Os últimos dias aqui em São Paulo tem sido de incertezas climáticas. Frio de adormecer o nariz na noite que termina com uma manhã fortemente ensolarada, trazendo, por sua vez, uma garoa na noite que é seguida pela madrugada de chuva. O ar vai de um bloco seco que acaba com qualquer rinite à massa úmida que faz tremer qualquer um que começa a divagar “Como diabos vou secar esse monte de roupa?”.
E foi nesse clima de incertezas que me aventurei a participar do Debate MTV na Music Television, programa de tretas e desavenças capitaneado pelo aloprado Lobão. Com o tema “Baixar o imposto vai aumentar a venda do CD?”, me sentei junto a deputados (Marcelo Serafim – PSB AM e Otavio Leite – PSDB RJ), músicos (Ivo Meirelles e Bruno Medina), presidentes de associações (Paulo Rosa, da ABPD, a RIAA brasileira) e todo o tipo de gente interessada – para o bem ou para o mal – no assunto. Como apreciador de música (e não autor), fui para ver até onde os “fazedores” da coisa estavam empenhados, seja lá no que fosse.
Vi o bicho pegando fogo, a giripoca piando e o pau comendo. Mas sobre a venda de CD em si, parecia que só eu queria saber. O bate-papo foi batendo na porta de assuntos mais pungentes como o emprego no mercado da fabricação de CD, sobre produtos piratas (que foi o momento em que pudemos tirar a única unanimidade da discussão – a isenção de imposto não vai acabar com a pirataria) e sobre a jurisprudência cultural: por que um livro é considerado cultura, e por isso tem isenção de imposto, e a música ainda não tem tal isenção? Então a música não é considerada como cultura aqui no Brasil?
Do assunto principal, me vejo bem tranquilo e de opinião concisa e definida: a isenção de imposto não vai alavancar a venda dos CDs no país e em lugar algum. Trata-se de um formato ultrapassado e de qualidade inferior ao vinil, que tende a ver sua margem de vendas cair cada vez mais até atingir um patamar de coleção. O vinil sim tem agora a chance de se ver renascido das cinzas e forte o suficiente para não voltar a sumir (mas, claro, continuará como artigo de coleção voltado para o degustador musica, que vai separar um tempo determinado em seus dias para botar a agulha no bolachão e aproveitar todos os prazeres do bom e velho Long Play).
Então pra que discutir um projeto de lei que visa se transformar em remédio para dor de cabeça na boca de quem já está diagnosticado com uma doença incurável?
Pra começar a traçar o futuro. O projeto de lei também beneficia o DVD (que ainda tem certo tempo de vida útil antes de ser engolido, daqui uns anos, pelo Blu-ray e pela venda de streaming e vídeos online) e a música digital. Por enquanto, os maiores beneficiados no mundo dos MP3 serão as gravadoras, em parceria com as empresas de telefonias móveis. Se você adorou comprar seu celular com o material inédito da Ivete Sangalo, O Rappa, Sandy e Jr e Malu Magalhães, então é só aguardar o projeto ser, de fato, aprovado e sair correndo para as lojas da sua operadora preferida, porque vai chover “conteúdo exclusivo” nos celulares Brasil afora.
Agora, claro que a coisa toda também vai caminhar para a estruturação da venda de músicas na Internet, o que beneficia também os artistas independentes, que poderão se mostrar mais e depender ainda menos de intermediários para vender seus trabalhos. Já dos outros assuntos, ficaria mesmo para a mesa de bar, onde todo mundo jura que é especialista em qualquer assunto.
Saí dos estúdios da MTV debaixo de uma garoa fina que se intensificou ainda no caminho de casa. Fui embora ainda sem saber o que cada um dos convidados queria expressar e saí de lá sem fazer ideia do que seria concreto no que cada um deles defendeu e do que podemos esperar da venda de música naquele futuro próximo que estamos esperando. Mas atravessei as portas da emissora com as minhas ideias acerca do assunto mais em ordem e deitei pra dormir sabendo que, no meio de tanta certeza, ninguém sabe é de nada.
Assista aos vídeos dos outros blocos do debate.
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