais conservador.
Esse é um dado interessante, porque também na faixa etária mais jovem da população que conseguimos ver mudanças mais significativas no comportamento dos homens. Entre os mais jovens também há tendências como dividir mais seus medos e frustrações com os amigos, ser mais afetuosos uns com os outros.
Precisamos olhar para as nuances da sociedade para entender quem é esse jovem mais conservador, por que que pensa dessa forma e quais são suas motivações, suas crenças sobre assuntos de gênero.
Uma possibilidade é que na transição da adolescência para a vida adulta, o jovem tenha maior necessidade de se afirmar e de se sentir incluído e respeitado. É possível que, por isso, reproduza mais crenças sexistas do que homens dos 30 aos 40.
Também levantamos alguns outros questionamentos sobre o recorte dos investigados: a amostra tem diversidade de classe social, raça, gênero e orientação sexual? Se olharmos para as respostas a partir destes recortes, em que intersecção está a maioria dos jovens conservadores? Dados como este poderiam nos esclarecer alguns porquês importantes.
Tratar sobre esses padrões de comportamentos masculinos sempre é complexo, precisamos entender várias camadas que estão por trás das respostas. Tratar todos os homens como se fossem uma só massa de indivíduos é um erro que não podemos mais cometer. Fatores como raça, classe social, gênero, sexualidade e região são um dos principais alicerces para podermos entender melhor os que os dados nos mostram.
Os homens de até 24 anos tendem a ser mais conservadores, mas quais homens de até 24 anos?
O conservadorismo tem sido um tema latente e existe na nossa sociedade há muito tempo. Não é específico dessa geração de jovens e, historicamente, parte de uma classe dominante, que habita há muito tempo os lugares de poder do nosso país e perpetua esse tipo de pensamento e conduta através das gerações. Ele é, antes de tudo, uma filosofia de pertencimento. Seja em uma esfera social, política, espiritual ou física. E no Brasil hoje, as correntes conservadoras se apropriaram de um discurso onde eles são os defensores das tradições da família. E não só para esses jovens, mas para grande parte da população se tornou uma verdade. Em grande parte das vezes pessoas conservadoras tem mais apego a tradições, ao seu lugar, sua terra, aos seus valores. Isso pode ser uma das hipóteses que elucidem esses números.
A situação política é um fator que influencia muito esse cenário de ascensão; a polarização nas redes sociais revelam ambientes extremamente polarizados e com poucos debates proveitosos. Há também um mundo de informações, mas falta de profundidade no consumo atual.
Essa postura conservadora e a polarização, não são em nada invenções da juventude, e a pergunta que fica é: por que jovens de até 24 estão mais resistentes a temas como equidade de gênero do que a geração de seus pais?
Nos deparamos com um cenário em que existe uma evidente dicotomia. De um lado, vemos uma geração surgindo com novas posturas, tentando se desvencilhar do machismo estrutural que lidamos diariamente e assumindo o compromisso de ouvir e tentar se desconstruir, e do outro enxergamos homens dessa mesma geração perpetuando comportamentos extremamentes inadequados e carregados de muito machismo, ignorância e uma resistência em tentar sair desse modus operandi.
Essa pesquisa será útil enquanto ela for capaz de mover questionamentos, gerar reflexões e possibilitar debate acerca dos temas abordados. Precisamos sempre tentar entender recortes para aprofundar ainda mais nessa discussão a partir da complexidade que a realidade espelha. É através da troca de idéias , informações, dados que conseguiremos embasar nossos argumentos e entender melhor a parte macro da situação.
E você ? Enxerga alguma hipótese sobre essa concentração de conservadorismo também entre os mais jovens ? Deixe nos comentários.
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